Cenário de guerra ensaiado em 2004

Grã-Bretanha e EUA preparam ataque ao Irão

Forças britânicas e norte-americanas efectuaram manobras conjuntas em 2004 visando a eventual invasão do Irão, denunciou sábado o jornal The Guardian.

Planos militares de Washington e Londres para ataque a Teerão

Os exercícios militares, que decorreram sob o nome de código «Hotspur 2004», decorreram na base americana de Fort Belvoir, na Virgínia, em Julho, cerca de um ano depois de o presidente americano, George W. Bush, ter dado por terminada a guerra no Iraque.
Segundo o periódico britânico, um porta-voz do Ministério da Defesa do Reino Unido minimizou a importância dos exercícios dizendo que tais acções «são feitas para testar os agentes em situações-limite em cenários fictícios», para as quais são usados «países e situações inventados com o emprego de mapas reais».
No caso, o exercício visava um país imaginário do Oriente Médio chamado Korona, cujas fronteiras correspondiam exactamente às do Irão, segundo o Guardian, e previa uma invasão no ano de 2015.
Ainda de acordo com aquele jornal, a concepção das manobras militares coube ao Comando Central norte-americano, responsável pela área de operações no Médio Oriente e Ásia Central, e do Comando Estratégico, responsável pelas operações com bombas de longo alcance e bombas nucleares.
A «coincidência» da simulação com o crescendo de ameaças ao Irão é o mínimo estranha, já que a polémica em torno da alegada ameaça do programa nuclear iraniano não se colocava na altura.
Vale a pena lembrar, por outro lado, que apesar do governo iraniano garantir que o referido programa visa fins exclusivamente pacíficos, a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, assegurou a 12 de Abril que as Nações Unidas deveriam considerar a adopção de «medidas fortes» contra o Irão.

Planos militares em curso

Washington acusa Teerão de pretender levar a cabo o enriquecimento de urânio para desenvolver armas nucleares, violando desta forma o Tratado de Não Proliferação (TNP), mas a República Islâmica rejeita as acusações e considera que a presente crise foi criada artificialmente pela Casa Branca como pretexto para impor sanções internacionais e justificar um ataque.
Teerão denuncia igualmente a hipocrisia das potências ocidentais, que «esquecem» sistematicamente o caso de Israel, país suspeito de possuir centenas de ogivas nucleares, para cuja construção o Reino Unido terá fornecido material no passado.
O paralelo com o sucedido no caso do Iraque é evidente. Enquanto o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jack Straw, insiste que uma invasão do Irão é «inconcebível» e reitera que o Reino Unido é favorável a uma «solução diplomática para o conflito», a imprensa internacional regista que cada vez aparecem mais evidências de planos militares de Washington e Londres para um ataque contra Teerão.
Um dos primeiros a levantar a questão, lembra o Guardian, foi William Arkin, antigo oficial dos serviços secretos militares, que na sua coluna para o Washington Post online escreveu: «O sector militar dos Estados Unidos está quase pronto, mesmo quase pronto, fazendo planos de guerra e opções, estudando mapas, mudando a sua maneira de pensar».
De registar, por outro lado, que a administração Bush e a chamada ‘troika’ europeia (Grã-Bretanha, França e Alemanha) conseguiram já que a Organização Internacional de Energia Atómica levasse o caso do Irão ao Conselho de Segurança da ONU, onde no final deste mês o respectivo presidente, Mohammed ElBaradei, deverá apresentar um relatório sobre as suas diligências junto das autoridades iranianas.

O legado de Bush

Num recente artigo publicado no New Yorker, o jornalista Seymour Hersh revela que a possibilidade de um ataque nuclear norte-americano contra o Irão é encarada seriamente pela administração Bush.
Uma das fontes de Hersh é um «conselheiro do Pentágono na guerra contra o terrorismo», segundo o qual o ponto de vista de Washington é que «permitir que o Irão tenha a bomba não está em cima da mesa. (...) Todo o debate interno é sobre qual o caminho a seguir».
«A Casa Branca acredita que a única forma de resolver o problema é mudando a estrutura de poder no Irão, e isso significa guerra», afirma a fonte. O perigo, sublinha, é que isso «também reforça a convicção dos iranianos de que para defender o país a única via é ter capacidade nuclear».
Outra fonte de Hersh, um «consultor do governo com estreitas ligações à liderança civil do Pentágono», afirma que Bush acredita que deve fazer «o que nenhum Democrata ou Republicano, se eleito no futuro, teria coragem para fazer», e que «salvar o Irão vai ser o seu legado».
O «legado» de Bush passa, segundo as fontes citadas por Hersh, por uma «campanha de bombardeamentos continuada contra o Irão que humilhe os dirigentes religiosos e leve a população a revoltar-se e a derrubar o governo».


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