Colômbia e narcotráfico

Pedro Campos
Desde há muitos anos que a rançosa oligarquia colombiana não pára de saltar de escândalo em escândalo e o governo de Álvaro Uribe Vélez, ele mesmo filho de Alberto Uribe Sierra, que formava parte do cartel Ochoa, não escapa à regra, num momento em que o actual inquilino do Palácio de Narino está empenhado em conquistar segundo período presidencial, depois de ter forçado uma reforma da Constituição que permitisse a sua reeleição.

Em simultâneo com as recentes denúncias de infiltração do DAS – Departamento Administrativo de Segurança – pelos paramilitares da extrema-direita e pelos barões da droga, que já forçaram Uribe – muito contra a sua vontade – a demitir as figuras de proa do organismo de inteligência, entre outras razões porque vendiam os expedientes policiais dos narcotraficantes aos próprios interessados, uma nova questão – agora de
dimensão internacional – arrasta outra figura grada das classes dominantes colombianas para o lavar de roupa suja na praça pública.
Num abrir e fechar de olhos, Guillermo Ocampo Ospino, até há seis anos presidente do senado colombiano, comprou várias herdades do outro lado da fronteira, em território venezuelano. Nada de mal haveria na fulgurante transformação deste político conservador em ganadeiro se a mesma não fosse mais do que uma fachada para uma multimilionária jogada de branqueamento de capitais.
A maioria da imprensa da Colômbia e da Venezuela, ambas nas mãos de famílias profundamente reaccionárias, praticamente não se referem ao assunto, não porque o desconheçam mas sim porque preferem silenciá-lo e deixar tranquilo um negócio que envolve gentes muito poderosas.
Aproveitando cumplicidades tais e sem fazer muitas ondas, Ocampo Ospino conseguiu comprar várias herdades, que totalizam 30 mil hectares de luxo com 25 mil animais. Contudo, não parece que possa comprar muitas mais....
Sabedoras das ligações das grandes famílias colombianas com o narcotráfico e do seu interesse em arrastar a Venezuela para o mesmo negócio, passando-a de país-ponte a zona de operação, as autoridades venezuelanas têm estado particularmente atentas aos casos de compra de herdades na fronteira, o que já levou à ocupação pela polícia de várias destas propriedades por suspeita de terem sido adquiridas num processo de
branqueamento de capitais. No caso concreto das compras feitas por Ocampo Ospino, as autoridades de Caracas acabam de prender o banqueiro Jesus Garcia Fuentes, membro do conselho de administração de um banco, cujo presidente, por coincidência (ou talvez não), está fugitivo da justiça por alegada co-autoria intelectual do assassinato à bomba de um fiscal que estava a investigar, entre outros, os casos dos implicados no golpe de
Estado de Abril de 2002 contra o presidente venezuelano.

A ponta de um novelo...

Em Março deste ano é detido um narcotraficante que tratava de enviar, por um correio privado internacional, umas quantas doses de cocaína para a Austrália. É julgado e condenado a 15 anos de prisão, e é aparentemente a partir desta ponta do novelo que começam a surgir os primeiros problemas para o ex–senador colombiano, residente na cidade de Manizales, no departamento de Caldas, e cujo filho seria o encarregado de receber a droga no destino.
Na herdade La Glória, localizada em território venezuelano, a polícia encontra um lote de armas de distintos calibres. O encarregado da exploração é preso e condenado e uma mulher está à espera de julgamento. Noutra propriedade de Ospino, na qual vivia a sua mulher, os investigadores encontram 3,3 quilos de cocaína cuidadosamente escondida na cozinha. Por este caso estão detidas várias pessoas, entre elas um indivíduo de nome
Santiago Villegas Delgado, administrador de Palmichal, outra herdade igualmente adquirida por Ospino com dinheiros provenientes da comercialização de drogas. Nesta exploração a polícia encontrou 5,1 toneladas de ureia, ingrediente indispensável para o processamento de cocaína.
Este caso multimilionário de branqueamento de capitais – são 25 as propriedades sob investigação, entre herdades, quintas, residências, uma fábrica de bicicletas e uma empresa processadora de leite – levou as autoridades venezuelanas a formalizar um pedido de extradição da mulher e do filho do ex –senador, assim como de vários outros membros da família, que no caso de ser atendido pela contraparte colombiana levará esses indivíduos a tribunal, e provavelmente a que façam companhia, na prisão, a Ernesto Ocampo Ospina, um dos seus irmãos.
«Boas famílias» com maus costumes.


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