«Golpe de Estado»

Carlos Gonçalves
Não acabou bem o Euro 2004, a instrumentalização do Governo só desajudou. É agora tempo de tudo fazer para resolver a crise política em defesa dos trabalhadores, do povo e do país.
A solução democraticamente aceitável – eleições antecipadas – é para a direita reaccionária um «golpe de Estado». A. João Jardim diz mesmo que «se o PR provocar uma crise... devíamos... fazer cair isto tudo» e que «dando-se um golpe de Estado... PSD e CDS só têm que desacreditar o regime e nem porem os pés nas eleições».
Quem assim apoia a continuidade de governo da coligação, e ainda agora foi apontado no PSD como «exemplo», não paga os calotes nem cumpre as leis, chantageia os orgãos de soberania e propõe o golpe da «4ª República». Juntam-se-lhe os Amorim, o BES, o BANIF, o BPI, o BPN, a Carlyle, os próximos de S.Lopes, e as clientelas do Governo, que procuram fazer constar um «consenso», que não é fácil, nem no grande capital.
Fica claro o que querem estes senhores com a lamúria. Mas importa perceber melhor a putativa dupla fuga de S.Lopes para a chefia do PSD e do Governo e de D.Barroso para a C.Europeia - quando e como foi decidida e por quem?
«Situação inesperada», assim fizeram constar, mas, vistas bem as coisas, há indícios que a congeminação estava a andar há meses. Em Fevereiro, num clique, S.Lopes baixou o tom da «corrida a Belém», em Maio, no Congresso, deixou caír a «rebeldia» e recebeu em dote o aparelho «barrosista» do PSD.
Logo após a «banhada» das europeias, dia 18, a «forte possibilidade» de D.Barroso ir presidir à C.Europeia surge nos média. É improvável que, numa matéria sensível, discutida há meses, esta hipótese só tenha aparecido três dias antes. É bem mais plausível que a possibilidade estivesse há muito colocada confidencialmente, tendo Vitorino sido usado como «cavalo de Troia» da «solução» D.Barroso.
Assim, fez todo o sentido a presença de S.Lopes este ano no concílio Bilderberg, que – é sabido – certifica a alta confiança do grandíssimo capital e do imperialismo.
E resulta evidente a probabilidade da tramoia ter sido urdida paulatinamente por D.Barroso e S.Lopes, com a ajuda de Berlusconi, Bush & Cia, nas costas do PSD e do Governo, manipulando os portugueses e as instituições, num, esse sim, efectivo golpe de Estado – contra o regime, em seu mesquinho proveito e ao serviço de grandes e inconfessáveis intereses.
E ainda há quem hesite em convocar eleições. Já!


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