EUA bombardeiam Samarra e Falujah

Comité de Ulemas denuncia massacres

O Comité de Ulemas, a máxima instância religiosa sunita do Iraque, denuncia os massacres cometidos a 1 de Outubro pelos EUA em Samarra e Falujah.

«As dezenas de vítimas provocadas pelos ataques são civis»

Na sua tomada de posição, o Comité considera o ocorrido nos últimos dias - que não hesita em classificar de «massacre» - «o último dos numerosos actos criminosos cometidos pela nação mais terrorista do mundo, os EUA». A organização sunita adverte ainda o governo interino iraquiano que a sua participação nestas operações terá consequências, e acusa os EUA de afogar em sangue o caminho para as eleições de Janeiro.
Após denunciar «as dezenas de vítimas provocadas pelos ataques são civis», o porta-voz dos Ulemas, Faidi, citado pela agência GARA, critica o argumento das eleições para justificar esta ofensiva de bombardeamentos. «Quem vai respeitar uma eleições cujo caminho está cheio de sangue?», pergunta.
«Não há outra opção a não ser o recurso à força», afirmou por seu turno o porta-voz do exército norte-americano, general Erv Lessel, insistindo na tese oficial de que a ofensiva das últimas semanas «aumentou a segurança no Iraque».
O objectivo dos bombardeamentos, segundo o Pentágono, são os depósitos de armamentos e os locais de possível refúgio do jordano al-Zarqawi, apontado como um dos principais mentores da resistência iraquiana.
O general Lessel anunciou ainda que a ofensiva em curso vai aumentar até finais de Dezembro, uma vez que a resistência «se nega a desarmar-se e a participar no processo político».

Todos «rebeldes»

De acordo com o comando militar norte-americano, a ofensiva em Samarra provocou 150 mortos, todos «rebeldes», embora admitindo a existência de «inevitáveis baixas colaterais».
O governo interino foi mais longe e rejeitou a hipótese de qualquer baixa civil, ao mesmo tempo que divulgava uma curiosa lista com as supostas nacionalidades das vítimas mortais, onde não faltam militantes islamistas e apoiantes do derrubado partido Baas, de Saddam Hussein.
Ainda segundo a GARA, os testemunhos dos que conseguiram fugir da cidade denunciam a morte de muitos civis, incluindo mulheres e crianças.
«Há dezenas de cadáveres tombados nas ruas que estão a ser despedaçados pelos cães», afirmou Abu al-Kakaa, um dos que conseguiu romper o cerco à cidade, explicando que as ambulâncias e os serviços de socorro não se atrevem a recolher os corpos com medo dos franco-atiradores norte-americanos instalados nos telhados.
Entretanto, prosseguem os combates na barricada Sadr City, na zona Oeste de Bagdad, onde pelo menos nove civis foram mortos, a 1 de Outubro, pelas tropas norte-americanas. Segundo a cadeia de televisão CNN, uma brigada inteira do exército dos EUA, normalmente integrada por 3500 efectivos, participa na ofensiva, apoiada por tanques e aviões de combate.

Setembro sangrento

O mês de Setembro foi um dos mais fatais para as tropas norte-americanas no Iraque, com pelo menos 76 mortos e um número muito maior de feridos, informou o sítio digital MyWay, citado pela Prensa Latina.
O 18.º mês de ocupação do Iraque confirmou a tendência para o aumento das baixas dos EUA, tornando evidente que a transferência formal da soberania para as entidades iraquianas não contribuiu para a pacificação do país.
Segundo dados do Departamento de Defesa dos EUA, morreram 42 soldados norte-americanos em Junho, 54 em Julho, 66 em Agosto. Em Abril último morreram 135 efectivos do Pentágono e em Novembro, mês do Ramadão, foram reportadas 82 baixas mortais.
No cômputo geral, o mês passado foi o quarto em que se registaram mais mortes desde a invasão do Iraque, em Março de 2003. Oficialmente, o Pentágono reconhece ter perdido 1052 elementos, mas há razões para acreditar que o número de vítimas seja bastante mais elevado, até porque este número não contempla os óbitos registados entre os feridos em combate ou atentados.
Em Setembro, a média das baixas mortais norte-americanas foi de 2,2. Desconhece-se o número de vítimas do lado iraquiano, mas não é difícil imaginar que será elevado, dada a intensidade dos combates.
«Estamos a perder mais vidas porque manifestamente a resistência nos está a atacar mais», afirmou um analista militar da Brookings de Washington (Los Angeles Times, 31 de Agosto de 2004). Os ataques fizeram aumentar igualmente o número de feridos, como reconheceu o Pentágono, cujos dados referem que dos 7400 militares feridos em combate, cerca de 400 o foram nos últimos cinco meses, e cerca de 1100 só em Agosto. Mais de metade dos feridos ficam incapazes de voltar ao serviço.
Ainda em Setembro, registaram-se 15 acções de sabotagem contra a indústria petrolífera, tanto a Norte como a Sul do país, que segundo o primeiro-ministro interino escolhido pelos EUA, Iyad Allawi, provocaram perdas estimadas em dois mil milhões de dólares.
Desde a formação do governo de Allawi e da dissolução da Autoridade Provisória da Coligação, a 28 de Junho último, o número de ataques contras as tropas de ocupação em todo o país duplicou, passando de 40 a 50 para 70 a 90 por dia.
Os EUA mantêm cerca de 138 mil efectivos no Iraque, para além dos 22 mil soldados da Grã-Bretanha, Polónia e outros países.


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