Mais mentiras
faz parte da política global de «matar e mentir para lucrar»
«Ontem, a família de Jean Charles de Menezes e nós, os seus advogados, tomámos conhecimento através da imprensa de que praticamente toda a informação que, ou foi colocada, ou foi deixada permanecer, no domínio público desde que Jean Charles de Menezes foi morto em 22 de Julho de 2005, é falsa». Assim começa o comunicado dos advogados da família do jovem electricista brasileiro morto no metropolitano de Londres por forças policiais (ou secretas?) britânicas, com 7 tiros na cabeça (Times online, 17.8.05).
O comunicado segue-se às revelações da cadeia de televisão ITV, incluindo uma inédita fotografia do cadáver de Menezes onde é possível ver que o alegado «casaco volumoso» que teria «suscitado suspeitas» era, afinal, um fino blusão de ganga. Testemunhos e imagens das câmaras de vigilância comprovam que o jovem morto a tiro não ia a correr e não saltou por cima das bilheteiras (tendo validado o seu título de transporte). Mais: o brasileiro já estava imobilizado, tendo sido agarrado à altura do peito por um oficial da polícia e colado ao banco do metro, quando homens armados lhe dispararam os tiros na cabeça (Guardian, 17.8.05). As informações falsas tinham, em grande medida, a sua origem em fontes policiais (BBC, 17.8.05). Foram até transmitidas ao médico legista responsável pela autópsia, na presença de «altos funcionários da polícia» (comunicado dos advogados da família). Estamos perante o encobrimento oficial duma execução pública de um homem inocente. Não admira que o Chefe da Polícia londrina (que, por acaso, também é Blair de apelido) tenha procurado impedir um inquérito à actuação da polícia (Independent, 18.8.05). Foi ele que, quando já se sabia que a vítima era inocente, fez um sinistro aviso público de que «outras pessoas poderão vir a ser alvejadas» (Reuters, 25.7.05). É de registar que, já após as recentes revelações, o polícia Blair tenha recebido o apoio público do político Blair, do vice-Primeiro Ministro Prescott e do Ministro do Interior Clarke (BBC, 21.8.05). A política oficial de «atirar a matar» sobre «suspeitos» (shoot to kill, como é referida pelas próprias autoridades britânicas) mantém-se em vigor.
«A Grã-Bretanha está a mudar em aspectos que não esperávamos. Hoje é comum ver polícias com armas automáticas. [...] Outra mudança é que agora estamos à espera que nos mintam». Quem escreve isto é o ex-Ministro conservador Michael Portillo (Times online, 21.8.05), certamente esquecido das façanhas do seu próprio partido, mas reflectindo a descrença generalizada. A equipa jurídica da família Menezes afirma que «é inconcebível que a verdade dos factos, tal como foi revelada ontem, não fosse do conhecimento imediato dos comandos policiais e dos ministros». Tal como no caso do lançamento das agressões militares imperialistas, a política de «atirar a matar» vem acompanhada da política de «mentir para matar». Ou melhor, faz parte da política global de «matar e mentir para lucrar» que, desde sempre, caracteriza o imperialismo. O corrupto poder político nos centros do imperialismo merece a desconfiança permanente. Já é público e «oficial» que mentem com quantos dentes têm na boca. Quem pode, ao certo, garantir onde acaba a verdade e começam as mentiras? Sobre o que se passa em Guantanamo e nas prisões iraquianas, sobre os atentados indiscriminados no Iraque, sobre o que se passou em Julho em Londres, sobre o que se passou no 11 de Setembro nos EUA?
O> assassinato de Jean Charles Menezes é um aviso sério sobre as cantigas de sereia que nos pedem para «sacrificar as liberdades» e entregar poderes excepcionais a gente sem escrúpulos, a troco da «segurança». Os sectores mais reaccionários do imperialismo querem militarizar as relações internacionais, mas também as relações sociais. Porque querem impor a sua dominação e exploração sem entraves. Mas a denúncia pública das mentiras londrinas é um sinal de que, também na frente interna, estão a encontrar cada vez mais resistência.
