MAS volta a vencer eleições na Bolívia

Povo ratifica revolução

O Movimento ao Socialismo venceu as eleições constituintes e o referendo sobre autonomia realizados domingo na Bolívia. Morales diz que a vitória abre caminho à transformação social.

«O MAS superou em seis por cento o resultado das presidenciais»

Muito embora os resultados definitivos das eleições para a Assembleia Constituinte da Bolívia e do referendo sobre a autonomia regional dos nove departamentos que constituem o país ainda não tenham sido divulgados, os dados disponíveis indicam que o partido do actual presidente, Evo Morales, alcançou a vitória em ambos os sufrágios.
As projecções avançadas durante a noite de domingo e o dia de segunda-feira garantem mesmo que o MAS superou em pouco mais de seis por cento os votos obtidos no escrutínio presidencial de Dezembro passado, quando Morales derrotou Jorge Quiroga, candidato apoiado pelo partido de direita Podemos.
Reagindo aos resultados preliminares, Morales confirmou que o MAS conquistou a maioria absoluta na Assembleia Constituinte, com cerca de 60 por cento dos votos e 134 lugares num total de 255.
Quanto ao referendo, a formação política de esquerda, que incitou o povo a rejeitar a proposta fragmentária, granjeou 56 por cento das intenções expressas nos boletins, isto apesar do «sim» ter vencido nas quatro regiões orientais da Bolívia, precisamente as que, apesar de menos populosas, conservam a maioria dos recursos naturais cujo controlo tem sido alvo de disputa entre o Estado e o capital nacional e internacional, Beni, Pando, Tarija e Santa Cruz.
Nesta última, a oligarquia boliviana e os agentes dos interesses das multinacionais no país têm-se manifestado mais abertamente contra a política progressista e patriótica de Morales, chegando a ameaçar com a constituição de milícias armadas e a declaração de independência face ao governo de La Paz.
A maioria obtida pelos autonomistas em Santa Cruz contrasta, no entanto, com a representatividade do Podemos e do MAS na futura Assembleia Constituinte, ambos empatados com 19 deputados eleitos, facto que pode funcionar como contrabalanço aos anseios mais reaccionários dos latifundiários e proprietários industriais da província.
Demonstrativo da divisão do país em dois projectos políticos antagónicos é ainda a perda de peso eleitoral do partido que durante 50 anos dominou a cena política boliviana, o MNR, e a dispersão dos restantes assentos parlamentares por outras 11 siglas. Entre estas formações, que dividem entre si meia centena de deputados, existem algumas que subscrevem as orientações políticas levadas a cabo pelo governo de Evo Morales, o que a apesar de não chegar para estabelecer uma maioria de dois terços no hemiciclo, dá mais força ao projecto transformador do MAS.

Direita tenta intimidar

Da parte da Comissão Eleitoral, o balanço do acto é positivo. Salvador Romero, responsável máximo da CNE disse que as eleições decorreram com normalidade, tendo-se verificado apenas um incidente, quando um protesto de agricultores que supostamente se manifestavam contra «todos os partidos» degenerou em violência com a intervenção da polícia de choque. O chefe dos observadores da organização de Estados Americanos (OEA), Horácio Serpa, corroborou as palavras de Romero e afirmou que nas assembleias de voto tudo se realizou com «civismo» e «entusiasmo».
Igualmente optimistas quanto à regularidade das eleições foram as declarações do ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, isto apesar de não deixar de denunciar alguns casos de intimidação e tentativa de compra de votos por parte da direita.
Segundo Quintana, nos Estados orientais, os oligarcas procuraram aliciar o povo com a entrega de electrodomésticos. Menos «doces» foram os métodos usados contra instalações e activistas do MAS, revelou o membro do executivo, havendo exemplos de agressões físicas e tentativas de limitar a liberdade de escolha do povo.

Morales reitera projecto

Estas eleições abrem caminho ao aprofundamento da «revolução democrática e pacífica», considerou Morales na ressaca do sufrágio.
Para o presidente boliviano, a nova constituição pode permitir a substituição do actual «Estado mendigo» por um «outro regime económico» que não seja refém de «um grupo de famílias» que «saquei e rouba» os recursos nacionais de gás, hidrocarbonetos e minério.
A refundação da Bolívia tem sido uma das expressões do presidente para caracterizar o projecto económico e social que, garante, melhor defende os interesses do povo boliviano, mas para isso Morales necessita de redigir um novo texto fundamental para o país. Não obstante, na prática o governo liderado pelo MAS tem vindo a implementar medidas estruturantes que são os primeiros passos para a transformação económica e social da Bolívia, entre as quais se destacam a adesão à ALBA e ao TCP, juntamente com Cuba e a Venezuela, a nacionalização dos recursos petrolíferos, em 1 de Maio último, e a aprovação da Lei da Reforma Agrária. Para Agosto, Morales já prometeu «mudar a face» da propriedade fundiária no país bastando-lhe para tal fazer cumprir as normas entretanto aprovadas.


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