Venezuela

vitória e ameaças

Luís Carapinha

O pro­cesso na Ve­ne­zuela não se es­gota na sua di­mensão re­pre­sen­ta­tiva

As eleições legislativas de quatro de Dezembro na Venezuela saldaram-se por uma vitória das forças que têm em mãos o processo revolucionário bolivariano. É justo salientar a importância de mais esta vitória eleitoral, a décima primeira desde 1998, não esquecendo que o processo na Venezuela não se esgota na sua dimensão representativa.
As eleições foram globalmente reconhecidas como transparentes, apesar da acobardada desistência dos principais partidos da oposição, feita nas vésperas do acto eleitoral.
O novo parlamento será preenchido pelas diversas forças que apoiam a gestão do presidente Hugo Chávez, que conquistaram todos os 167 mandatos. A fasquia da maioria qualificada de dois terços foi obviamente suplantada, algo de que os partidos do denominado bloque del cambio não dispunham até ao momento. Estão agora representadas na assembleia legislativa novos partidos e forças políticas, destacando-se o PCV que, ao contabilizar mais de 80 mil votos, regressa ao parlamento com sete deputados eleitos nas suas listas.
Estes são factos que reflectem a diversidade e complexidade deste original processo progressista que teima em resistir e desafiar a vontade e ingerências do imperialismo.

Os inimigos da revolução bolivariana trabalham activamente na exploração das diferenças e divisões internas existentes no seu campo, potenciando os elementos susceptíveis de comprometer os objectivos do processo de mudanças em curso.
A elevada abstenção registada - cerca de 75 por cento - está a ser usada por uma oposição desacreditada e revanchista, teleguiada de Washington, para retirar legitimidade ao novo órgão eleito, e deste modo caucionar os planos e a agenda conspirativa preparados a partir da Casa Branca. Não é de mais recordar o envolvimento ostensivo dos EUA no golpe de Estado de 2002, a existência do plano Balboa, de invasão da Venezuela, as constantes provocações na zona fronteiriça com a Colômbia e os actos, reincidentes, de terrorismo. A par das denúncias, que desesperados apelos públicos nesse sentido vêm atestar, de que a opção da eliminação física do presidente Chávez, é, cada vez mais, considerada pela CIA e demais estruturas terroristas do grande capital, como forma de travar e aniquilar a revolução bolivariana. Processo, cujas implicações transcendem já amplamente os limites da pátria de Bolívar.

A «eutanásia» da oposição venezuelana, incluindo a social-democracia e democracia-cristã, anteriores forças monopolistas na cena política durante perto de 40 anos, evitou uma mais que certa e humilhante derrota nas urnas. Os media capitalistas que veiculam e suportam a campanha da alegada falta de representatividade do novo poder legislativo, são os mesmos que, por exemplo, nunca questionarão a legitimidade de um Congresso estadunidense, eleito com índices comparáveis de afluência.
Não devendo ser subestimada, a abstenção nas legislativas da Venezuela remete, essencialmente, para o contexto específico da ruptura bolivariana e das suas dificuldades. Uma realidade determinada pelas tarefas ciclópicas a que procura dar resposta esta revolução democrática, marcadamente anti-imperialista - e que se reclama hoje de um horizonte socialista -, num país de enormes disparidades sociais, habituado à marginalização de largas camadas da população, e onde a grande burguesia, economicamente poderosa e com vínculos internacionais, se pauta pela contínua e desgastante acção golpista.

A transformação da simpatia e espontaneidade das massas numa adesão mais sólida, activa e organizada passará pelo necessário fortalecimento e aprofundamento da revolução bolivariana, algo que exige tempo e a perseverança e unidade das forças comprometidas com tais objectivos.
Contra as ameaças da escalada agressiva do imperialismo, que se intensificarão em 2006, ano de eleições presidenciais, a Venezuela bolivariana continuará a contar com a solidariedade internacionalista dos comunistas e de outras forças revolucionárias.


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