Álvaro Cunhal     1913-2005

Uma vida ao serviço dos trabalhadores e do seu Partido

Álvaro Cunhal nasceu em 10 de Novembro de 1913, na freguesia de Sé Nova, em Coimbra, filho de pai advogado e mãe doméstica.
Em 1931, com 17 anos, adere ao Partido Comunista Português, estudava então na Faculdade de Direito de Lisboa. As suas primeiras tarefas partidárias foram ligadas à Liga dos Amigos da URSS, ao Socorro Vermelho Internacional e aos Grupos de Defesa Académica. Em 1934, é eleito pelos estudantes de Lisboa seu representante no Senado Universitário.
No mesmo ano de 1934, o Partido deu-lhe a tarefa de dirigir a reorganização da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP) em Lisboa e na Margem Sul do Tejo. No ano seguinte, foi eleito secretário-geral das Juventudes Comunistas e participou no IV Congresso da Internacional Juvenil Comunista, que se realizou em Moscovo. Começava então a sua vida clandestina . Na Primavera de 1936, é chamado ao Comité Central do Partido.
Enviado em missão a Espanha, está em Madrid nos primeiros meses da Guerra Civil, após o levantamento fascista contra a República Espanhola. Entrado clandestinamente em Portugal no Verão de 1937, foi preso pela então PVDE. Torturado, não falou, deixando a salvo dos carcereiros fascistas os segredos do seu Partido. Libertado um ano depois, volta imediatamente à luta revolucionária, voltando a ser preso em 1940 e passando mais um ano encarcerado.
Uma vez fora da prisão, participou activamente na reorganização do Partido do início dos anos 40. Novamente na clandestinidade, foi enviado para o Norte do País para aí desenvolver a organização partidária. No Outono de 1942, foi chamado ao Secretariado do Comité Central, de que fez parte até 1949, quando foi mais uma vez preso.

PCP, um grande Partido nacional

Nesses anos, teve um papel activo em todo o trabalho de direcção do Partido: nas medidas de defesa, na formação de um forte núcleo de revolucionários profissionais, na criação do aparelho técnico, no desenvolvimento da organização, na preparação e desenvolvimento de lutas operárias – designadamente das grandes greves de 1943, 1944 e 1947 –, na criação do movimento de unidade nacional antifascista, na redacção da imprensa do Partido e no restabelecimento das relações com o movimento comunista internacional, interrompidas em 1939.
Em nome do Secretariado do Comité Central, elaborou os relatórios políticos ao III Congresso do Partido, realizado em Novembro de 1943, bem como ao IV Congresso, no Verão de 1946.
Preso em Março de 1949, e mantido incomunicável durante 14 meses, recusou-se novamente a responder a qualquer pergunta da PIDE. Levado a «tribunal» nos dias 3 e 10 de Maio de 1950, fez um ataque à política do governo fascista e a defesa da orientação e acção do Partido. O acusado virava acusador e sentava o fascismo e os seus sustentáculos no banco dos réus. Condenado, permaneceu preso 11 anos seguidos, oito dos quais em completo isolamento.
Os dias de cárcere terminariam a 3 de Janeiro de 1960, quando, juntamente com outros destacados militantes comunistas, se evadiu da Fortaleza de Peniche. Na reunião do Comité Central a seguir à fuga, foi novamente chamado ao Secretariado.
Novamente clandestino no interior do País, participou no trabalho de desenvolvimento do Partido. Na reunião do Comité Central de Março de 1961, foi eleito secretário-geral do Partido – cargo que não tinha sido preenchido desde 1942, data da morte de Bento Gonçalves no Campo de Concentração do Tarrafal.
No VI Congresso do Partido, realizado em 1965, fez o relatório político do Comité Central e deu activa contribuição para a elaboração de documentos fundamentais, nomeadamente o programa do Partido. Participou em numerosas delegações do PCP a países socialistas, em encontros internacionais com partidos irmãos, bem como a numerosas conferências.

A liberdade

Derrubado o fascismo, a 25 de Abril de 1974, regressa a Portugal cinco dias depois. Um banho de multidão esperava-o no aeroporto. Foi Ministro sem Pasta dos 1.º, 2.º, 3.º e 4.º governos provisórios e eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1975 e à Assembleia da República em 1976, 1979, 1980, 1983, 1985, 1987. Foi membro do Conselho de Estado.
No XIV Congresso do PCP – realizado em 1992 – deixou o lugar de secretário-geral do PCP e foi eleito pelo Comité Central Presidente do Conselho Nacional do Partido. No Congresso seguinte, em 2000, extinto o Conselho Nacional do PCP e o cargo de Presidente, foi reeleito membro do Comité Central, o que sucedeu também nos XVI e XVII congressos, respectivamente em 2000 e 2004. Álvaro Cunhal deixaria ainda uma vasta obra publicada – quer no plano político e ideológico quer no plano literário – com o pseudónimo de «Manuel Tiago» – quer ainda no plano das artes plásticas.


