O Partido e o Povo

Leandro Martins
A propósito ainda do aniversário da vitória, celebrando em 8 de Maio, os 60 anos sobre a esmagadora derrota infligida ao nazi-fascismo pelas tropas soviéticas que entraram em Berlim no final de uma longa marcha libertadora, a que se associaram à pressa os americanos, enviados sobretudo para travar o passo ao Exército Vermelho e arrecadar o bolo da Europa Ocidental, vale sempre a pena repetir que a história tem sido persistentemente mal escrita. Ou tem sido reescrita. Ou apagada. Ou transtornada. Primeiro, do lado de cá do mundo, que continuou a ser dominado pelo capitalismo. Desde há década e meia, também do lado de lá, após a derrota da União Soviética e do colapso do campo socialista. Se para o cidadão comum ocidental, tudo se resolveu no determinado dia D, com Eisenhower a comandar um desembarque e Patton aos tiros de revólver a desbaratar alemães nos pinhais da Itália, para muitos outros, menos ignorantes e menos permeáveis à ideologia dominante, não passou despercebido o contributo decisivo do povo soviético - o sacrifício de milhões de vidas e a heroicidade da resistência ao invasor - para extirpar do mundo o terror nazi.
E também não passou historicamente despercebido que, para organizar e dar um rumo a essa resistência, uma direcção e um profundo ânimo ao avanço para ocidente, derrotando exércitos bem armados, enquadrados por fanáticos do terror, foi necessário um Partido profundamente ligado ao povo e às massas, que avançasse na vanguarda, dando o exemplo e erguendo bem alto as bandeiras da libertação e da justiça. E ainda que esse Partido teria de ter a orientá-lo uma direcção coesa e profundamente empenhada em salvar a pátria e o socialismo a construir-se. Surge assim, naturalmente, a figura de Stáline, que não pode ser isolada dos outros dirigentes, tal como o PCUS não podia encontrar-se isolado da vontade dos milhões de soviéticos, comunistas ou não.
Mas a história, já se sabe, reescreve-se facilmente. E se, na Rússia de hoje, apesar dos tempos negros que se vivem e da obscuridade lançada desde há muito sobre os factos e os seus significados, voltam a aparecer cidades em que se dá o nome de Stáline a ruas, há logo quem, lá mesmo, venha advertir sobre os «crimes» cometidos ou não pelo revolucionário soviético. Foi o que pressurosamente fez Gorbatchov, que afirma não perdoar e alerta para este sobressalto russo que torna a elogiar Stáline. Diz ele que se não deve a vitória a Stáline. Estaríamos de acordo, se Gorbatchov pretendesse revelar que, para além do dirigente, há o povo. Certamente. O que ele não pode negar é que, se Stáline teve o seu papel na vitória ao lado do povo, Gorbatchov teve o papel principal na derrota do socialismo, acompanhado apenas por arrivistas e traidores de que se rodeou para torpedear a mais brilhante conquista da história da humanidade.


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