Uma revolução em marcha
No final de 1998, Hugo Chávez ganhou as presidenciais com 56,2% dos votos, a maior margem de todo o período democrático. Em Fevereiro do ano seguinte, no discurso de tomada de posse, mencionava alguns dos seus autores favoritos: Whitman, Neruda e especialmente Bolívar, e fazia o seu famoso juramento: (...) «Juro perante o meu povo que sobre esta Constituição moribunda darei impulso às transformações democráticas necessárias para que a República nova tenha uma Carta Magna adequada aos novos tempos.»
Um ano depois, a Venezuela aprovava uma nova Constituição em referendo e não num âmbito reduzido como era costume.
Após seis anos de governo, depois de várias greves patronais disfarçadas de gerais, apesar de um golpe de estado militar, de atentados terrorista à bomba, de foquismo reaccionário urbano, de uma inclemente campanha mediática de satanização – exceptuam-se a televisão e rádio nacional e algum ou outro jornal – e da clara ingerência do imperialismo norte-americano, o governo bolivariano continua com inegável apoio popular, confirmado através de oito eleições. Recentemente outra sondagem aponta para um novo crescimento do apoio a Chávez. Um especialista em medições de opinião pública claramente ligado à oposição, José Vicente Léon,
responsável de Datanálisis, acaba de admitir na imprensa que a popularidade do líder bolivariano anda pelos 67,5 por cento. Como é isto possível? Boa parte da resposta está nos programas sociais conhecidos como Missões.
Vejamos três delas.
Alfabetização, saúde e alimentação
A Missão Robinson - o nome-pseudónimo é uma homenagem a Simón Rodríguez, professor de Simão Bolívar, que nalgum momento o usou para escapar à perseguição do império espanhol - foi criada para alfabetizar rapidamente um milhão de venezuelanos. Esta iniciativa cívico-militar inédita no país, atingiu a meta num tempo recorde e beneficiou um milhão e um quarto de homens e mulheres humildes, muitos deles idosos. O sucesso do programa foi sublinhado por vários organismos internacionais e está em estudo para ser utilizado noutros países, por exemplo, no Brasil.
O objectivo da segunda fase da Missão é que os que participaram na primeira continuem e aprovem a sexta classe. Mais de um milhão dos alfabetizados assim decidiram e uma boa percentagem (16%) recebe mesmo apoio económico para atingir essa meta.
Se Robinson tem a ver com a educação, Bairro Adentro ocupa-se da saúde, e aqui foi também fundamental a solidariedade da revolução cubana, colocando mais de 13 mil de médicos em zonas totalmente degradas, onde os médicos venezuelanos sempre se negaram a trabalhar [1]. Milhões pessoas historicamente excluídas do sistema de saúde passaram assim a contar com assistência médica, um «luxo» sempre visto como impensável e que a revolução bolivariana pôs ao seu alcance, apesar de todas as dificuldades, calúnias e sabotagens.
Actualmente, a Missão apresenta uns resultados impressionantes: 64,9 milhões de casos atendidos, 47,8 milhões de consultas e 6 milhões a domicílio. Através da sua rede de consultórios e clínicas populares (perto de 270 em todo o país), do apoio das Forças Armas e da indústria petrolífera – agora ao serviço das necessidades do país – foram aplicadas 161 800 vacinas, atendidos mais de 800 partos e salvas 16 400 vidas, entre
outras acções de atenção médica (incluindo a odontológica), por agora dirigidas às populações mais pobres, mas que estão pensadas igualmente para beneficiar, a curto prazo, as classes médias.
A Missão Mercal, por seu turno, tem o propósito de alimentar, numa primeira etapa, as pessoas mais necessitadas – perto de 8 milhões – a preços razoáveis. Numa fase posterior, Mercal poderá servir a população total do país [2].
Presentemente existem 208 lojas Mercal de tipo I, 779 de tipo II, para além de 26 supermercados Mercal, num total de mais de mil pontos de venda ao público. Segundo uma sondagem recente de Datos Information Resources, 57% da população já comprou alguma vez numa loja Mercal, o que representa um crescimento de 17% em relação a 2004. A firma, insuspeita de bolivarianismo, admite que as mercearias populares –bodegas, na linguagem popular – contribuíram para melhorar o poder de compra das camadas inferiores e a qualidade de vida dos venezuelanos.
É por estas e outras medidas populares que o povo venezuelano está com a sua revolução e está disposto a dar a vida por ela, e é também por isso que ela é tão odiada pelas classes dominantes.
[1] Registe-se, contudo, que, com o passar do tempo, são cada vez mais os médicos venezuelanos que se juntam à Missão. Hoje são mais de 1300 e o seu número continua a crescer.
