Direita aprova resolução contra Cuba

«Um monumento à hipocrisia»

A resolução do Parlamento Europeu sobre Cuba foi qualificada pelo vice-presidente cubano Carlos Lage como «um monumento à hipocrisia».

A direita no PE opõe-se à normalização das relações com Cuba

O texto adoptado, na quarta-feira, 17, por 376 votos a favor e 281 contra, condiciona a normalização das relações diplomáticas entre a União Europeia e Cuba à «realização de progressos significativos em matéria de promoção da democracia e do respeito pelos direitos humanos e das liberdades fundamentais na ilha».
Esta posição, apresentada pelo Partido Popular Europeu, contou com a oposição dos eurodeputados da Esquerda Unitária Europeia, na qual se integram os deputados do PCP, bem como dos socialistas, dos Verdes e de alguns liberais.
Contudo, o apoio dado pela maioria destes últimos foi decisivo para a aprovação da resolução, cujo objectivo central, como salientou o deputado do PCP, Sérgio Ribeiro, foi «impedir que o Conselho Europeu eventualmente modificasse a posição comum da UE sobre Cuba ou as sanções impostas a este país».
Na véspera, os 25 Estados-membros tinham dado um primeiro passo para uma possível revisão das sanções políticas impostas a Cuba em Junho de 2003, encarregando os seus embaixadores em Havana de proporem fórmulas «mais eficazes» e porventura mais consentâneas com a posição de Espanha que, desde Julho, defende a normalização das relações com aquele país socialista.
Porém, assim não quis a direita europeia que falou pela «voz do dono» reafirmando como «como sua, a política dos Estados Unidos face a Cuba», como frisou o Sérgio Ribeiro, observando a aparente contradição de o texto sublinhar num dos pontos «o carácter contraproducente do embargo imposto a Cuba pelos Estados Unidos e consequentemente a necessidade de levantar o embargo».
Na sua declaração de voto, o deputado comunista fez no entanto questão de sublinhar que «dos dois lados do Atlântico» faz-se ouvir «cada vez com mais força» a «exigência da solidariedade com Cuba, com o seu firme e consciente povo. A luta contra o ilegal e criminosos bloqueio imposto há mais de 40 anos pelos EUA. Assim como a exigência do fim da posição comum da UE e das suas inaceitáveis sanções a Cuba»
Sérgio Ribeiro lembrou ainda que a Assembleia Geral da ONU aprovou recentemente por 179 votos, apenas quatro contra (Estados Unidos, Israel, Ilhas Marshall e Palau) e a abstenção da Micronésia, o levantamento do embargo norte-americano.

Dualidade de critérios

Reagindo em nome do seu país, o vice-presidente cubano Carlos Lage, qualificou a posição da UE como «um monumento de hipocrisia», censurando Bruxelas por não questionar, com base nos mesmos critérios, a operação norte-americana no Iraque. «Cuba rejeita a posição europeia com todas as suas forças», disse o dirigente cubano, na sexta-feira, 19, antes da inauguração da XIX Cimeira ibero-americana em São José, na Costa Rica, em que participou.
Os países europeus opuseram-se ao embargo decidido há mais de 40 anos, mas «vergaram-se à campanha de acusações» de que Cuba viola os Direitos Humanos, referiu Lage, revelando que as sanções europeias atingem até as trocas culturais e artísticas, uma política «que tem um cheiro a fascismo», declarou.
Para este dirigente «era preciso perguntar a estes países democráticos quais são as sanções para os Estados Unidos que conduzem uma guerra injusta no Iraque, torturam os prisioneiros e assassinam os feridos».
Com a reeleição de George W. Bush para a presidência dos Estados Unidos, Cuba espera «o pior» e prepara-se para resistir, «incluindo a uma invasão militar», afirmou ainda Carlos Lage.

Cimeira condena lei Helms-Burton

A declaração final da 19.º Cimeira Ibero-americana, realizada no passado fim-de-semana, reiterando a sua adesão aos princípios da Carta das Nações Unidas, voltou manifestar a sua «condenação enérgica à aplicação unilateral e extraterritorial de leis e medidas contrárias ao direito internacional como a Lei Helms Burton» e exortou «o Governo dos Estados Unidos da América a pôr fim à sua aplicação».
O texto pronuncia-se igualmente «pelo respeito da soberania e da igualdade jurídica dos Estados, pelo princípio da não intervenção, proibição da ameaça ou uso da força nas relações internacionais, pelo respeito da integridade territorial, solução pacífica dos conflitos e pela protecção e promoção dos todos os direitos humanos».
Um comunicado especial da Cimeira exprime ainda a vontade dos países presentes de «combater o terrorismo em todas as suas formas e manifestações», observando «com profunda preocupação a recente libertação de quatro conhecidos terroristas de origem cubana, responsáveis, entre outros crimes, pelo tentativa de executar um ataque terrorista surante a 10.ª Cimeira Ibero-americana».
A propósito desta libertação ocorrida no Panamá, o documento considera que as suas consequências «são incompatíveis com os esforços que deve fazer a comunidade internacional para prevenir e combater eficazmente o terrorismo».


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