No 25º aniversário da revolução sandinista

Albano Nunes

O grande res­pon­sável pela li­qui­dação da ex­pe­ri­ência de poder san­di­nista é o im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano

O derrube da ditadura militar fascista de Somoza e a conquista do poder pela Frente Sandinista de Libertação Nacional em 19 de Julho de 1979, após anos da dura luta guerrilheira e popular, constituiu um acontecimento de extraordinário alcance revolucionário, não apenas para o povo nicaragüense que se lançou com entusiasmo na demolição da oligarquia e na construção de uma sociedade mais livre e mais justa, mas para todos os povos do mundo.
É por isso necessário que a história da revolução sandinista – cujo 25.º aniversário acaba de ser celebrado em Manágua com importantes iniciativas a que o PCP se associou – seja estudada por todos aqueles que, no momento actual, num quadro de grandes dificuldades e perigos, se não resignam e persistem na luta pela transformação revolucionária da sociedade. Nas suas diferentes étapes e desenvolvimentos – da insurreição armada à tentativa de construir um poder popular; da luta contra o analfabetismo ou pela Reforma Agrária ao combate à reacção interna e à violenta agressão do imperialismo; das dificuldades provocadas pelos divisionistas e pelas pressões anti-comunistas da Internacional Socialista a fenómenos de degenerescência nas próprias fileiras sandinistas ligadas com o acesso ao poder; em períodos de avanço libertador ou de recuo contra-revolucionário – a revolução que leva o nome de Sandino, o grande herói nacional da Nicarágua, comporta ensinamentos universais de grande actualidade para os revolucionários de todo o mundo.

A revolução sandinista foi antes do mais obra dos trabalhadores, do povo e dos revolucionários da Nicarágua e uma poderosa afirmação de liberdade e de soberania. A originalidade e criatividade que a caracterizaram, a ela como a todas as autenticas revoluções (sem esquecer a portuguesa), mergulha profundamente nas massas e na realidade da sociedade nicaraguense. Incluindo a sua maior realização que foi a FSLN a qual, não obstante o seu carácter frentista e limitações no plano ideológico, assumiu inequivocamente o papel de vanguarda revolucionária. Nos dias de hoje quando o imperialismo, alimentando teorizações oportunistas que negam a dimensão patriótica da luta libertadora, tudo faz para separar os revolucionários das massas e desenraizá-los do terreno nacional, isto deve ser particularmente sublinhado.
Simultaneamente é indispensável levar em consideração o contexto internacional da revolução sandinista e a dialética dos factores nacional e internacional, que no caso da Nicarágua é ainda mais importante que na revolução portuguesa. A sua vitória situa-se num claro ascenso do processo revolucionário que caracterizou a década de 70, e contou com o sólido apoio dos países socialistas e da sua política de solidariedade internacionalista. A sua derrota, assinalada pela vitória da direita nas eleições de Fevereiro de 1990, reflecte já a profunda alteração da correlação de forças resultante das derrotas do socialismo no Leste da Europa e a viragem da política externa do PCUS dominada pelo «novo pensamento» e inerente claudicação diante das exigências do imperialismo.

De facto o grande responsável pela liquidação da experiência de poder sandinista é o imperialismo norte-americano, que não recuou perante nenhum crime para esmagar a revolução (terrorismo dos «contra», escândalo do «Irangate», bloqueio económico, minagem dos portos nicaraguenses). Hoje, quando o imperialismo, tentando deter a marcha da História, desenvolve por toda a parte uma violenta política de ingerência e agressão, esta dura experiência da Nicarágua incita-nos a fortalecer sempre mais a solidariedade internacionalista para com os povos alvo da hostilidade do imperialismo, como é o caso de Cuba e da Venezuela, onde em torno do referendo de 15 de Agosto, se joga muito do futuro imediato da revolução bolivariana e mesmo do processo libertador na América Latina.


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