Coligação de esquerda no governo do Uruguai
Tabaré Vázquez assumiu na terça-feira a presidência do Uruguai, liderando o governo da Frente Ampla que rompe com 170 anos de hegemonia da direita.
«Todos em apoio do Plano de Emergência por um futuro melhor»
O dia 1 de Março de 2005 ficará para a maioria dos uruguaios como um momento histórico. Na sequência da derrota dos partidos Nacional (Blanco) e Colorado nas eleições de 31 de Outubro de 2004, e da vitória da Frente Ampla - coligação de partidos de esquerda fundada em 1971 -, renasce no Uruguai a esperança de resolução dos graves problemas que afectam a maioria da população.
Vázquez sucede no poder a Jorge Batle, um presidente que passa à história como o responsável da maior crise económica do país, marcada pela alarmante corrida ao levantamento de depósitos bancários (muitos argentinos tinham depósitos em dólares no Uruguai, que se apressaram a levantar quando o país entrou em crise), a derrocada das entidades financeiras, o crescimento do desemprego até aos 20 por cento e a ruína dos uruguaios. De acordo com os dados oficiais, que ficam aquém da realidade, um em cada cinco uruguaios vive abaixo do limiar da pobreza, e pelo menos 100 mil subsistem em condições de miséria ou mendicância.
A vitória da Frente Ampla, que há duas décadas vinha subindo a sua votação, foi clara. Tabaré conquistou 50,7 por cento dos votos, vencendo logo na primeira volta os seus directos adversários: Jorge Larrañaga, do Partido Nacional, que ficou com 34,06 por cento, e o candidato do Partido Colorado, Guillermo Stirling, que se ficou pelos 10,32 por cento.
No parlamento, a Frente Ampla conquistou a maioria nas duas câmaras, elegendo 52 dos 99 deputados do Congresso, e 16 dos 30 senadores. Os deputados tomaram posse a 15 de Fevereiro, tendo eleito como presidentes do Senado e do Congresso, respectivamente, José Mujica e Nora Castro, dois antigos guerrilheiros do movimento Tupamaro.
Elevada expectativa
O programa de governo, aprovado pelo IV congresso da Frente Ampla em Dezembro de 2003, abarca cinco áreas temáticas que visam o desenvolvimento do sector produtivo, a resposta aos problemas sociais, a inovação tecnológica e a educação, a consolidação da democracia e a integração do Uruguai na região e no mundo.
Durante a campanha eleitoral, Tabré Vázquez não se cansou de afirmar que «se não formos capazes de implementar nos primeiros meses um plano de emergência que tenha em conta e erradique a situação de emergência social que afecta tantos compatriotas, não merecemos que nos chamem de esquerda, nem sequer progressistas». É neste contexto que surge a decisão de criar o Ministério de Políticas e Participação Social, a quem caberá coordenar e aplicar as políticas sociais do novo governo. Este Ministério será o responsável pelo Plano de Atenção Nacional à Emergência Social (PANES), definido por Vázquez como a «bandeira» do governo.
O primeiro acto oficial do presidente, após a tomada de posse, foi justamente a promulgação do PANES, cuja implementação a partir de 1 de Março foi confiada ao Partido Comunista do Uruguai (PCU), nas pessoas de Marina Arismendi e Ana María Oliveira, como ministra e sub-secretária, respectivamente, com o apoio de todo o executivo. Vázquez foi peremptório ao afirmar ao ministros: «todos em apoio do Plano de Emergência por um futuro melhor».
Para o PCU, a atribuição desta responsabilidade representa o reconhecimento da real inserção do partido nos sindicatos e nas organizações sociais a nível nacional, e simultaneamente uma tremenda responsabilidade dos comunistas no desenvolvimento de um projecto que as populações têm de sentir como seu, para que o apliquem e o defendam. «Não podemos defraudar a esperança e a alegria que o nosso povo recuperou», afirma o PCU.
Uma Frente de esquerda
A Frente Ampla (FA), criada a 5 de Fevereiro de 1971, reúne comunistas, socialistas, homens e mulheres independentes ou oriundos dos chamados partidos tradicionais, pessoas de diferentes credos e extractos sociais, que decidiram dotar-se de um estatuto, de uma estrutura orgânica, um programa e candidatos comuns.
O programa da Frente tem um cariz nacional, popular e democrático, logo anti-oligárquico e anti-imperialista. Não é um programa socialista, mas antes o resultado de uma aliança de forças de esquerda que ostenta o mérito de se manter unida 34 anos após a sua formação e de ter passado com honra a dura prova da ditadura fascista que assolou o Uruguai (1973-1985).
Tendo como antecedentes as experiências unitárias de esquerda da Frente de Esquerda de Libertação (FIDEL) formada nos anos 60 por comunistas, independentes, socialistas, e antigos militantes dos partidos Blanco e Colorado, a Frente ampliou o leque de alianças em 1994 com o Encontro Progressista (EP) e em 2004 com a Nova Maioria (NM).
