KOSOVO, AFINAL O CRIME COMPENSA

Rui Paz

Bush não po­deria ter tido me­lhores pro­fes­sores para a sua es­tra­tégia

Em Fevereiro iniciaram-se em Viena as chamadas conversações sobre o «futuro estatuto» do Kosovo, numa violação clara da resolução 1244 da ONU, a qual estipula que aquele território do sul da Sérvia faz parte integrante da Jugoslávia. Mas não é só no Kosovo que assistimos à subversão do direito e dos compromissos internacionais pelas potências que se arvoram em juízes, polícias e executores dos destinos dos outros povos. Sob o pretexto de nova reforma constitucional, está-se a liquidar também a República Srpska, que os acordos de Dayton consagram como um Estado sérvio constitutivo da Bósnia enquanto na Voivodina os serviços secretos ocidentais apoiam e incentivam o nacionalismo separatista. Estas violações simultâneas do direito e dos acordos internacionais só vêm confirmar que o objectivo que presidiu à agressão da NATO e das grandes potências ocidentais nos Balcãs foi e continua a ser o desmantelamento total da Jugoslávia e a destruição da Sérvia. Mais uma vez, os campeões da «democracia dos mercados» do saque imperialista, estão a demonstrar que nos tempos que correm o crime compensa, desde que os salteadores detenham a superioridade militar e consigam manter o mundo e os povos como reféns.

Convém ter presente que a Jugoslávia era o único país, não pertencente à ex-União Soviética, que não se vergou às imposições do capital internacional nem da NATO. Uma das principais cláusulas do ultimato de Rambouillet exigia a introdução da chamada «Economia de mercado» Hoje, os grandes monopólios estrangeiros devoram a indústria e os bancos jugoslavos. Procônsules alemães como Michael Stein, ex-chefe administrador do Kosovo, ou o ex-ministro Schwarz-Schilling, recentemente nomeado representante internacional na Bósnia, submetem os Balcãs aos interesses do imperialismo. As declaracões do general Reinhard ex-comandante das tropas alemãs naquela região são ilucidativas: « nosso papel político alterou-se muito com a unificação alemã. Hoje, todos os partidos aceitam que uma contribuição militar adequada faz parte do nosso conceito de soberania…sem ela o representante da União Europeia para a aplicação do pacto de estabilidade nos Balcãs nunca seria o nosso ex-ministro Bodo Hombach» (Der Spi­egel 10/2001).

Um dos aspectos mais graves em todo este processo tem sido o papel da social-democracia e o seu contributo decisivo para a diabolização da Jugoslávia e o desencadear da agressão. Enquanto, em 1999, os chefes de Estado e de Governo europeus, na sua maioria sociais-democratas e socialistas representavam na TV a comédia da «guerra humanitária», as bombas da NATO provocavam em Belgrado as primeiras vítimas inocentes. As invenções do «massacre de Rugova», do «plano ferradura», e do «campo de concentração no estádio de Pristina», fabricadas pelo Ministério da Defesa da Alemanha, deram a volta ao mundo. O então porta-voz da NATO em Bruxelas, Jamie Shea, considerou que o Ministro da Defesa e ex-presidente do Partido Socialista Europeu, Scharping «fez verdadeiramente um bom trabalho», pois «se tivessemos perdido a opinião pública na Alemanha, te-la-iamos perdido em toda a Aliança».

A social-democracia que há dezenas de anos proclamava pretender dar ao mundo lições de «socialismo democrático» converteu-se definitivamente nos Balcãs à lei do canhão e do massacre. Ainda hoje, para tentar salvar as aparências, encontra-se há anos encarcerado o ex-presidente eleito da Jugoslávia, Milosevic, sem que a farsa de julgamento, que já conduziu à demissão de um dos presidentes daquele tribunal da NATO, consiga provar as acusações que serviram de pretexto para a agressão imperialista. Bush não poderia ter tido melhores professores para a sua estratégia da chamada «guerra contra o terrorismo». A liquidação do direito internacional, a marginalização e posterior instrumentalização da ONU, a mentira das armas nucleares no Iraque, a transformação de aliados preferenciais em terroristas e vice-versa, Guantânamo e as prisões arbitrárias são hoje realidades cuja origem se situa no banditismo das grandes potências e da NATO praticado nos Balcãs.


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