[2] El Nacional, jornal da oposição, informava há pouco que Mercal já não se limitava a servir unicamente as classes populares e que também a classe média visitava cada vez mais estes mini e supermercados.
Um ano depois, a Venezuela aprovava uma nova Constituição em referendo e não num âmbito reduzido como era costume.
Após seis anos de governo, depois de várias greves patronais disfarçadas de gerais, apesar de um golpe de estado militar, de atentados terrorista à bomba, de foquismo reaccionário urbano, de uma inclemente campanha mediática de satanização – exceptuam-se a televisão e rádio nacional e algum ou outro jornal – e da clara ingerência do imperialismo norte-americano, o governo bolivariano continua com inegável apoio popular, confirmado através de oito eleições. Recentemente outra sondagem aponta para um novo crescimento do apoio a Chávez. Um especialista em medições de opinião pública claramente ligado à oposição, José Vicente Léon,
responsável de Datanálisis, acaba de admitir na imprensa que a popularidade do líder bolivariano anda pelos 67,5 por cento. Como é isto possível? Boa parte da resposta está nos programas sociais conhecidos como Missões.
Vejamos três delas.
Alfabetização, saúde e alimentação
A Missão Robinson - o nome-pseudónimo é uma homenagem a Simón Rodríguez, professor de Simão Bolívar, que nalgum momento o usou para escapar à perseguição do império espanhol - foi criada para alfabetizar rapidamente um milhão de venezuelanos. Esta iniciativa cívico-militar inédita no país, atingiu a meta num tempo recorde e beneficiou um milhão e um quarto de homens e mulheres humildes, muitos deles idosos. O sucesso do programa foi sublinhado por vários organismos internacionais e está em estudo para ser utilizado noutros países, por exemplo, no Brasil.
O objectivo da segunda fase da Missão é que os que participaram na primeira continuem e aprovem a sexta classe. Mais de um milhão dos alfabetizados assim decidiram e uma boa percentagem (16%) recebe mesmo apoio económico para atingir essa meta.
Se Robinson tem a ver com a educação, Bairro Adentro ocupa-se da saúde, e aqui foi também fundamental a solidariedade da revolução cubana, colocando mais de 13 mil de médicos em zonas totalmente degradas, onde os médicos venezuelanos sempre se negaram a trabalhar [1]. Milhões pessoas historicamente excluídas do sistema de saúde passaram assim a contar com assistência médica, um «luxo» sempre visto como impensável e que a revolução bolivariana pôs ao seu alcance, apesar de todas as dificuldades, calúnias e sabotagens.
Actualmente, a Missão apresenta uns resultados impressionantes: 64,9 milhões de casos atendidos, 47,8 milhões de consultas e 6 milhões a domicílio. Através da sua rede de consultórios e clínicas populares (perto de 270 em todo o país), do apoio das Forças Armas e da indústria petrolífera – agora ao serviço das necessidades do país – foram aplicadas 161 800 vacinas, atendidos mais de 800 partos e salvas 16 400 vidas, entre
outras acções de atenção médica (incluindo a odontológica), por agora dirigidas às populações mais pobres, mas que estão pensadas igualmente para beneficiar, a curto prazo, as classes médias.
A Missão Mercal, por seu turno, tem o propósito de alimentar, numa primeira etapa, as pessoas mais necessitadas – perto de 8 milhões – a preços razoáveis. Numa fase posterior, Mercal poderá servir a população total do país [2].
Presentemente existem 208 lojas Mercal de tipo I, 779 de tipo II, para além de 26 supermercados Mercal, num total de mais de mil pontos de venda ao público. Segundo uma sondagem recente de Datos Information Resources, 57% da população já comprou alguma vez numa loja Mercal, o que representa um crescimento de 17% em relação a 2004. A firma, insuspeita de bolivarianismo, admite que as mercearias populares –bodegas, na linguagem popular – contribuíram para melhorar o poder de compra das camadas inferiores e a qualidade de vida dos venezuelanos.
É por estas e outras medidas populares que o povo venezuelano está com a sua revolução e está disposto a dar a vida por ela, e é também por isso que ela é tão odiada pelas classes dominantes.
[1] Registe-se, contudo, que, com o passar do tempo, são cada vez mais os médicos venezuelanos que se juntam à Missão. Hoje são mais de 1300 e o seu número continua a crescer.
[2] El Nacional, jornal da oposição, informava há pouco que Mercal já não se limitava a servir unicamente as classes populares e que também a classe média visitava cada vez mais estes mini e supermercados.