Greve e manifestações continuam no Nepal

Povo e oposição exigem democracia

No Nepal, mantém-se o braço de ferro entre o rei Gyanendra e a oposição. O povo manifesta-se diariamente nas ruas e os protestos alastraram a todas as províncias do país.

«Já foram presos mais de três mil ac­ti­vistas po­lí­ticos»

Ao fim de treze dias de greve geral e manifestações convocadas pela oposição nepalesa para protestar contra a ditadura imposta pelo rei Gyanendra, o país encontra-se totalmente mergulhado no conflito político. Todos os dias, em todas as províncias, milhares de pessoas saem para as ruas desafiando o recolher obrigatório decretado pelo monarca. Entre as reivindicações populares, destaca-se o restabelecimento da liberdade de acção política e de expressão, e a convocatória de uma assembleia constituinte, mas em muitas cidades a exigência mais ouvida apela mesmo à deposição do soberano e ao derrube da coroa.
Fábricas, transportes públicos, serviços e estabelecimentos comerciais têm as portas encerradas. Ninguém vai trabalhar.
Na capital, Katmandu, a par dos protestos, começam a escassear bens de primeira necessidade, como os géneros alimentares e os combustíveis.
Num quarteirão maioritariamente ocupado por agentes de viagens e hotéis, promotores turísticos e turistas também protestam desde segunda-feira. Informações divulgadas por agências internacionais afirmam que pelo menos uma dezena de estrangeiros foram detidos e acusados de se manifestarem em prol da democracia e pela resolução negociada da crise no Nepal. Entre os encarcerados, encontram-se turistas alemães, israelitas, russos e franceses.
A tudo isto, continua a responder o rei com extraordinária violência. As autoridades disparam balas e granadas de gás lacrimogéneo contra os manifestantes. Em Thamel, os feridos contaram-se às centenas na sequência de combates de rua entre polícia e opositores. Desde o passado dia 7 de Abril, já foram presos mais de três mil activistas políticos, estudantes, trabalhadores e jornalistas, com destaque para os militantes do Partido Comunista do Nepal (PCN).

Opo­sição não se deixa en­ganar

Na sexta-feira da semana passada, dia em que se assinalou a passagem do ano no Nepal, o rei «ofereceu» à oposição o caminho do diálogo. As palavras foram entretanto secundadas pelo ministro do Interior, Kemal Thapa, mas a plataforma de sete partidos que se opõem à ditadura exigiu propostas concretas para aceitar sentar-se à mesa das negociações.
Sharma Oli, dirigente do PCN, considerou a proposta do rei como uma tentativa de enganar a comunidade internacional e uma manobra visando a diminuição da contestação popular, mas em nenhuma parte do discurso mencionou o restabelecimento das liberdades democráticas, refeiu.
Na mesma linha pronunciou-se o Partido do Congresso do Nepal, uma das mais influentes formações políticas do país, para quem, na actual conjuntura, não estão reunidas as condições para negociar.

Jor­na­listas de­tidos

Entre os milhares de detidos pelas autoridades de Katmandu, encontram-se mais de três dezenas de jornalistas que participaram numa manifestação, quarta-feira da semana passada, organizada pela Federação Nepalesa de Jornalistas.
Entre as reivindicações, os cerca de cem jornalistas que se juntaram na capital do Nepal exigiram o restabelecimento da liberdade de imprensa, mas a polícia respondeu com nova onda repressiva e detenções arbitrárias.
Desde Fevereiro de 2005, quando o rei Gyanendra dissolveu o parlamento, a maioria dos redactores tem-se pronunciado abertamente contra a repressão e a censura.


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