Deus os fez Deus os juntou
Aqui há tempos, a Europa foi abalada pela notícia de que os EUA torturavam os milhares de cidadãos de dezenas de países que mantinham como prisioneiros em cadeias espalhadas por todo o mundo (Europa incluída). Os líderes europeus escandalizaram-se: como é possível que o país berço dos direitos humanos, mãe da democracia, pátria da liberdade, cometa tamanho atropelo democrático? E, ofendidos nos seus brios democráticos, exigiram explicações. Que vieram rápidas: de avião: a inimitável Condollezza Rice voou até à Europa e, num ápice, com o pragmatismo que a caracteriza, pôs tudo em pratos limpos. A prova provada de que os EUA não praticam torturas, disse a senhora, está escrita e pode ser lida por qualquer pessoa: a constituição dos EUA não permite a prática de torturas. Tomem lá que é para aprenderem!
Os aparentemente desassossegados líderes europeus sossegaram, respiraram fundo, trocaram sorrisos e foram-se deitar com as consciências tranquilas.
Agora, as coisas já não são bem assim: a Câmara de Representantes e o Senado dos EUA aprovaram a prática da tortura. E fizeram-no sem violar a constituição do seu país. Como? É simples: decretaram que a tortura não é tortura se for praticada pelos EUA. Ou seja, práticas como a tortura do «sono», a tortura da «estátua» e outras semelhantes, algumas conduzindo mesmo à morte do interrogado, passam a ser democraticíssimas formas de «combate ao terrorismo». Mais: esta decisão tem carácter retroactivo, pelo que, os torturados de Guantanamo, Abu Gharib, etc, etc, não foram torturados...
Tudo isto quer dizer que, a partir de hoje, qualquer cidadão que, em qualquer país do mundo, for considerado, pelos EUA, suspeito de terrorismo, ficará sujeito não à tortura, mas à tortura democrática, legal, em liberdade.
Bush, o bando de democratas que o rodeia e os não menos democratas líderes mundiais que, rastejando a seus pés, os louvam e incensam, vão mais longe, em 2006, do que os ditadores fascistas portugueses o foram noutros tempos. Salazar e Caetano consideravam mesmo tortura o que era tortura. Só que - tão cristianíssimos como democraticíssimos são os seus colegas dos EUA de hoje - negavam praticá-la e espalhavam por todo o mundo que se tratava de «campanhas dos comunistas», os quais, dizia Caetano, «chamam torturas a interrogatórios de três ou quatro horas.»
Salazar & Caetano, Bush & Rice: Deus os fez Deus os juntou.
Os aparentemente desassossegados líderes europeus sossegaram, respiraram fundo, trocaram sorrisos e foram-se deitar com as consciências tranquilas.
Agora, as coisas já não são bem assim: a Câmara de Representantes e o Senado dos EUA aprovaram a prática da tortura. E fizeram-no sem violar a constituição do seu país. Como? É simples: decretaram que a tortura não é tortura se for praticada pelos EUA. Ou seja, práticas como a tortura do «sono», a tortura da «estátua» e outras semelhantes, algumas conduzindo mesmo à morte do interrogado, passam a ser democraticíssimas formas de «combate ao terrorismo». Mais: esta decisão tem carácter retroactivo, pelo que, os torturados de Guantanamo, Abu Gharib, etc, etc, não foram torturados...
Tudo isto quer dizer que, a partir de hoje, qualquer cidadão que, em qualquer país do mundo, for considerado, pelos EUA, suspeito de terrorismo, ficará sujeito não à tortura, mas à tortura democrática, legal, em liberdade.
Bush, o bando de democratas que o rodeia e os não menos democratas líderes mundiais que, rastejando a seus pés, os louvam e incensam, vão mais longe, em 2006, do que os ditadores fascistas portugueses o foram noutros tempos. Salazar e Caetano consideravam mesmo tortura o que era tortura. Só que - tão cristianíssimos como democraticíssimos são os seus colegas dos EUA de hoje - negavam praticá-la e espalhavam por todo o mundo que se tratava de «campanhas dos comunistas», os quais, dizia Caetano, «chamam torturas a interrogatórios de três ou quatro horas.»
Salazar & Caetano, Bush & Rice: Deus os fez Deus os juntou.