EUA enredados na sua política belicista
A guerra do Iraque abriu uma brecha entre os militares e a Casa Branca. Os oficiais querem sair para evitar a derrota, Bush quer ficar para não perder a face.
«63 % da população está contra a política de Bush no Iraque» Na foto: manifestação em Nova Iorque, 1.Dez.2005
A persistente campanha da resistência iraquiana e o crescimento da oposição interna nos Estados Unidos abriu uma batalha nos círculos dirigentes de Washington. Esta batalha tornou-se evidente em meados de Novembro no Congresso dos EUA com uma resolução exigindo ao presidente que marque um calendário para a retirada das tropas do Iraque. Por detrás da resolução está uma importante diferença táctica entre departamentos do alto comando militar e da administração Bush.
A persistência dos confrontos no Iraque e o seu impacto negativo no recrutamento militar forçou esses oficiais que comandam as tropas no terreno a exigir mudanças de política. Mas o gang Bush-Cheney-Rumsfeld recusou-se a ouvi-los. Os oficiais viraram-se então para Jack Murtha, um aliado no Congresso, um experiente falcão da guerra e amigo dos militares. Murtha, um democrata da Pensilvânia, é tenente-coronel no corpo de reserva da Marinha, condecorado pelo seu papel de combatente na guerra reaccionária contra o Vietname. Foi durante décadas dirigente do subcomité de despesas militares da Câmara de Despesas Militares.
Tempestade no Congresso
Murtha causou uma tempestade no Congresso e nos média quando apresentou uma resolução na Câmara dos Representantes para que os EUA saiam do Iraque «o mais depressa possível», estimando que isso seria num prazo de seis meses. Apelou a um «reposicionamento» das forças da Marinha num país vizinho como o Kuwait onde estariam prontas para intervir, e exigiu basicamente que as forças fantoches do Iraque tomassem o lugar das norte-americanas. Durante uma conferência de imprensa e no debate na Câmara sobre esta resolução, a 17 de Novembro, Murtha explicou a sua posição. «É tempo de os trazer para casa [aos soldados]», afirmou. «As nossas tropas tornaram-se no principal alvo da resistência. Eles estão unidos contra a forças dos EUA e nós tornámo-nos num catalisador da violência. O futuro dos nossos militares está em risco», disse Murtha. «Muitos afirmam que o Exército está dividido».
Murtha disse ainda que os comandantes lhe tinham garantido que não dispunham de tropas suficientes. Ele acha que eles não podem conseguir mais tropas. «O recrutamento não está a atingir as suas quotas, apesar de ter baixado o nível de quotas.» A única solução seria o recrutamento obrigatório - o destacamento -, acrescentou, mas isso «é impossível» porque é tão impopular que ninguém no Congresso o apoiará.
As sondagens de Novembro mostram que 63 por cento da população está contra a política de Bush no Iraque.
Dirigentes do Partido Democrático como John Kerry e Hillary Clinton, contudo, recusam-se a apelar ao fim da ocupação. Deixaram esta batalha a militaristas como Murka que estão a actuar com medo de um revés que ponha em causa a máquina militar dos EUA.
Bush num beco sem saída
A 30 de Novembro, George W. Bush atacou a posição de Murka com um discurso no fórum mais seguro que conseguiu encontrar, perante cadetes da Academia Naval. Em Maio de 2003, Bush falou perante uma bandeira onde se lia «Missão cumprida». A 30 de Novembro, na bandeira lia-se «Plano para a Vitória». O seu único novo acrescento foi a descrição da resistência iraquiana como «uma combinação de rejeicionistas, saddamistas e terroristas.» Mas a sua explicação deixou de fora um largo grupo: os vulgares cidadãos iraquianos que, ultrajados pela brutal intervenção anglo-americana, juntaram esforços, apesar da suas divergências, para combater e derrotar a ocupação imperialista. No essencial, Bush disse que as tropas dos EUA devem ficar até que as forças fantoches iraquianas possam ocupar o seu lugar. Prometeu mais anos de guerra no Iraque, mais morte e sofrimento para os iraquianos, mais soldados norte-americanos mortos e feridos, e mais fundos desviados dos reduzidos programas sociais para o complexo militar-industrial.
O grande desafio
Bush argumenta que, se os EUA saírem, isso será uma vitória para a resistência, uma humilhação para os EUA [imperialismo], e um encorajamento para a resistência em todo o mundo. Murtha e os seus amigos oficiais defendem que, se os militares norte-americanos ficarem, agindo como um ocupante, isso só estimulará a resistência e contribuirá para unir os países contra as forças dos EUA. O dilema insolúvel para a classe dominante norte-americana e os seus militares é que ambos os lados têm razão.
A primeira reacção popular face a esta controvérsia é a falsa esperança de que o Congresso conseguirá de algum modo pôr fim à guerra. Mas a recusa dos jovens a alistarem-se continua.
