Eleições na Palestina

Abbas sucede a Yasser Arafat

O líder da Organização de Libertação da Palestina (OLP), Mahmud Abbas, venceu as eleições presidenciais palestinianas do passado domingo.

«Construir um Estado de direito independente com Jerusalém como capital»

Ao início da tarde de segunda-feira, o presidente da Comissão Central Eleitoral, Hana Nasser, confirmou oficialmente o que já todos esperavam, a vitória do candidato da Fatah no segundo escrutínio presidencial para a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP).
De acordo com os resultados finais, Abbas obteve 62,32 por cento, pouco menos de meio milhão de votos, mas o suficiente para deixar a larga distância o segundo candidato mais votado, Mustapha Barghuthi, que não foi muito além dos 150 mil votos, cerca de 20 por cento.
Na conferência de imprensa realizada em Ramallah, Nasser não divulgou a taxa de participação, mas os dados apurados indicam que participaram no sufrágio cerca de 775 mil palestinianos num total de 1,8 milhões de cidadãos com direito de voto, isto é, 43 por cento da população.
As enormes dificuldades colocadas pelo exército israelita ao povo palestiniano na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental contribuíram decisivamente para uma quebra significativa na afluência às urnas. Prova deste facto é que em Jerusalém Oriental apenas puderam votar aproximadamente 26 mil pessoas num total de 120 mil recenseados.

Vitória anunciada

Na noite anterior, Abbas reclamou a vitória e dedicou-a à memória do histórico líder da luta do povo palestiniano, Yasser Arafat, desaparecido em Novembro passado.
Dirigindo-se às centenas de apoiantes que se juntaram para festejar junto da sede da ANP - o dirigente palestiniano dedicou a sua eleição aos «nossos mártires e aos 11 mil prisioneiros».
Numa mensagem galvanizadora, o agora presidente da ANP deixou uma palavra «a todos os movimentos palestinianos» e, antes de enaltecer o civismo e consciência democrática do povo num acto electivo sem incidentes, reiterou os compromissos assumidos durante a campanha: «construir um Estado de direito independente com Jerusalém como capital» no qual os «cidadãos tenham uma vida digna» e os prisioneiros e perseguidos políticos pelo Estado de Israel gozem da merecida liberdade.

Cumprir a palavra dada

Na hora do triunfo, Mahmud Abbas fez questão de esclarecer as linhas de orientação consideradas inalienáveis na persecução da paz com o vizinho Estado de Israel, a quem, disse, estar disposto a estender a mão para solucionar uma crise que se arrasta há décadas.
Em entrevista publicada segunda-feira num matutino italiano, o presidente da ANP voltou a apelar ao diálogo e ao empenho sincero de ambas as partes na construção de uma solução pacífica para a região do Médio Oriente.
Tal objectivo, esclareceu, deve assentar nas determinações alcançadas no recente acordo conhecido com «Roteiro de Paz».
Neste sentido reafirmou ser impossível chegar a um entendimento sem que seja reconhecido o direito à construção de um «Estado palestiniano soberano dentro das fronteiras vigentes até 1967 e com Jerusalém Oriental como capital. Não podemos aceitar um acordo que não ofereça uma solução justa e negociada para os refugiados palestinianos», disse.

As felicidades «azedas» de Sharon

Recentemente envolvido na reformulação da base de sustentação do seu governo - o que obrigou à reedição de um novo executivo de unidade nacional com os trabalhistas de Shimon Peres - Ariel Sharon felicitou Abbas pela vitória e permitiu que uma fonte do seu gabinete deixasse escapar uma manifestação da «boa-fé» israelita, a qual se traduz na vontade de um encontro proximamente, sem, no entanto, desvendar nada mais que um apelo ao novo líder palestiniano para que combata o «terrorismo».

Hamas disposto a falar

O movimento político palestiniano Hamas declarou, segunda-feira, estar disponível para colaborar com o novo Presidente da ANP, ainda que este partido se tenha abstido de disputar as eleições.
O apelo ao boicote deu lugar à vontade de encetar o diálogo, facto que não invalida que na sua análise o movimento aponte a existência de irregularidades em diversas secções de voto.
O maior volume de críticas do Hamas dirige-se à autorização concedida pela Comissão Central Eleitoral (CCE), no domingo, para que algumas urnas fechassem duas horas mais tarde.
A medida, explicou posteriormente a CCE, tinha como finalidade permitir a participação de muitas dezenas de milhar de palestinianos não registados.

Bush impõem condições

Por seu turno, o chefe de Estado norte-americano, George W. Bush, mostrou-se disponível para receber Mahmud Abbas em Washington a fim de concertarem posições.
Em declarações ao Wall Street Journal, publicadas na edição de terça-feira do diário nova-iorquino, Bush faz no entanto depender «as decisões tácticas, tal como as ajudas ou os enviados» dos EUA, das medidas futuramente assumidas por Abbas e os demais responsáveis da ANP.
George W. não se coibiu de comparar as eleições na Palestina com as que deverão decorrer no Iraque ocupado, agendadas para o próximo dia 30.
Bush incitou os dirigentes do Iraque e da Palestina a investirem no combate ao que considera de «terrorismo», caso contrário não haverá «ajudas».


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