O dia D e os dias de Leninegrado

Raul Castro
A comunicação social procura transformar o chamado Dia D, o desembarque na Normandia, como o grande acontecimento que ditou a vitória sobre o nazismo na guerra de 1939.
«A França não esquecerá o que deve à América», disse, por exemplo, Chirac, o presidente francês.
Contudo, o desembarque na Normandia efectuou-se em 06.06.1944, e desde o início da última guerra mundial, em 01.09.1939, tinham já decorrido cinco anos, e menos de um ano depois o exército soviético entrava em Berlim, derrotando as tropas nazis.
Quem não tenha vivido a última guerra mundial, ficaria agora com a ideia de que não só o desembarque no Dia D foi a principal causa da derrota do Eixo, como tudo se teria passado como se a participação da União Soviética não tivesse sequer existido.
É evidente que o desembarque em 06.06.1944 foi um contributo importante para a derrota das tropas nazis, mas convém não esquecer que em tal desembarque participaram 150 000 homens, e que morreram 9387 norte-americanos e 5000 canadianos.
E que esse desembarque era, há muito, reclamado pela União Soviética, como forma de aliviar a pressão que as tropas nazis exerciam, além de contribuir para a derrota do Eixo nazi. Simplesmente, Churchill e Roosevelt adiaram o Dia D o mais possível, condenando a União Soviética a resistir sozinha à invasão das forças nazis, esperançados na derrota da União Soviética e do comunismo.
É estranho que tendo a União soviética perdido, na última guerra, 20 milhões de vidas humanas e conseguido resistir à invasão nazi e levando-a de vencida, até serem as tropas soviéticas as primeiras a chegarem a Berlim, agora tudo se passe como se os norte-americanos fossem os salvadores da Europa.

Sin­fonia de Le­ni­ne­grado»

Poderíamos aqui invocar tantas batalhas cruciais travadas pelo exército e pelo povo soviéticos após a invasão da União Soviética pelos nazis, em 22.06.1941, «sem declaração de guerra, sem qualquer pretexto» embora tivesse a Alemanha assinado «um pacto de não agressão», como a batalha de Moscovo ou de Estalinegrado, e tantas outras, mas apenas recordamos o que foi o cerco de Leninegrado («15 combates pela Liberdade», Ed. Verbo, 1979).
O cerco de Leninegrado iniciou-se em 06.07.1941, e esta cidade soviética de três milhões de habitantes viria a perder um milhão de civis, até à sua libertação, pelas tropas soviéticas, em Junho de 1944, após um cerco que durou cerca de três anos.
Num «Apelo ao Povo de Leninegrado», os defensores de Leninegrado escreveram:
«Er­gamo-nos como se fôs­semos um só homem para a de­fesa da nossa ci­dade, das nossas casas, da nossa fa­mília, da nossa li­ber­dade e da nossa honra. Cum­pramos o sa­grado dever de pa­tri­otas so­vié­ticos numa luta sem tré­guas contra um ini­migo im­pla­cável» (Claude Appel, «15 combates pela Liberdade», Ed. Verbo, 1979, p. 79).
Os bombardeamentos alemães «destruíram 4 de cada 10 casas», e os habitantes de Leninegrado «che­garam a fazer sopa com a cola re­cu­pe­rada nos pa­péis que for­ravam as pa­redes» (obra citada, p. 80-81).
No Inverno, com temperaturas que chegaram a atingir 30º negativos, «quei­mavam-se os pró­prios mó­veis, os li­vros e qua­dros» para obter um mínimo de aquecimento nas casas (obra citada, p. 81).
«Só no mês de De­zembro de 1941 mor­reram 52 000 pes­soas, tantas quantas mor­riam ha­bi­tu­al­mente num ano. Tornou-se im­pos­sível en­con­trar um caixão. Os corpos, en­voltos num lençol, eram con­du­zidos para o ce­mi­tério em pe­quenos trenós» (obra citada, p. 82).
A 08.041942, cerca de um ano após o início do cerco de Leninegrado, «como para ce­le­brar o fim da­quele In­verno atroz e afirmar a cer­teza da vi­tória, a Or­questra Fi­lar­mó­nica de Le­ni­ne­grado deu um con­certo pú­blico em que foi in­ter­pre­tada a “Sé­tima Sin­fonia”» co­nhe­cida por «Sin­fonia de Le­ni­ne­grado», do grande compositor Chostakovitch (obra citada, p. 84).
E ainda hoje, em todo o mundo, a «Sin­fonia de Le­ni­ne­grado» evoca o milhão de soviéticos que deram a sua vida numa contribuição decisiva para a derrota do nazi-fascismo.


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