Em Outubro do ano passado a FA - EP - NM conseguiu o que parecia impossível: pôr termo a quase dois séculos de domínio das forças de direita no Uruguai.
O mundo reconheceu a importância histórica do evento. À posse do novo presidente e do seu governo acorreram representantes de 130 países.
Vázquez sucede no poder a Jorge Batle, um presidente que passa à história como o responsável da maior crise económica do país, marcada pela alarmante corrida ao levantamento de depósitos bancários (muitos argentinos tinham depósitos em dólares no Uruguai, que se apressaram a levantar quando o país entrou em crise), a derrocada das entidades financeiras, o crescimento do desemprego até aos 20 por cento e a ruína dos uruguaios. De acordo com os dados oficiais, que ficam aquém da realidade, um em cada cinco uruguaios vive abaixo do limiar da pobreza, e pelo menos 100 mil subsistem em condições de miséria ou mendicância.
A vitória da Frente Ampla, que há duas décadas vinha subindo a sua votação, foi clara. Tabaré conquistou 50,7 por cento dos votos, vencendo logo na primeira volta os seus directos adversários: Jorge Larrañaga, do Partido Nacional, que ficou com 34,06 por cento, e o candidato do Partido Colorado, Guillermo Stirling, que se ficou pelos 10,32 por cento.
No parlamento, a Frente Ampla conquistou a maioria nas duas câmaras, elegendo 52 dos 99 deputados do Congresso, e 16 dos 30 senadores. Os deputados tomaram posse a 15 de Fevereiro, tendo eleito como presidentes do Senado e do Congresso, respectivamente, José Mujica e Nora Castro, dois antigos guerrilheiros do movimento Tupamaro.
Elevada expectativa
O programa de governo, aprovado pelo IV congresso da Frente Ampla em Dezembro de 2003, abarca cinco áreas temáticas que visam o desenvolvimento do sector produtivo, a resposta aos problemas sociais, a inovação tecnológica e a educação, a consolidação da democracia e a integração do Uruguai na região e no mundo.
Durante a campanha eleitoral, Tabré Vázquez não se cansou de afirmar que «se não formos capazes de implementar nos primeiros meses um plano de emergência que tenha em conta e erradique a situação de emergência social que afecta tantos compatriotas, não merecemos que nos chamem de esquerda, nem sequer progressistas». É neste contexto que surge a decisão de criar o Ministério de Políticas e Participação Social, a quem caberá coordenar e aplicar as políticas sociais do novo governo. Este Ministério será o responsável pelo Plano de Atenção Nacional à Emergência Social (PANES), definido por Vázquez como a «bandeira» do governo.
O primeiro acto oficial do presidente, após a tomada de posse, foi justamente a promulgação do PANES, cuja implementação a partir de 1 de Março foi confiada ao Partido Comunista do Uruguai (PCU), nas pessoas de Marina Arismendi e Ana María Oliveira, como ministra e sub-secretária, respectivamente, com o apoio de todo o executivo. Vázquez foi peremptório ao afirmar ao ministros: «todos em apoio do Plano de Emergência por um futuro melhor».
Para o PCU, a atribuição desta responsabilidade representa o reconhecimento da real inserção do partido nos sindicatos e nas organizações sociais a nível nacional, e simultaneamente uma tremenda responsabilidade dos comunistas no desenvolvimento de um projecto que as populações têm de sentir como seu, para que o apliquem e o defendam. «Não podemos defraudar a esperança e a alegria que o nosso povo recuperou», afirma o PCU.
Uma Frente de esquerda
A Frente Ampla (FA), criada a 5 de Fevereiro de 1971, reúne comunistas, socialistas, homens e mulheres independentes ou oriundos dos chamados partidos tradicionais, pessoas de diferentes credos e extractos sociais, que decidiram dotar-se de um estatuto, de uma estrutura orgânica, um programa e candidatos comuns.
O programa da Frente tem um cariz nacional, popular e democrático, logo anti-oligárquico e anti-imperialista. Não é um programa socialista, mas antes o resultado de uma aliança de forças de esquerda que ostenta o mérito de se manter unida 34 anos após a sua formação e de ter passado com honra a dura prova da ditadura fascista que assolou o Uruguai (1973-1985).
Tendo como antecedentes as experiências unitárias de esquerda da Frente de Esquerda de Libertação (FIDEL) formada nos anos 60 por comunistas, independentes, socialistas, e antigos militantes dos partidos Blanco e Colorado, a Frente ampliou o leque de alianças em 1994 com o Encontro Progressista (EP) e em 2004 com a Nova Maioria (NM).
Em Outubro do ano passado a FA - EP - NM conseguiu o que parecia impossível: pôr termo a quase dois séculos de domínio das forças de direita no Uruguai.
O mundo reconheceu a importância histórica do evento. À posse do novo presidente e do seu governo acorreram representantes de 130 países.