Três notas de reportagem
1. A lata
Mão esquerda no bolso das calças, mão direita gesticulando. Com o à-vontade de quem não tem vergonha. Exultante mas não exaltante, excitado mas nada excitante, exuberante mas longe de excelente, eis o ex-primeiro ministro português e candidato a Presidente da Comissão.
Tão cheio de si que vazio. Recusando, repetidamente, a caricatura que, diz ele, de si fazem mas que é o seu retrato.
Aos costumes nada disse. Embora muito tivesse falado.
Sempre com muita lata.
Mulheres na Comissão? «Ó senhores deputados, eu sou pela igualdade de oportunidades, pela igualdade entre o homem e a mulher… mas não depende de mim, depende dos governos, dependo dos senhores deputados. E para responder à senhora deputada, tenho um objectivo: um terço dos comissários serem comissárias… mas depende mais dos senhores deputados, da pressão sobre os governos, que de mim…» disse ele (mais ou menos…).
Que lata! Na sua frente, entre os eleitos pela coligação por que foi o principal responsável na constituição das listas, oito homens e uma mulher!
Ninguém teve a oportunidade de lho atirar à cara estanhada, sem vergonha.
2. A arrogância
Os deputados – todo o Parlamento – esperaram longos minutos que SEXA-o-indigitado entrasse na sala para que o Presidente do Parlamento anunciasse o resultado da eleição.
Este, o Presidente, ameaçou duas vezes que não iria esperar mais mas não cumpriu. E, se calhar, o indigitado esperava que ele não esperasse mais para entrar em apoteose ao anúncio da eleição…
Pannela, o deputado italiano das moções de ordem, fez uma chamando a atenção para a inaceitável arrogância de Durão Barroso, que nós portugueses bem conhecemos.
Eu, irritado, saí do hemiciclo sem fazer alarido mas, apesar disso, a ouvir uma rotunda patriota a dar-me rodas de falta de orgulho nacional.
Ele, o candidato, entrou na sala e, impante da presidência que sabia que iria ter, nem desculpas pediu.
3. O orgulho nacional
A auto-estima por via dos pontapés que não falham penalties e o orgulho por causa de Durão Barroso ser o candidato que foi (e como foi) e o presidente que vai ser?
Os portugueses dispensam tais falácias e facécias. Deveriam, pelo menos…
Estava no bar dos deputados e vejo chegar o colega (!) Santer. Ora aí está! Este senhor foi durante anos Presidente da Comissão e não se deve encontrar um luxemburguês que de tal sinta orgulho. Depois, veio Prodi e não me consta que haja um italiano a estar orgulhoso por este facto. E não se diga que é por causa da qualidade das respectivas prestações. Delors será o mais carismático (com ou sem razão) de quantos presidentes de Comissão houve e não me parece qualquer um francês se sinta auto-estima e esteja cheio de orgulho nacional por o ter por compatriota.
É mesmo provincianismo, complexo de inferioridade, ou a alegria contentinha de que falava Alexandre O’Neil.