Reciclagem

Anabela Fino
Se eu fosse homem, o que felizmente não é o caso, e outras razões não tivesse, o que infelizmente não sucede, estaria neste momento a congeminar na melhor maneira - votando na CDU, por exemplo - de penalizar este Governo em geral e alguns dos seus ministros em particular pela forma insolente como se dão ao luxo de ofender os portugueses do sexo masculino, mesmo quando, aparentemente, os pretendem defender.
Vem isto a propósito dos recentes dislates do ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira (LFP), e de mais uns quantos senhores do mesmo calibre que passaram um verdadeiro atestado de menoridade aos seus congéneres ao admitir a necessidade de criação de quotas para homens em profissões como a medicina.
Ao contrário de algumas mulheres, o que me escandaliza não é o facto de LFP achar que «a participação feminina pode estar de alguma maneira condicionada pelas suas responsabilidades em termos domésticos, em termos de vida familiar, porque tornaria essas mulheres menos disponíveis para uma profissão que requer 24/24 horas, no que diz respeito a cuidados que são inadiáveis».
Uma tal postura só pode vir, se não de um mentecapto ou de um pobre de espírito, pelo menos de um feminino-dependente, que é aquela espécie de seres que quando não tem por perto uma serviçal acredita que o mundo está virado do avesso.
É de admitir que LFP não consiga distinguir uma torradeira de um aspirador, não saiba que as camisas não se passam no micro-ondas, ignore que o papel higiénico não cresce nas casas de banho, não faça a mais pálida ideia como se estrela um ovo e desconheça que as latas de conserva se abrem antes de consumir o enlatado. Se deixada entregue a si própria e sem grande provisão de recursos para se mudarem para um hotel ou contratarem uma criada, esta espécie, naturalmente em vias de extinção, acaba a roer a sola dos sapatos e os naperons da cozinha.
O que escandaliza é que seja possível, num país dito desenvolvido, que exemplares deste tipo, obviamente ineptos, ocupem cargos públicos e, com a sua natural e lastimável estreiteza de pontos de vista, achem que todos os homens são igualmente incapacitados, pelo que há que lhes dar uma quota para ascenderem aos postos onde as mulheres chegam sem ajuda nenhuma.
O que escandaliza é que estes seres híbridos fruto de erros civilizacionais possam governar, quando toda a gente sabe que, de tão dependentes das mulheres, para sobreviverem necessitam de lhes sugar até ao tutano o seu direito à plena cidadania.
Uns disfarçados de machos latinos e outros de salvadores da pátria, estas excrescências de um passado que se julgava morto e enterrado estão de novo aí, tão pequenos que para parecerem grandes têm de matar a mãe.
Por incapazes de garantirem a sua própria sobrevivência, estes espécimes crêem estar activos 24/24 horas, sem sequer se darem conta de que basta uma coisa tão insignificante como uma peúga rota para se perderem no universo.
Já que não se pode exterminá-los, recorra-se ao voto para os remeter para um lugar mais apropriado, e dê-se-lhes um curso de formação para ver se, reciclados, ainda têm alguma hipótese de aprenderem a ser homens.


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