Só um jogo de vídeo

Margarida Botelho
«Mercenários 2 – O Mundo em Chamas» é um jogo de video que vai sair para o ano, certamente entre dezenas de milhares de outros que alimentam - ou criam, vá-se lá saber - a necessidade de jogar no computador ou na consola. O que o torna especial é tratar-se de um simulador da invasão da Venezuela por forças mercenárias dos EUA em 2007, para derrotar um «tirano sedento de poder» que se apropria das reservas de petróleo e «transforma o país numa zona de guerra». Inclui cenários reais das ruas e edifícios de Caracas, da companhia petrolífera nacional e imagens de satélite verdadeiras.
O Governo venezuelano denunciou o lançamento do jogo como um elemento da «campanha de terror psicológico» dos EUA contra o país. A produtora diz que «é só um jogo de vídeo».
A polémica tem sido grande em todo o mundo. Tão grande, que a produtora do jogo se viu obrigada a publicar no seu sítio na internet um esclarecimento: «nunca foi contactada por qualquer agência do Governo dos Estados Unidos acerca do desenvolvimento do jogo.» Mas é preciso que as histórias dos jogos sejam plausíveis, acrescenta. Lá está: para esta gente, é plausível que a Venezuela seja atacada militarmente pelos EUA.
Tal como o título deixa claro, este jogo uma sequela. Na primeira edição, os mercenários tinham como missão matar um general do exército da Coreia do Norte (sic), portador do código que daria início a uma guerra nuclear. O objectivo n.º 1 era, claro, garantir a segurança do mundo.
A produtora tem tradição neste tipo de jogos. Recebeu 5 milhões de dólares para fazer um jogo de treino para os soldados do Exército dos EUA, em que estes se confrontam com cenários de combate urbano. Uma das missões do jogo chama-se «Dia das Eleições» e os soldados devem garantir a segurança de um acto eleitoral num país onde as pessoas lhes chamam «porcos capitalistas». Porque será?
O jogo é produzido por uma das empresas de George Lucas – a Pandemic Bioware Studios, financiada em 300 milhões de dólares por uma outra, a Elevation Partners, que tem como sócio Bono Vox, o caridoso vocalista dos U2. Bono é conhecido nos últimos anos pelas suas encenações de contra-poder, participando em concertos pela abolição da dívida aos países africanos e reunindo depois com os senhores do G8. E assim cai mais uma máscara de falso pacifista e humanizador do capitalismo.
Quem disse que não havia ofensiva ideológica?


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