Caricaturas
Dos velhos tempos de Salazar chegam-nos histórias que o povo transformou em boa parte do anedotário nacional. Passaram e ainda passam de boca em boca, como a que correu por ocasião de um terramoto de Lisboa, quando o director da pide recebeu um telegrama urgente a relatar : "Epicentro capturado ao largo da costa do Algarve. Recusa afirmar-se comunista, mas há certeza que é. Enviado para Lisboa com urgência, com máximo sigilo".
Se isto hoje faz apenas sorrir - e ainda bem ...a lógica da caricatura permanece. Quem não ouviu falar dos malefícios dos comunistas? São maus, fonte e causa de muitos males (se não de todos). E se não são, podiam ser...Por quê, pode legitimamente perguntar-se. E a resposta não deixa de vir, límpida, transparente, rápida - inteligente: " porque sim".
Eu sei por quê. Meter na balança uma sociedade, a pesar para um lado ou outro, com pesos falsos, é uma coisa. Querer pôr na balança o peso certo, faz refilar o patrão e, se calhar, perder o emprego.
As histórias alteram-se, de acordo com a conjuntura. A caricatura actual do militante comunista partilha de um balanço difícil. Por um lado, é apresentado como perigoso, muito hábil a defender os seus pontos de vista, por isso é bom não lhe dar ouvidos nem oportunidade de ser ouvido. Por outro lado é apresentado como ignorante, bronco, não sabe falar nem pensar, só discute nas reuniões aquilo que lhe mandam dizer (tudo combinado de véspera, não vá ele esquecer-se). E se for delegado ao próximo congresso, é melhor não ler as Teses. São compridas. Compactas. Chatas de interpretar.
Alinha com afinco nessa campanha de caricaturização do PCP uma nova família política, zelosa e reverencialmente tratada pela comunicação oficial e oficiosa com a curiosa designação de (entre comas) os «ex» (ex-comunistas, evidentemente: só esses nerecem o título honorífico de «ex» antes do nome, como outros o título de Dr.). E, com essa ajuda, os patronos do anticomunismo bem podem pensar: para quê gastar tempo (e dinheiro) a encomendar mais prosas se esta lhes serve tão bem...
Esta é uma das caricaturas.
Mas há outra que lhe faz concorrência permanente. É a que oculta, boicota, silencia, caricatura, as posições, actividades, iniciativas e propostas dos comunistas. Para silenciar os comunistas na discussão pública, para lhes calar a voz, que não querem que seja ouvida porque diz aquilo que os donos da bola não querem que seja ouvido. E depois põem a correr que a mensagem do Partido «não passa» - quando a verdade é que ela não é passada, não a deixam passar.
O pensamento novo é sempre muito perigoso. Mais vale abafá-lo, gritando por todos os altifalantes que é velho.
Mas acontece que a caravana vai passando, apesar de todo os alaridos ou silêncios estrondosos....
...Olá, camaradas! Gozemos o verão da S. Martinho e não deixemos que nos ponham a leilão pensamento do próximo Congresso.
Se isto hoje faz apenas sorrir - e ainda bem ...a lógica da caricatura permanece. Quem não ouviu falar dos malefícios dos comunistas? São maus, fonte e causa de muitos males (se não de todos). E se não são, podiam ser...Por quê, pode legitimamente perguntar-se. E a resposta não deixa de vir, límpida, transparente, rápida - inteligente: " porque sim".
Eu sei por quê. Meter na balança uma sociedade, a pesar para um lado ou outro, com pesos falsos, é uma coisa. Querer pôr na balança o peso certo, faz refilar o patrão e, se calhar, perder o emprego.
As histórias alteram-se, de acordo com a conjuntura. A caricatura actual do militante comunista partilha de um balanço difícil. Por um lado, é apresentado como perigoso, muito hábil a defender os seus pontos de vista, por isso é bom não lhe dar ouvidos nem oportunidade de ser ouvido. Por outro lado é apresentado como ignorante, bronco, não sabe falar nem pensar, só discute nas reuniões aquilo que lhe mandam dizer (tudo combinado de véspera, não vá ele esquecer-se). E se for delegado ao próximo congresso, é melhor não ler as Teses. São compridas. Compactas. Chatas de interpretar.
Alinha com afinco nessa campanha de caricaturização do PCP uma nova família política, zelosa e reverencialmente tratada pela comunicação oficial e oficiosa com a curiosa designação de (entre comas) os «ex» (ex-comunistas, evidentemente: só esses nerecem o título honorífico de «ex» antes do nome, como outros o título de Dr.). E, com essa ajuda, os patronos do anticomunismo bem podem pensar: para quê gastar tempo (e dinheiro) a encomendar mais prosas se esta lhes serve tão bem...
Esta é uma das caricaturas.
Mas há outra que lhe faz concorrência permanente. É a que oculta, boicota, silencia, caricatura, as posições, actividades, iniciativas e propostas dos comunistas. Para silenciar os comunistas na discussão pública, para lhes calar a voz, que não querem que seja ouvida porque diz aquilo que os donos da bola não querem que seja ouvido. E depois põem a correr que a mensagem do Partido «não passa» - quando a verdade é que ela não é passada, não a deixam passar.
O pensamento novo é sempre muito perigoso. Mais vale abafá-lo, gritando por todos os altifalantes que é velho.
Mas acontece que a caravana vai passando, apesar de todo os alaridos ou silêncios estrondosos....
...Olá, camaradas! Gozemos o verão da S. Martinho e não deixemos que nos ponham a leilão pensamento do próximo Congresso.