Síria sob pressão
A demissão do primeiro-ministro libanês culminou um processo de crise política em que os EUA, Israel, França e Grã-Bretanha aproveitam para atacar a Síria.
«Criaram o cenário para atingir no coração a relação sírio-libanesa»
Milhares de libaneses concentraram-se segunda-feira na Praça dos Mártires para pedirem a demissão do primeiro-ministro, Omar Karame, reclamarem uma investigação ao atentado de há duas semanas contra o antigo chefe do executivo libanês, Rafic Hariri, e exigirem a retirada das tropas sírias do país.
O protesto concentrou-se no momento em que o governo de Karame e os parlamentares discutiam a situação política do Líbano.
Horas depois, o presidente libanês, Emile Lahud, anunciou que Karame apresentara a sua demissão e que apenas se manterá em funções pelo tempo necessário até à resolução da crise, o que pressupõe a nomeação ou eleição de um novo executivo.
«Democracias» mostram músculos
Os primeiros a congratularem-se com a crise de poder no Líbano foram os norte-americanos. No seguimento das ameaças que vêm fazendo à Síria e das medidas diplomáticas e militares postas em marcha na região, Scott McClellan, porta-voz da Casa Branca, declarou que o Libano se devia «dotar de um governo verdadeiramente representativo, livre de qualquer ingerência externa» e reeditou as ameaças ao vizinho sírio fazendo uso da resolução 1559 do Conselho de Segurança (CS) da ONU, na qual se determina que os 14 mil soldados sírios devem abandonar o território libanês.
Na semana passada, a Grã-Bretanha havia seguido igual discurso. O primeiro-ministro Tony Blair acusou a Síria de «responsabilidades» no apoio a grupos terroristas, palavras secundadas pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Jack Straw, que envolveu a Síria no assassinato do Hariri com base em «informações recebidas».
Já anteontem, conhecida a demissão de Karame, os EUA e a França retomaram o discurso ameaçador.
Em declarações conjuntas feitas à margem da conferência que decorre em Londres e reúne os EUA, a França, a Grã-Bretanha, a UE, a ONU e a Autoridade Nacional Palestiniana, Condoleezza Rice e a sua homóloga da diplomacia de Paris, Michel Barnier, citaram novamente a posição das Nações Unidas para dizerem que «a Síria tem de perceber que falamos muito a sério quando exigimos a aplicação progressiva e real desta resolução».
As declarações deram mesmo força a Israel para, 50 minutos depois, reclamarem em uníssono o cumprimento de uma deliberação do CS da ONU, ocultando que os sucessivos governos de Telavive desrespeitam sistematicamente as resoluções aprovadas por aquele órgão relativamente aos territórios ocupados na Palestina.
Síria denuncia intenções
Para além de ter anunciado, na quinta-feira da semana passada, o restabelecimento do processo de retirada militar do território libanês iniciado já em 2001 e que desde então faz deslocar sucessivos contingentes militares para fora de Beirute e outras cidades do Norte do Líbano concentrando-os no Vale Bekaa, a Síria esclareceu as intenções da dita «comunidade internacional».
O governo de Damasco afirmou, pela voz da ministra para a Emigração, Bouthaina Shaaban, que o atentado contra Rafic Hariri visou afectar a relação entre as duas nações.
Em entrevista ao francês Le Monde, a ministra disse que «criaram o cenário para atingir no coração a relação sírio-libanesa».
Relativamente às ameaças norte-americanas, Shaaban disse que «se a questão de Hariri levantou tanta cólera anti-Síria, esta é a prova de que esse era o objectivo».
No que toca ao suposto plano imperial de estender o protectorado na região até à constituição do «Grande Médio Oriente», a responsável de Damasco concluiu que uma vez que a Síria não detém nem «armas de destruição maciça, nem um Saddam, era preciso algo que prosseguisse a “teoria do dominó”».
O protesto concentrou-se no momento em que o governo de Karame e os parlamentares discutiam a situação política do Líbano.
Horas depois, o presidente libanês, Emile Lahud, anunciou que Karame apresentara a sua demissão e que apenas se manterá em funções pelo tempo necessário até à resolução da crise, o que pressupõe a nomeação ou eleição de um novo executivo.
«Democracias» mostram músculos
Os primeiros a congratularem-se com a crise de poder no Líbano foram os norte-americanos. No seguimento das ameaças que vêm fazendo à Síria e das medidas diplomáticas e militares postas em marcha na região, Scott McClellan, porta-voz da Casa Branca, declarou que o Libano se devia «dotar de um governo verdadeiramente representativo, livre de qualquer ingerência externa» e reeditou as ameaças ao vizinho sírio fazendo uso da resolução 1559 do Conselho de Segurança (CS) da ONU, na qual se determina que os 14 mil soldados sírios devem abandonar o território libanês.
Na semana passada, a Grã-Bretanha havia seguido igual discurso. O primeiro-ministro Tony Blair acusou a Síria de «responsabilidades» no apoio a grupos terroristas, palavras secundadas pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Jack Straw, que envolveu a Síria no assassinato do Hariri com base em «informações recebidas».
Já anteontem, conhecida a demissão de Karame, os EUA e a França retomaram o discurso ameaçador.
Em declarações conjuntas feitas à margem da conferência que decorre em Londres e reúne os EUA, a França, a Grã-Bretanha, a UE, a ONU e a Autoridade Nacional Palestiniana, Condoleezza Rice e a sua homóloga da diplomacia de Paris, Michel Barnier, citaram novamente a posição das Nações Unidas para dizerem que «a Síria tem de perceber que falamos muito a sério quando exigimos a aplicação progressiva e real desta resolução».
As declarações deram mesmo força a Israel para, 50 minutos depois, reclamarem em uníssono o cumprimento de uma deliberação do CS da ONU, ocultando que os sucessivos governos de Telavive desrespeitam sistematicamente as resoluções aprovadas por aquele órgão relativamente aos territórios ocupados na Palestina.
Síria denuncia intenções
Para além de ter anunciado, na quinta-feira da semana passada, o restabelecimento do processo de retirada militar do território libanês iniciado já em 2001 e que desde então faz deslocar sucessivos contingentes militares para fora de Beirute e outras cidades do Norte do Líbano concentrando-os no Vale Bekaa, a Síria esclareceu as intenções da dita «comunidade internacional».
O governo de Damasco afirmou, pela voz da ministra para a Emigração, Bouthaina Shaaban, que o atentado contra Rafic Hariri visou afectar a relação entre as duas nações.
Em entrevista ao francês Le Monde, a ministra disse que «criaram o cenário para atingir no coração a relação sírio-libanesa».
Relativamente às ameaças norte-americanas, Shaaban disse que «se a questão de Hariri levantou tanta cólera anti-Síria, esta é a prova de que esse era o objectivo».
No que toca ao suposto plano imperial de estender o protectorado na região até à constituição do «Grande Médio Oriente», a responsável de Damasco concluiu que uma vez que a Síria não detém nem «armas de destruição maciça, nem um Saddam, era preciso algo que prosseguisse a “teoria do dominó”».