As manifestações de 1 de Dezembro - este ano o dia dedicado a comemorar as lutas de Rosa Parks e do movimento pelos Direitos Cívicos, apoiado pelos Concelhos Municipais em dezenas de cidades norte-americanas - mostram a unidade crescente entre as exigências dos movimentos contra a guerra e anti-racistas. O desafio que agora enfrenta o movimento norte-americano contra a guerra é o de ser capaz de tirar vantagem da brecha Murtha-Bush para conseguir uma luta mais activa, militante e independente contra a ocupação.
A persistência dos confrontos no Iraque e o seu impacto negativo no recrutamento militar forçou esses oficiais que comandam as tropas no terreno a exigir mudanças de política. Mas o gang Bush-Cheney-Rumsfeld recusou-se a ouvi-los. Os oficiais viraram-se então para Jack Murtha, um aliado no Congresso, um experiente falcão da guerra e amigo dos militares. Murtha, um democrata da Pensilvânia, é tenente-coronel no corpo de reserva da Marinha, condecorado pelo seu papel de combatente na guerra reaccionária contra o Vietname. Foi durante décadas dirigente do subcomité de despesas militares da Câmara de Despesas Militares.
Tempestade no Congresso
Murtha causou uma tempestade no Congresso e nos média quando apresentou uma resolução na Câmara dos Representantes para que os EUA saiam do Iraque «o mais depressa possível», estimando que isso seria num prazo de seis meses. Apelou a um «reposicionamento» das forças da Marinha num país vizinho como o Kuwait onde estariam prontas para intervir, e exigiu basicamente que as forças fantoches do Iraque tomassem o lugar das norte-americanas. Durante uma conferência de imprensa e no debate na Câmara sobre esta resolução, a 17 de Novembro, Murtha explicou a sua posição. «É tempo de os trazer para casa [aos soldados]», afirmou. «As nossas tropas tornaram-se no principal alvo da resistência. Eles estão unidos contra a forças dos EUA e nós tornámo-nos num catalisador da violência. O futuro dos nossos militares está em risco», disse Murtha. «Muitos afirmam que o Exército está dividido».
Murtha disse ainda que os comandantes lhe tinham garantido que não dispunham de tropas suficientes. Ele acha que eles não podem conseguir mais tropas. «O recrutamento não está a atingir as suas quotas, apesar de ter baixado o nível de quotas.» A única solução seria o recrutamento obrigatório - o destacamento -, acrescentou, mas isso «é impossível» porque é tão impopular que ninguém no Congresso o apoiará.
As sondagens de Novembro mostram que 63 por cento da população está contra a política de Bush no Iraque.
Dirigentes do Partido Democrático como John Kerry e Hillary Clinton, contudo, recusam-se a apelar ao fim da ocupação. Deixaram esta batalha a militaristas como Murka que estão a actuar com medo de um revés que ponha em causa a máquina militar dos EUA.
Bush num beco sem saída
A 30 de Novembro, George W. Bush atacou a posição de Murka com um discurso no fórum mais seguro que conseguiu encontrar, perante cadetes da Academia Naval. Em Maio de 2003, Bush falou perante uma bandeira onde se lia «Missão cumprida». A 30 de Novembro, na bandeira lia-se «Plano para a Vitória». O seu único novo acrescento foi a descrição da resistência iraquiana como «uma combinação de rejeicionistas, saddamistas e terroristas.» Mas a sua explicação deixou de fora um largo grupo: os vulgares cidadãos iraquianos que, ultrajados pela brutal intervenção anglo-americana, juntaram esforços, apesar da suas divergências, para combater e derrotar a ocupação imperialista. No essencial, Bush disse que as tropas dos EUA devem ficar até que as forças fantoches iraquianas possam ocupar o seu lugar. Prometeu mais anos de guerra no Iraque, mais morte e sofrimento para os iraquianos, mais soldados norte-americanos mortos e feridos, e mais fundos desviados dos reduzidos programas sociais para o complexo militar-industrial.
O grande desafio
Bush argumenta que, se os EUA saírem, isso será uma vitória para a resistência, uma humilhação para os EUA [imperialismo], e um encorajamento para a resistência em todo o mundo. Murtha e os seus amigos oficiais defendem que, se os militares norte-americanos ficarem, agindo como um ocupante, isso só estimulará a resistência e contribuirá para unir os países contra as forças dos EUA. O dilema insolúvel para a classe dominante norte-americana e os seus militares é que ambos os lados têm razão.
A primeira reacção popular face a esta controvérsia é a falsa esperança de que o Congresso conseguirá de algum modo pôr fim à guerra. Mas a recusa dos jovens a alistarem-se continua.
As manifestações de 1 de Dezembro - este ano o dia dedicado a comemorar as lutas de Rosa Parks e do movimento pelos Direitos Cívicos, apoiado pelos Concelhos Municipais em dezenas de cidades norte-americanas - mostram a unidade crescente entre as exigências dos movimentos contra a guerra e anti-racistas. O desafio que agora enfrenta o movimento norte-americano contra a guerra é o de ser capaz de tirar vantagem da brecha Murtha-Bush para conseguir uma luta mais activa, militante e independente contra a ocupação.