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Faleceu Álvaro Cunhal

«O Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português, com profunda mágoa e emoção, informa os militantes comunistas, os trabalhadores e o povo português que nesta madrugada, aos 91 anos, faleceu Álvaro Cunhal.

Faz-nos falta, mas a luta continua

Prematuramente regressado da China e do Vietname, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, comentou, terça-feira, na sede nacional do Partido, o falecimento do camarada Álvaro Cunhal. Transcrevemos na íntegra a sua intervenção, recebida com emoção pelos muitos comunistas presentes.

Até sempre, camarada!

Centenas de milhares de pessoas, vindas de todo o País, quiseram prestar a sua última homenagem a Álvaro Cunhal. Na quarta-feira, no funeral, as ruas de Lisboa encheram-se e tingiram-se de vermelho, a cor da causa a que o histórico dirigente comunista dedicou toda a sua vida. Mais do que lamentar uma perda irreparável, as cerimónias fúnebres de Álvaro Cunhal representaram a celebração de uma vida intensamente vivida e da plena confiança de que são indestrutíveis a força e vitalidade do projecto comunista.

A última vontade

É minha vontade ser incinerado no forno crematório e que as cinzas sejam espalhadas na terra ou canteiros de flores do cemitério.É também minha vontade, que peço ao meu Partido que respeite, que no funeral não sejam pronunciados quaisquer discursos.É-me também particularmente grata a ideia de que poderão querer...

Mensagens de pesar e condolências

À hora do fecho desta edição continuavam a chegar à sede do PCP, por correio e através do site na Internet, votos de pesar e condolências pelo desaparecimento de Álvaro Cunhal. Necessariamente incompleto, o registo que publicamos nesta edição refere-se unicamente a personalidades públicas, organizações, movimentos e partidos nacionais e estrangeiros, outras entidades, que endereçaram mensagens escritas à direcção do Partido.

Álvaro Cunhal - a escrita revolucionária

Ao longo da vida, o militante revolucionário e desde muito cedo quadro dirigente do Partido, aliou a teoria e a prática, deixando-nos uma vasta obra que é ao mesmo tempo reflexão e intervenção na vida política, conhecimento profundo da realidade e da História, definição de rumos que, tendo sempre em conta as circunstâncias históricas e as correlações de forças, não deixou nunca de perseguir um objectivo central: a conquista da liberdade e da democracia, da justiça social e da democratização da cultura, a construção em Portugal de uma sociedade socialista.

A realidade ficcionada

Para além dos textos políticos e dos ensaios, e, ainda, dessa monumental tradução do Rei Lear, de Shakespear, cujos críticos consideram a melhor realizada até hoje e que constitui um verdadeiro «estudo» sobre a obra, dadas as numerosas notas que a acompanham visando uma melhor compreensão por parte do leitor, Álvaro Cunhal distingiu-se também como romancista.

A arte, o artista e a sociedade

Reflectir e fazer, poderia ser a dupla chave com que Álvaro Cunhal abordou a realidade, os problemas, os sonhos, os projectos, o mundo em que viveu. Homem de interesses e de actividades múltiplas, sempre subordinados à política - uma política ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País -, o dirigente comunista, o ensaísta, o escritor, também se interessou profundamente pela arte. Reflectindo e praticando.

Nota do Secretariado da DN da JCP

Foi com sentida emoção e profunda mágoa que a Juventude Comunista Portuguesa tomou conhecimento da morte do Camarada Álvaro Cunhal. Álvaro Cunhal, figura incontornável na história contemporânea da luta do povo português, dedicou toda a sua vida aos mais dignos e belos valores da humanidade, ao ideal e projecto comunista,...

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Morreu Eugénio de Andrade, figura maior da poesia portuguesa no século XX, o «poeta solar», da palavra luminosa, que teve a sua estreia fulgurante para o grande público com o celebérrimo livro As Mãos e os Frutos no já longínquo ano de 1948, tinha o Poeta apenas 25 anos. Fizera há pouco 82 anos, faleceu de doença prolongada, mas há muito que a sua obra magnífica o lançara para a imortalidade, fazendo também dele o poeta mais traduzido do século XX, logo a seguir a Fernando Pessoa. De caminho, ganhara o Prémio Camões, o maior galardão em língua portuguesa que lhe foi atribuído em 2001, aos 78 anos.