Plano Colômbia... plano Venezuela
Um pouco de história.
No dia 14 de Dezembro de 2004, os colombianos apresentaram como um sucesso na luta «contra o terrorismo» a captura de Rodrigo Granda, considerado o «chanceler» das FARC, a qual teria ocorrido em Cucuta, cidade na fronteira com a Venezuela. Contudo, a história parece ter começado alguns dias antes [1], quando as autoridades venezuelanas capturaram, em Maracay, (a uma hora de Caracas) um comando da polícia colombiana encontrado em atitude suspeita.
Alegadamente, o grupo estava no encalço de um narcotraficante. Conversa vai, conversa vem entre os respectivos ministros da defesa, os colombianos são postos em liberdade e tudo como dantes. Hoje, os dois acontecimentos parecem estar relacionados e a ser assim, é evidente que o ministro Uribe passou uma rasteira ao seu colega do outro lado da fronteira.
Ainda que a polícia colombiana insista desde o princípio deste Granda-Sarilho na versão da captura em território colombiano, as autoridades venezuelanas mantêm – e provaram – a tese de que Granda foi sequestrado em Caracas no dia anterior. Neste momento – depois de o ministro colombiano Uribe ter admitido que lhe foi feita uma proposta de sequestro, que a estudou e depois decidiu pagar pelo trabalho – está bastante claro o que se passou: as autoridades colombianas violaram a soberania da Venezuela para executar um sequestro político com a cumplicidade de militares venezuelanos, vários dos quais já estão presos.
Sucintamente, os principais passos da operação foram os seguintes: a) no dia 11 de Dezembro, um comando da Guarda Nacional (Venezuela), animado por uma recompensa de 1,5 milhões de dólares, desloca-se de São Cristóbal, cidade-fronteira, a Caracas; b) no dia seguinte, o tenente à frente do comando encontra-se como um polícia colombiano em Caracas (ainda não identificado), que lhe diz como localizar Granda; c) no dia 13, depois de um telefonema do polícia colombiano, o comando venezuelano executa o sequestro e transporta Granda até Cucuta, onde o entrega.
Porquê tudo isto agora?
Este Granda-Sarilho não sucede por geração espontânea. As relações entre Bogotá e Caracas estavam no seu melhor dos últimos tempos e isso não convinha aos sectores mais reaccionários de ambos lados da fronteira. Então, aparece o caso Granda, que se transforma rapidamente num Granda-Sarilho, que já levou a Venezuela a fazer regressar a Caracas o seu embaixador em Bogotá, a suspender os acordos comerciais bilaterais e a uma tensão só comparável à do incidente Caldas, em 1984, quando este barco de guerra colombiano entrou em águas venezuelanas.
O caso Granda é outra provocação dos círculos mais fundamentalistas de Bogotá, que pretendem envolver a Venezuela no seu conflito interno e estender o Plano Colômbia até Caracas. O que fizeram é inadmissível como seria inaceitável que a Venezuela violasse a soberania colombiana para sequestrar, por exemplo, o golpista Carmona ou alguns dos militares que se passeiam tranquilamente pelas ruas bogotanas. É certo que Granda vivia na Venezuela, mas todos parecem esquecer que o fazia desde os tempos do governo anterior a Chávez [2]. Por outro lado, a Colômbia só fez o pedido de captura de Granda à Interpol no dia 9 de Janeiro, isto é 25 dias depois de ter o chefe rebelde em seu poder…
Entretanto, os média venezuelanos, que desde 1999 têm feito coro descarado com o regime de Bush no sentido de acusar Chávez de simpatizar com a guerrilha, passaram a acusá-lo do… contrário. Um dos jornais emblemáticos da oposição [3] serve de exemplo: «Granda foi detido aqui, por polícias venezuelanos, e entregue à polícia colombiana. (…). A nossa hipótese é que (…) a presença do chefe guerrilheiro se tornou incómoda para o executivo nacional e, dentro do quadro da nova relação entre Chávez e Uribe (…) o governo da Venezuela resolveu desfazer-se dele (Granda) e entregá-lo à Colômbia. A cólera das FARC (…) é compreensível. Consideram-se pouco menos do que traídas».
Isto não é mais do que misturar conscientemente verdades com mentiras. Verdade é o sequestro. Mentira, é a entrega de Granda, porque tudo se passou nas costas do governo bolivariano, como, aliás, já estava claro no momento de elaboração deste texto.
Por detrás desta campanha antinacional está transparente a intenção de acabar com o processo bolivariano, mesmo que seja com uma invasão do exército imperial de Bush, ao melhor estilo daquilo que o mundo está a ver no Iraque.
__________
[1] Horacio Benítez, de «Temas», relata o caso com vários pormenores.
[2] O seu passaporte mostra várias entradas e saídas de diferente países. Na Venezuela entrou a 14 de Janeiro de 1997.
