Venezuela

Democracia em números

Pedro Campos
O processo revolucionário venezuelano, original a muitos títulos, avança, por muito que a oposição anti-bolivariana continue a gritar histericamente que as últimas eleições foram uma fraude e que os poderes eleitos são ilegítimos, devido a que nelas não participou parte das forças da reacção e a que a abstenção se aproximou dos 75 por cento. Na última crónica (edição de 15 de Dezembro 2005), resumíamos os pareceres da Junta Directiva do Conselho de Peritos Eleitorais da América Latina (JDCPEAL) e muito especialmente da União Europeia (UE) e da Organização dos Estados Americanos, que não alimentam qualquer simpatia pela administração de Chávez, e neles ficou claro como as eleições foram transparentes e que essa parte da oposição que decidiu boicotar o escrutínio já tinha tomado tal decisão há muito tempo.
No referido artigo, lembrava-se que as eleições foram seguidas por mais de 400 observadores internacionais, entre os quais os organismos internacionais atrás referidos, e que todos esses organismos apresentaram as suas conclusões sobre o processo eleitoral. O artigo apresentava ainda um resumo desses pareceres, estruturado, para mais fácil seguimento, em perguntas e respostas, indicando entre parênteses quem responde.
Porque essa nota saiu um tanto baralhada nas duas últimas perguntas, repetimo-las aqui para corrigir o erro.
P: Era de esperar que os partidos da oposição se retirassem das eleições?
R: A Missão observou com surpresa como a maioria dos partidos da oposição se retirou quatro dias antes da jornada eleitoral (UE).
P: É surpreendente que tenha havido uma abstenção que rondou os 75 por cento?
R: Apreciamos que estas porcentagens de participação se encontram dentro das normas internacionais para estes tipos de eleição e, por outro lado, ao fazer a comparação histórica, pudemos observar que há cifras de níveis de participação, em eleições separadas das presidenciais, que oscilam entre 23,8 por cento das eleições municipais de 2000 e 31 por cento das municipais de 2005. (Junta Directiva do Conselho de Peritos Eleitorais da América Latina).

Crise na oposição

Como resultado do erro político de ter boicotado as eleições de 4 de Dezembro, a crise está instalada nos seio de partidos como Primeiro Justiça, Acção Democrática (social-democracia) e Copei (democracia-cristã). Obedeceram servilmente as ordens de Washington e ficaram fora do poder legislativo, o que foi amplamente criticado pelos sectores da oposição que decidiram participar, e pelos principais jornais dos Estados Unidos, que catalogaram de «estúpida» a opção. Contudo, quem tiver acompanhado de perto o que tem sucedido ao longo dos últimos seis anos na evolução política da Venezuela, entenderá sem maiores dificuldades esta eutanásia política. A ter idos às urnas, com muita sorte, a oposição teria conseguido cinco ou seis por cento dos votos válidos e ficaria nua frente à opinião pública. Assim, sempre lhe fica a alternativa de afirmar – ainda que sem a menor credibilidade, claro está – que «toda» a abstenção é sua.
A verdade, no entanto, é que a democracia venezuelana está no pelotão da frente. Segundo os resultados do Barómetro Latino-americano (conduzido por CIMA, Consorcio de Investigaciones de Mercado y Asesoría, a funcionar desde 1992), a Venezuela surge como o país mais democrático da América Latina. Numa escala de 1 a 10, aparece com 7,6, à frente do Uruguai (7,1), Costa Rica (6,5), Chile (6,2) e México (5.1). A média do continente é de 5,5.
Por outro lado, 56 por cento dos venezuelanos estão satisfeitos com a sua democracia, número que desce para 43 por cento no caso dos chilenos e para 29 por cento no que toca aos colombianos.
Finalmente: 65 por cento dos venezuelanos apoiam a forma como o presidente Chávez dirige o país (índice mais elevado do que os correspondentes a Espanha e Portugal) e igualmente 65 por cento confiam nas eleições como o mecanismo idóneo e insubstituível para a preservação da democracia.


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