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Rectificação: Na passada edição do nosso jornal, a Crónica Internacional tinha a assinatura de Albano Nunes em vez de Ângelo Alves. Pelo lapso pedimos desculpa a ambos os camaradas e aos nossos leitores.
O comunicado segue-se às revelações da cadeia de televisão ITV, incluindo uma inédita fotografia do cadáver de Menezes onde é possível ver que o alegado «casaco volumoso» que teria «suscitado suspeitas» era, afinal, um fino blusão de ganga. Testemunhos e imagens das câmaras de vigilância comprovam que o jovem morto a tiro não ia a correr e não saltou por cima das bilheteiras (tendo validado o seu título de transporte). Mais: o brasileiro já estava imobilizado, tendo sido agarrado à altura do peito por um oficial da polícia e colado ao banco do metro, quando homens armados lhe dispararam os tiros na cabeça (Guardian, 17.8.05). As informações falsas tinham, em grande medida, a sua origem em fontes policiais (BBC, 17.8.05). Foram até transmitidas ao médico legista responsável pela autópsia, na presença de «altos funcionários da polícia» (comunicado dos advogados da família). Estamos perante o encobrimento oficial duma execução pública de um homem inocente. Não admira que o Chefe da Polícia londrina (que, por acaso, também é Blair de apelido) tenha procurado impedir um inquérito à actuação da polícia (Independent, 18.8.05). Foi ele que, quando já se sabia que a vítima era inocente, fez um sinistro aviso público de que «outras pessoas poderão vir a ser alvejadas» (Reuters, 25.7.05). É de registar que, já após as recentes revelações, o polícia Blair tenha recebido o apoio público do político Blair, do vice-Primeiro Ministro Prescott e do Ministro do Interior Clarke (BBC, 21.8.05). A política oficial de «atirar a matar» sobre «suspeitos» (shoot to kill, como é referida pelas próprias autoridades britânicas) mantém-se em vigor.
«A Grã-Bretanha está a mudar em aspectos que não esperávamos. Hoje é comum ver polícias com armas automáticas. [...] Outra mudança é que agora estamos à espera que nos mintam». Quem escreve isto é o ex-Ministro conservador Michael Portillo (Times online, 21.8.05), certamente esquecido das façanhas do seu próprio partido, mas reflectindo a descrença generalizada. A equipa jurídica da família Menezes afirma que «é inconcebível que a verdade dos factos, tal como foi revelada ontem, não fosse do conhecimento imediato dos comandos policiais e dos ministros». Tal como no caso do lançamento das agressões militares imperialistas, a política de «atirar a matar» vem acompanhada da política de «mentir para matar». Ou melhor, faz parte da política global de «matar e mentir para lucrar» que, desde sempre, caracteriza o imperialismo. O corrupto poder político nos centros do imperialismo merece a desconfiança permanente. Já é público e «oficial» que mentem com quantos dentes têm na boca. Quem pode, ao certo, garantir onde acaba a verdade e começam as mentiras? Sobre o que se passa em Guantanamo e nas prisões iraquianas, sobre os atentados indiscriminados no Iraque, sobre o que se passou em Julho em Londres, sobre o que se passou no 11 de Setembro nos EUA?
O> assassinato de Jean Charles Menezes é um aviso sério sobre as cantigas de sereia que nos pedem para «sacrificar as liberdades» e entregar poderes excepcionais a gente sem escrúpulos, a troco da «segurança». Os sectores mais reaccionários do imperialismo querem militarizar as relações internacionais, mas também as relações sociais. Porque querem impor a sua dominação e exploração sem entraves. Mas a denúncia pública das mentiras londrinas é um sinal de que, também na frente interna, estão a encontrar cada vez mais resistência.
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Rectificação: Na passada edição do nosso jornal, a Crónica Internacional tinha a assinatura de Albano Nunes em vez de Ângelo Alves. Pelo lapso pedimos desculpa a ambos os camaradas e aos nossos leitores.