Avaria deixa Europa às escuras
Todos os países da Europa ocidental foram afectados, na noite de sábado, por cortes de corrente devido a uma avaria na rede eléctrica alemã, que se repercutiu instantaneamente através do sistema de transporte europeu.
O mercado europeu de energia ameaça a soberania e segurança dos Estados
O súbito colapso no fornecimento de energia foi inicialmente relacionado com a desactivação temporária de duas linhas de alta tensão no noroeste da Alemanha, controladas pelo grupo E.ON, que terá provocado um défice de 10 mil megawats, cerca de dez por cento do consumo total naquele momento e o equivalente a uma dezena de centrais nucleares.
Todavia, o facto de se tratar de uma mera operação de rotina (destinada a permitir a passagem de um navio de cruzeiro no rio Ems), remete para a eventualidade de outras causas.
Assim, embora admitindo que a paragem das linhas concorreu para o sucedido, o porta-voz do grupo de energia alemão E.ON, Christian Schneller, enjeitou responsabilidades, sublinhando que não podia ser a única explicação para a avaria de proporções continentais.
A RWE, um outro grande consórcio germânico do sector, foi mais assertiva ao considerar que a falha eléctrica se deveu à descida acentuada das temperaturas no país para valores negativos, o que fez disparar o consumo e gerou um «sobreaquecimento» da rede alemã. Indirectamente, a RWE aludia assim ao estado de degradação da infra-estrutura, aspecto que o governo alemão aponta como uma crítica insistente aos operadores privados.
Cidades apagadas
O facto é que, em apenas alguns segundos, eram 21,10 horas, milhões de lares na Alemanha, França, Suíça Itália e Espanha, mas também, em menor escala, em Portugal, Bélgica, Holanda, Croácia, Áustria e República Checa ficaram sem energia eléctrica. A linha de transporte de energia entre Espanha e Marrocos foi suspensa durante uma hora, período necessário à reactivação de novas capacidades de produção nos diferentes países.
Em França, onde a avaria teve maior incidência, boa parte da capital ficou às escuras (centro, este e oeste), o mesmo acontecendo em outras importantes cidades e localidades. Cerca de uma dezena de comboios de alta velocidade pararam no norte e centro do país, registando atrasos entre meia e uma hora.
Curiosamente, no momento do corte energético (o maior desde há trinta anos), a capacidade de produção era suficiente, segundo afirmou Pierre Bornard, membro da direcção da RTE (rede de transporte de electricidade), revelando que a França até estava a exportar electricidade para a Bélgica e Reino Unido. O problema é que no sistema europeu «todos são solidários, é uma máquina única» (Le Monde, edição de domingo).
O incidente suscitou as mais variadas reacções e reflexões, tanto mais que a catástrofe podia ter sido muito pior: «Se não tivéssemos feito os cortes selectivos, 100 a 200 milhões de europeus teriam ficado sem energia durante várias horas ou mesmo vários dias», alertou o presidente da RTE, André Merlin (ibidem, edição de terça-feira).
Dependência perigosa
A questão foi de imediato colocada no centro da reunião interministerial do governo francês, realizada na segunda-feira, cujos trabalhos (em nome datransparência democrática), foram transmitidos pelo canal público Senat.
No mesmo dia, a Comissão Europeia exigiu um inquérito às causas da ocorrência, avançando a suspeita de que o elevado número de heólicas na Alemanha poderão estar a provocar sobrecargas de tensão nos dias de muito vento.
Para o primeiro-ministro italiano tudo se resolveria com uma «autoridade comum europeia» para a energia. «É absolutamente contraditório termos várias linhas europeias e não dispormos de uma autoridade única europeia», declarou Romano Prodi.
Esta ideia é no entanto contestada pela federação da energia da central sindical francesa, CGT, para quem «a gigantesca avaria demonstra a fragilidade do sistema eléctrico europeu que conduziu à dependência da França».
