Iraque

Eleições rigorosamente vigiadas

Os iraquianos votam hoje, dia 15, com o país em estado de sítio. Nos hospitais e prisões votou-se a 12, enquanto a denúncia de torturas subia de tom.

«Flagelaram-no com cabos e espetaram-lhe pregos no corpo»

O Ministério do Interior iraquiano tomou rigorosas medidas de segurança para garantir a realização das eleições legislativas que hoje, quinta-feira, têm lugar. O recolher obrigatório foi imposto dia 13 em todo o país e vigora até amanhã, dia 16, enquanto todas as fronteiras e aeroportos permanecerão encerradas até 30 de Dezembro.
Quanto às repartições públicas, foram encerradas de terça-feira a sábado, e hoje está proibida praticamente toda a circulação de veículos. As deslocações entre as cidades iraquianas foi igualmente limitada.
A segurança das principais cidades iraquianas, no dia das eleições, estará a cargo de cerca de 8000 membros das forças de elite, segundo as autoridades.
Esta é a terceira vez que os iraquianos vão às urnas, no âmbito do «processo de transição» concebido pelos EUA desde o derrube do regime de Saddam Hussein, em 2003.
Em causa está a formação do Parlamento, com 231 deputados, que deverá gerar os consensos necessários à formação do novo governo iraquiano.

Prisões clandestinas na ordem do dia

As eleições foram antecedidas por um inusitado fluxo de denúncias de violação de direitos humanos no Iraque.
Muntadhar Samarai, um general iraquiano desertor, ex-comandante das forças especiais do Ministério do Interior, revelou há dias à rádio pública francesa France Inter a localização de sete prisões clandestinas do governo interino do Iraque, onde os detidos são sistematicamente torturados.
O general afirma ter saído do país por medo de ser assassinado por agentes do governo, depois de ter dado conhecimento aos seus superiores, sem sucesso, das práticas que observou em interrogatórios de presumíveis militantes da resistência armada.
Nas declarações à France Inter, Samarai citou em particular o caso do prisioneiro Najim Taji, afirmando ter visto «as torturas terríveis que os seus carcereiros lhe aplicaram». «Deram-lhe choques eléctricas, flagelaram-no com cabos e espetaram-lhe pregos no corpo», garantiu o general.
Estas denúncias coincidem com o «desmantelamento» de uma prisão secreta - supostamente montada pelo Ministério do Interior iraquiano à revelia das autoridades norte-americana - no bairro Jadriya em Bagdad, onde estavam 170 reclusos, quase todos da minoria sunita.
O candidato sunita Saleh Mutlaq mostrou entretanto à imprensa imagens de prisioneiros torturados, e acusou o governo de reter os resultados da investigação para não ser penalizado nas urnas.
Ainda de acordo com o general refugiado em França, o local desactivado é apenas um dos vários que funcionam no Iraque, assegurando que há outras prisões clandestinas em Bagdad, designadamente na Praça Nossur, na Porta do Canal e em Raduanyia, e também fora da capital, como em Kut, Yussufiya e Saidiya.
Não deixa de ser curioso verificar que após estas denúncias e o fogo cerrado que se abateu sobre a Casa Branca, a propósito dos voos clandestinos da CIA para transporte de suspeitos para prisões clandestinas no Leste da Europa e outros pontos do mundo, as forças norte-americanas no Iraque (cerca de 150 000 efectivos) começaram a «descobrir» prisões clandestinas e testemunhos de tortura generalizada de presos a que seriam totalmente alheias.


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