Contra a legislação xenófoba
milhares manifestam-se nos EUA

Imigrantes mostram a força da luta

John Catalinotto
O mês de Março e o primeiro dia de Abril marcaram o arranque da luta dos imigrantes ilegais nos EUA. Para o próximo dia dez está agendado novo protesto contra a discriminação e a exploração.
O próximo grande protesto, apelidado de «Dia de Acção Nacional», está agendado para 10 de Abril e resulta da coordenação de diversas manifestações regionais em seis grandes metrópoles, congregando estruturas laborais, de imigrantes, de direitos civis, religiosas e políticas. Uma coligação de âmbito nacional começou ainda a organizar uma greve e um boicote para o 1.º de Maio, por forma a ilustrar a importância dos imigrantes na economia norte-americana.
Os senhores dos grandes negócios norte-americanos pretendem acordos como o NAFTA e o FTAA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, ou ALCAN, e Acordo de Livre Comércio das Américas, ou ALCA, nas siglas portuguesas, respectivamente), para imporem o seu programa neoliberal na América Latina. O primeiro, expulsou milhões de camponeses mexicanos das respectivas terras forçando-os a procurar trabalho no Norte. Agora, a consciência de classe dos trabalhadores da América Latina está a trazer a luta continental contra o neoliberalismo para os EUA.
Dezenas de milhares de pessoas marcharam, dia 1 de Abril, pela ponte de Brooklyn até à baixa de Manhattan, exigindo respeito e legalização para os cerca de 12 milhões de trabalhadores imigrantes indocumentados. Esta foi a última iniciativa de uma onda de manifestações de massas que varreram o país, de San Diego a Boston, desde que foi aprovada na Câmara dos Representantes, no passado dia 16 de Dezembro, a xenófoba lei HR-4437.

Vozes de protesto por todo o país

No início de Março, dia 10, 200 mil protestaram em Chicago. Quinze dias depois, mais de um milhão de pessoas invadiu as ruas de Los Angeles, a maioria dos quais de origem mexicana, comunidade que representa metade dos imigrantes indocumentados nos EUA. Estas iniciativas de massas quase espontâneas espalharam-se em protestos similares por toda a Califórnia e em cidades como Phoenix, Denver, Dallas, Houston, Milwaukee, Detroit, Clevland e Filadélfia. Em Boston, grupos de imigrantes polacos, irlandeses, portugueses e cabo-verdianos juntaram-se à marcha.
Estudantes do secundário do Sudoeste do país também saíram às ruas apoiados pelos professores e mesmo alguns administradores escolares. Houve liceus em que os jovens galgaram os portões cerrados a cadeado para aderirem aos protestos. A região Sudoeste dos EUA fazia parte do México antes da campanha expansionista norte-americana e das guerras da década de 40 do século XIX.
Gente de toda a América do Sul e Central e também do Caribe marcou presença na ponte de Brooklyn, a maioria dos quais jovens trabalhadores com as respectivas famílias, exigindo: a rejeição da HR-4437, também conhecida como o «Projecto do Rei Sensenbrenner»; o reconhecimento legal dos trabalhadores indocumentados; o respeito devido a milhões de pessoas que, mesmo sem documentos, não deixam de pagar os impostos e de cumprir as leis americanas.
Muitos transportavam bandeiras do México, mas também se vislumbravam emblemas da Guatemala, de El Salvador, das Honduras, e de quase todos os países do Caribe e da América do Sul, incluindo do Chile e do Uruguai, caminhando em direcção aos arranha-céus de Manhattan com a Estátua da Liberdade em pano de fundo.
Juntamente com inúmeros trabalhadores cuja origem é a Sul do Rio Grande, encontravam-se imigrantes da China, da Coreia do Sul, das Filipinas, da Irlanda e de muitas nações do Sul da Ásia. Estes últimos juntaram a sua voz às palavras de ordem gritadas em castelhano, como «Si se puede» e «El pueblo unido jamás será vencido». Outro slogan muito ouvido foi «Bush, escuta, o povo está em luta».

Discriminação está na lei

A HR-4437, apresentada pelo deputado James Sensenbrenner, eleito pelo Estado do Wisconsin, é o mais reaccionário dos 11 projectos actualmente em discussão no Congresso. Para além de criminalizar grande parte das comunidades de imigrantes, o projecto criminaliza professores do ensino público, familiares de imigrantes, trabalhadores de associações religiosas e comunitárias cuja principal tarefa é prestar assistência aos imigrantes indocumentados. Este e alguns dos restantes projectos propõem a construção de um muro de 700 quilómetros na fronteira entre o México e os EUA.
Em comparação, dois outros projectos - os apresentados pelos senadores McCain e Kennedy, e o proposto por Specter - parecem mais progressistas. Mesmo nestes casos, o conteúdo das propostas descrevem os indocumentados como «alienígenas ilegais», insultando-os e insultando as suas legítimas aspirações e direitos a estabelecerem-se legal e permanentemente nos EUA. O projecto McCain-Kennedy pretende criar uma nova categoria para os vistos temporários, abrigando-os no chamado «programa de trabalhadores convidados».
Os diferentes projectos representam o fosso entre os capitalistas que querem continuar a explorar os já mal pagos trabalhadores imigrantes sem lhes permitirem o acesso a quaisquer direitos civis, e os racistas da extrema-direita, que pretendem interromper completamente os fluxos migratórios. Nenhum destes projectos satisfaz as exigências dos trabalhadores imigrantes, que são já cinco por cento da força de trabalho e desempenham um papel vital na economia, sobretudo nos sectores agrícola, de construção civil e de serviços. Os trabalhadores imigrantes estão a tentar usar esse peso, esse papel central na economia para imporem as suas próprias reclamações.


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