Constituinte contra o neoliberalismo
O Congresso da Bolívia aprovou a convocação de uma Assembleia Constituinte, primeiro passo para, nas palavras do presidente, Evo Morales, «acabar com o neoliberalismo vigente».
«O tempo em que os EUA “recomendavam” chefes militares e ministros acabou»
As leis Especial de Convocatória da Assembleia Constituinte e de Referendo Vinculativo sobre as Autonomias foram aprovadas, sábado passado, por unanimidade no parlamento de La Paz. O recentemente eleito chefe de Estado não tardou em promulgar os decretos, considerando-os como «o início da revolução democrática e cultural na Bolívia». No dia 2 do próximo mês de Julho, abre-se um novo capítulo no processo de transformação andino, mas nas ruas da capital boliviana, as manifestações populares de regozijo já se fizeram notar.
Na sessão oficial de assinatura presidencial, estiveram presentes dirigentes populares e regionais, e foi perante estes que Morales recordou os cerca de 300 cidadãos bolivianos mortos pelas autoridades durante as lutas populares em 2000. «Não morreram em vão», disse.
O presidente considerou que o processo histórico de luta pelos recursos naturais, a terra e a soberania conhece agora uma nova fase que permitirá «mudar o modelo económico neoliberal vigente», por isso apelou para que «cada boliviano se converta num soldado da revolução».
Começar pelas estruturas
Sobre o país que quer fazer renascer, Evo Morales afirmou que será um nação de «igualdade, justiça social e onde ninguém seja discriminado por razões de etnia». Para que tais objectivos sejam cumpridos e a nova constituição não seja letra morta, as concessões ilegais das riquezas fundamentais do país têm que «regressar às mãos do povo», sublinhou ainda o presidente a respeito do oligopólio que as transnacionais e o capital local detém sobre o gás natural e o minério, impedindo, simultaneamente, a redistribuição equitativa do rendimento nacional e o desenvolvimento das forças produtivas existentes numa lógica soberana.
Nas próximas semanas estão previstas o arranque de acções de esclarecimento e uma campanha que visa dotar as populações rurais de cartões de eleitor. Paralelamente, o governo liderado pelo Movimento para o Socialismo (MAS, na sigla em castelhano), tem em marcha um programa de alfabetização.
Soberania continua ameaçada
No mesmo dia que promulgou a legislação conducente à refundação da Bolívia, Morales insurgiu-se contra a ingerência norte-americana no país.
Em causa está a suspensão de auxílio e fundos militares, no valor de 300 mil dólares, por parte dos EUA, isto depois do governo de La Paz ter recusado substituir o comandante militar de uma unidade antiterrorismo.
Em carta dirigida ao executivo, o adido militar norte-americano na Bolívia, Daniel Barreto, deixou claro que ou Morales cedia às ordens de Washington, ou acabava o programa de cooperação militar.
Sublinhando que apesar da Bolívia ser um país pobre, não vende a sua dignidade, Morales acrescentou que os tempos em que os EUA «recomendavam» chefes militares e ministros acabaram.
Desde a tomada de posse de Evo Morales, em Janeiro, que os EUA têm vindo a exercer fortes pressões sobre o governo boliviano, nomeadamente em matéria de estruturação da hierarquia militar, a qual, historicamente desempenhou um papel contra-revolucionário e antipopular.
Recorde-se também que o MAS recusou conceder imunidade às tropas norte-americanas no país, facto que irritou Washington. Quanto à entrega dos mísseis terra-ar do exército da Bolívia aos EUA, o executivo ordenou a instauração de um processo judicial no ministério público.
Na sessão oficial de assinatura presidencial, estiveram presentes dirigentes populares e regionais, e foi perante estes que Morales recordou os cerca de 300 cidadãos bolivianos mortos pelas autoridades durante as lutas populares em 2000. «Não morreram em vão», disse.
O presidente considerou que o processo histórico de luta pelos recursos naturais, a terra e a soberania conhece agora uma nova fase que permitirá «mudar o modelo económico neoliberal vigente», por isso apelou para que «cada boliviano se converta num soldado da revolução».
Começar pelas estruturas
Sobre o país que quer fazer renascer, Evo Morales afirmou que será um nação de «igualdade, justiça social e onde ninguém seja discriminado por razões de etnia». Para que tais objectivos sejam cumpridos e a nova constituição não seja letra morta, as concessões ilegais das riquezas fundamentais do país têm que «regressar às mãos do povo», sublinhou ainda o presidente a respeito do oligopólio que as transnacionais e o capital local detém sobre o gás natural e o minério, impedindo, simultaneamente, a redistribuição equitativa do rendimento nacional e o desenvolvimento das forças produtivas existentes numa lógica soberana.
Nas próximas semanas estão previstas o arranque de acções de esclarecimento e uma campanha que visa dotar as populações rurais de cartões de eleitor. Paralelamente, o governo liderado pelo Movimento para o Socialismo (MAS, na sigla em castelhano), tem em marcha um programa de alfabetização.
Soberania continua ameaçada
No mesmo dia que promulgou a legislação conducente à refundação da Bolívia, Morales insurgiu-se contra a ingerência norte-americana no país.
Em causa está a suspensão de auxílio e fundos militares, no valor de 300 mil dólares, por parte dos EUA, isto depois do governo de La Paz ter recusado substituir o comandante militar de uma unidade antiterrorismo.
Em carta dirigida ao executivo, o adido militar norte-americano na Bolívia, Daniel Barreto, deixou claro que ou Morales cedia às ordens de Washington, ou acabava o programa de cooperação militar.
Sublinhando que apesar da Bolívia ser um país pobre, não vende a sua dignidade, Morales acrescentou que os tempos em que os EUA «recomendavam» chefes militares e ministros acabaram.
Desde a tomada de posse de Evo Morales, em Janeiro, que os EUA têm vindo a exercer fortes pressões sobre o governo boliviano, nomeadamente em matéria de estruturação da hierarquia militar, a qual, historicamente desempenhou um papel contra-revolucionário e antipopular.
Recorde-se também que o MAS recusou conceder imunidade às tropas norte-americanas no país, facto que irritou Washington. Quanto à entrega dos mísseis terra-ar do exército da Bolívia aos EUA, o executivo ordenou a instauração de um processo judicial no ministério público.