A central dos trabalhadores franceses frisa que «não é com a multiplicação das auto-estradas da energia ou com a criação de um sistema de regulação europeu que os cidadãos ficarão ao abrigo de um apagão total». O que é preciso é «parar a liberalização do sector», afirma a CGT, que exige um debate aprofundado deste processo antes da desregulamentação total prevista para 1 de Julho de 2007. A segurança e a soberania energéticas correm sério risco de ficar hipotecadas às implacáveis leis do mercado e do lucro.
Todavia, o facto de se tratar de uma mera operação de rotina (destinada a permitir a passagem de um navio de cruzeiro no rio Ems), remete para a eventualidade de outras causas.
Assim, embora admitindo que a paragem das linhas concorreu para o sucedido, o porta-voz do grupo de energia alemão E.ON, Christian Schneller, enjeitou responsabilidades, sublinhando que não podia ser a única explicação para a avaria de proporções continentais.
A RWE, um outro grande consórcio germânico do sector, foi mais assertiva ao considerar que a falha eléctrica se deveu à descida acentuada das temperaturas no país para valores negativos, o que fez disparar o consumo e gerou um «sobreaquecimento» da rede alemã. Indirectamente, a RWE aludia assim ao estado de degradação da infra-estrutura, aspecto que o governo alemão aponta como uma crítica insistente aos operadores privados.
Cidades apagadas
O facto é que, em apenas alguns segundos, eram 21,10 horas, milhões de lares na Alemanha, França, Suíça Itália e Espanha, mas também, em menor escala, em Portugal, Bélgica, Holanda, Croácia, Áustria e República Checa ficaram sem energia eléctrica. A linha de transporte de energia entre Espanha e Marrocos foi suspensa durante uma hora, período necessário à reactivação de novas capacidades de produção nos diferentes países.
Em França, onde a avaria teve maior incidência, boa parte da capital ficou às escuras (centro, este e oeste), o mesmo acontecendo em outras importantes cidades e localidades. Cerca de uma dezena de comboios de alta velocidade pararam no norte e centro do país, registando atrasos entre meia e uma hora.
Curiosamente, no momento do corte energético (o maior desde há trinta anos), a capacidade de produção era suficiente, segundo afirmou Pierre Bornard, membro da direcção da RTE (rede de transporte de electricidade), revelando que a França até estava a exportar electricidade para a Bélgica e Reino Unido. O problema é que no sistema europeu «todos são solidários, é uma máquina única» (Le Monde, edição de domingo).
O incidente suscitou as mais variadas reacções e reflexões, tanto mais que a catástrofe podia ter sido muito pior: «Se não tivéssemos feito os cortes selectivos, 100 a 200 milhões de europeus teriam ficado sem energia durante várias horas ou mesmo vários dias», alertou o presidente da RTE, André Merlin (ibidem, edição de terça-feira).
Dependência perigosa
A questão foi de imediato colocada no centro da reunião interministerial do governo francês, realizada na segunda-feira, cujos trabalhos (em nome datransparência democrática), foram transmitidos pelo canal público Senat.
No mesmo dia, a Comissão Europeia exigiu um inquérito às causas da ocorrência, avançando a suspeita de que o elevado número de heólicas na Alemanha poderão estar a provocar sobrecargas de tensão nos dias de muito vento.
Para o primeiro-ministro italiano tudo se resolveria com uma «autoridade comum europeia» para a energia. «É absolutamente contraditório termos várias linhas europeias e não dispormos de uma autoridade única europeia», declarou Romano Prodi.
Esta ideia é no entanto contestada pela federação da energia da central sindical francesa, CGT, para quem «a gigantesca avaria demonstra a fragilidade do sistema eléctrico europeu que conduziu à dependência da França».
A central dos trabalhadores franceses frisa que «não é com a multiplicação das auto-estradas da energia ou com a criação de um sistema de regulação europeu que os cidadãos ficarão ao abrigo de um apagão total». O que é preciso é «parar a liberalização do sector», afirma a CGT, que exige um debate aprofundado deste processo antes da desregulamentação total prevista para 1 de Julho de 2007. A segurança e a soberania energéticas correm sério risco de ficar hipotecadas às implacáveis leis do mercado e do lucro.