Uma questão de ética
A vitória em Felgueiras, Gondomar e Oeiras das candidaturas ditas independentes não foi surpresa para ninguém, mas constituiu sem dúvida um motivo de reflexão obrigatória para partidos políticos e eleitores.
A questão que se coloca nada tem a ver com a legalidade das candidaturas, não obstante os presidentes dos três municípios em causa estarem a contas com a Justiça, suspeitos de ilícitos relacionados com a sua gestão autárquica. Dado que nenhuma condenação transitou ainda em julgado, todos mantêm o direito de elegerem e serem eleitos.
Em democracia, recorda-se, ninguém pode nem deve ser condenado antes de ser julgado. Assim, à primeira vista, poder-se-ia pensar que o eleitorado dos concelhos em questão se limitou a levar à letra o princípio da presunção de inocência legalmente reconhecido a qualquer cidadão, ou seja, o de que ninguém é culpado até ser condenado.
Vale mesmo a pena lembrar que, na nossa melhor tradição humanista, é comumente aceite que mais vale um culpado escapar à Justiça do que um inocente ser condenado.
Dito isto, cabe então perguntar o que torna chocante o facto de os eleitores de três concelhos terem votado maioritariamente em candidaturas encabeçadas por políticos sob suspeita e em rota de colisão com os respectivos partidos, cujos optaram por não os apoiarem em nome de um alegado - e súbito - desejo de transparência.
A resposta a esta questão remete-nos para o domínio da ética, pessoal e partidária, onde infelizmente não abundam exemplos dignificantes no tocante à prática política.
O mínimo que seria de esperar de políticos sérios, num caso como este, se de políticos sérios se tratasse, era o testemunho de empenhada colaboração com a Justiça e de desapego ao Poder até ao esclarecimento cabal da situação em que se encontram envolvidos.
Não foi o caso. Lançando mão de vastos recursos cuja origem também importa clarificar, os personagens desta saga enveredaram pelo populismo mais desbragado para cativar o apoio popular, fizeram ameaças mais ou menos veladas aos respectivos partidos e às instituições públicas, apresentaram-se como vítimas de alegadas manobras de perseguição e fizeram tudo o que esteve ao seu alcance para condicionar pelo voto o normal trabalho da Justiça. Para o efeito contaram com a comunicação social, que transformou em caso mediático cada uma das suas palavras e atitudes.
Seja qual for o resultado dos processos judiciais em curso, o que se passou nesta campanha eleitoral em vários concelhos do País não dignifica a política, nem os políticos, nem a democracia. São casos como estes que abrem o caminho ao desencanto e facilitam a vida aos ditadores.
A questão que se coloca nada tem a ver com a legalidade das candidaturas, não obstante os presidentes dos três municípios em causa estarem a contas com a Justiça, suspeitos de ilícitos relacionados com a sua gestão autárquica. Dado que nenhuma condenação transitou ainda em julgado, todos mantêm o direito de elegerem e serem eleitos.
Em democracia, recorda-se, ninguém pode nem deve ser condenado antes de ser julgado. Assim, à primeira vista, poder-se-ia pensar que o eleitorado dos concelhos em questão se limitou a levar à letra o princípio da presunção de inocência legalmente reconhecido a qualquer cidadão, ou seja, o de que ninguém é culpado até ser condenado.
Vale mesmo a pena lembrar que, na nossa melhor tradição humanista, é comumente aceite que mais vale um culpado escapar à Justiça do que um inocente ser condenado.
Dito isto, cabe então perguntar o que torna chocante o facto de os eleitores de três concelhos terem votado maioritariamente em candidaturas encabeçadas por políticos sob suspeita e em rota de colisão com os respectivos partidos, cujos optaram por não os apoiarem em nome de um alegado - e súbito - desejo de transparência.
A resposta a esta questão remete-nos para o domínio da ética, pessoal e partidária, onde infelizmente não abundam exemplos dignificantes no tocante à prática política.
O mínimo que seria de esperar de políticos sérios, num caso como este, se de políticos sérios se tratasse, era o testemunho de empenhada colaboração com a Justiça e de desapego ao Poder até ao esclarecimento cabal da situação em que se encontram envolvidos.
Não foi o caso. Lançando mão de vastos recursos cuja origem também importa clarificar, os personagens desta saga enveredaram pelo populismo mais desbragado para cativar o apoio popular, fizeram ameaças mais ou menos veladas aos respectivos partidos e às instituições públicas, apresentaram-se como vítimas de alegadas manobras de perseguição e fizeram tudo o que esteve ao seu alcance para condicionar pelo voto o normal trabalho da Justiça. Para o efeito contaram com a comunicação social, que transformou em caso mediático cada uma das suas palavras e atitudes.
Seja qual for o resultado dos processos judiciais em curso, o que se passou nesta campanha eleitoral em vários concelhos do País não dignifica a política, nem os políticos, nem a democracia. São casos como estes que abrem o caminho ao desencanto e facilitam a vida aos ditadores.