[3] «TalCual», 12 de Janeiro.
No dia 14 de Dezembro de 2004, os colombianos apresentaram como um sucesso na luta «contra o terrorismo» a captura de Rodrigo Granda, considerado o «chanceler» das FARC, a qual teria ocorrido em Cucuta, cidade na fronteira com a Venezuela. Contudo, a história parece ter começado alguns dias antes [1], quando as autoridades venezuelanas capturaram, em Maracay, (a uma hora de Caracas) um comando da polícia colombiana encontrado em atitude suspeita.
Alegadamente, o grupo estava no encalço de um narcotraficante. Conversa vai, conversa vem entre os respectivos ministros da defesa, os colombianos são postos em liberdade e tudo como dantes. Hoje, os dois acontecimentos parecem estar relacionados e a ser assim, é evidente que o ministro Uribe passou uma rasteira ao seu colega do outro lado da fronteira.
Ainda que a polícia colombiana insista desde o princípio deste Granda-Sarilho na versão da captura em território colombiano, as autoridades venezuelanas mantêm – e provaram – a tese de que Granda foi sequestrado em Caracas no dia anterior. Neste momento – depois de o ministro colombiano Uribe ter admitido que lhe foi feita uma proposta de sequestro, que a estudou e depois decidiu pagar pelo trabalho – está bastante claro o que se passou: as autoridades colombianas violaram a soberania da Venezuela para executar um sequestro político com a cumplicidade de militares venezuelanos, vários dos quais já estão presos.
Sucintamente, os principais passos da operação foram os seguintes: a) no dia 11 de Dezembro, um comando da Guarda Nacional (Venezuela), animado por uma recompensa de 1,5 milhões de dólares, desloca-se de São Cristóbal, cidade-fronteira, a Caracas; b) no dia seguinte, o tenente à frente do comando encontra-se como um polícia colombiano em Caracas (ainda não identificado), que lhe diz como localizar Granda; c) no dia 13, depois de um telefonema do polícia colombiano, o comando venezuelano executa o sequestro e transporta Granda até Cucuta, onde o entrega.
Porquê tudo isto agora?
Este Granda-Sarilho não sucede por geração espontânea. As relações entre Bogotá e Caracas estavam no seu melhor dos últimos tempos e isso não convinha aos sectores mais reaccionários de ambos lados da fronteira. Então, aparece o caso Granda, que se transforma rapidamente num Granda-Sarilho, que já levou a Venezuela a fazer regressar a Caracas o seu embaixador em Bogotá, a suspender os acordos comerciais bilaterais e a uma tensão só comparável à do incidente Caldas, em 1984, quando este barco de guerra colombiano entrou em águas venezuelanas.
O caso Granda é outra provocação dos círculos mais fundamentalistas de Bogotá, que pretendem envolver a Venezuela no seu conflito interno e estender o Plano Colômbia até Caracas. O que fizeram é inadmissível como seria inaceitável que a Venezuela violasse a soberania colombiana para sequestrar, por exemplo, o golpista Carmona ou alguns dos militares que se passeiam tranquilamente pelas ruas bogotanas. É certo que Granda vivia na Venezuela, mas todos parecem esquecer que o fazia desde os tempos do governo anterior a Chávez [2]. Por outro lado, a Colômbia só fez o pedido de captura de Granda à Interpol no dia 9 de Janeiro, isto é 25 dias depois de ter o chefe rebelde em seu poder…
Entretanto, os média venezuelanos, que desde 1999 têm feito coro descarado com o regime de Bush no sentido de acusar Chávez de simpatizar com a guerrilha, passaram a acusá-lo do… contrário. Um dos jornais emblemáticos da oposição [3] serve de exemplo: «Granda foi detido aqui, por polícias venezuelanos, e entregue à polícia colombiana. (…). A nossa hipótese é que (…) a presença do chefe guerrilheiro se tornou incómoda para o executivo nacional e, dentro do quadro da nova relação entre Chávez e Uribe (…) o governo da Venezuela resolveu desfazer-se dele (Granda) e entregá-lo à Colômbia. A cólera das FARC (…) é compreensível. Consideram-se pouco menos do que traídas».
Isto não é mais do que misturar conscientemente verdades com mentiras. Verdade é o sequestro. Mentira, é a entrega de Granda, porque tudo se passou nas costas do governo bolivariano, como, aliás, já estava claro no momento de elaboração deste texto.
Por detrás desta campanha antinacional está transparente a intenção de acabar com o processo bolivariano, mesmo que seja com uma invasão do exército imperial de Bush, ao melhor estilo daquilo que o mundo está a ver no Iraque.
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[1] Horacio Benítez, de «Temas», relata o caso com vários pormenores.
[2] O seu passaporte mostra várias entradas e saídas de diferente países. Na Venezuela entrou a 14 de Janeiro de 1997.
[3] «TalCual», 12 de Janeiro.