Barroso fiel à agenda do patronato

Um presidente das direitas

A eleição de Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia, na passada quinta-feira, 22, representa a continuação das políticas neoliberais.

A receita neoliberal tem agravado a crise económica e social na UE

Apesar de ter qualificado como «excelente» o resultado da votação no Parlamento Europeu, o facto é que Durão Barroso apenas recolheu 58 por cento dos votos, ou seja 413 votos a favor num total de 664 expressos. Destes 251 foram contra, três brancos e 44 abstenções, não tendo participado no sufrágio 21 outros deputados.
O grosso dos votos veio, como se esperava, dos grupos da direita, designadamente do Partido Popular Europeu (268 votos), da Aliança Democrática e Liberal (88 votos) e da União Para uma Europa das Nações (27 votos). Mas Barroso recolheu também o apoio de alguns deputados socialistas, não obstante a posição oficial do PSE ser contra a sua candidatura.
Precedendo a votação, o candidato a presidente da Comissão submeteu-se a duas sessões de debate no hemiciclo de Estrasburgo, onde sobressairam algumas críticas às posições que tomou enquanto primeiro-ministro do governo português, nomeadamente o apoio dado à invasão do Iraque.
Quanto às políticas europeias, como sublinhou Ilda Figueiredo, «a receita» que Barroso apresentou no Parlamento Europeu foi «mais do mesmo», insistindo na Estratégia de Lisboa, que se traduziu nos últimos anos no aprofundamento das liberalizações e privatizações, na precarização do emprego e ataque aos serviços públicos. Ou seja, «na agenda neoliberal do grande patronato europeu- a agenda da UNICE e da ERT – que se tornou o alfa e o ómega da política económica e social desta União Europeia».

Descontentamento
e distanciamento


Lembrando que «os resultados eleitorais e a elevada abstenção nas recentes eleições para o Parlamento Europeu demonstraram que existe um enorme descontentamento e distanciamento das populações com as políticas comunitárias», a deputada do PCP considerou inaceitável que «os responsáveis da União Europeia teimem em prosseguir uma política de indiferença perante o agravamento da situação económico-social, cega perante o desemprego, pobreza e exclusão social, surda aos protestos dos trabalhadores».
Em vez da aposta na «chamada competitividade, na promoção do que consideram a cultura empresarial, na flexibilidade e precariedade do trabalho, na redução dos custos salariais e na moderação salarial», a prioridade devia ser dada «às questões sociais», salientou Ilda Figueiredo, defendendo a revisão das políticas económicas e monetárias, a suspensão das liberalizações e a revisão do pacto de estabilidade».
A deputada exigiu ainda medidas eficazes para travar as deslocalizações das multinacionais e o reconhecimento do direito de veto suspensivo às suas organizações de trabalhadores.
Estes objectivos, frisou, implicam igualmente «a revisão do mandato da Comissão Europeia na Organização Mundial do Comércio para defender o comércio justo, a soberania alimentar, a indústria europeia e o emprego em zonas particularmente vulneráveis, designadamente de sectores tradicionais sensíveis como o têxtil, a indústria vidreira, a indústria extractiva e a indústria naval».
Assim, «no centro das decisões políticas comunitárias» devem ser colocados «o bem-estar, o progresso social, o aprofundamento da democracia e a paz», concluiu Ilda Figueiredo.


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