Um caso de polícia
Como se compreenderá não seriam grandes as expectativas quanto a um tratamento sério e isento da intervenção eleitoral da CDU por parte da comunicação social. Pelo que, com mais ou menos excepções, o tom preconceituoso e desvalorativo que predomina na cobertura da acção de campanha da CDU, não constitui surpresa. É o preço que sabemos ter de pagar pelo que somos, o que defendemos e propomos, os interesses que pomos em causa. Mas o Público constitui um verdadeiro caso de polícia. Ali não está só presente aquele sinal de preconceito que tende a dificultar o reconhecimento do mérito ou do valor do que se faz ou se afirma, ou aquela expressão de ignorância ou desconhecimento que contribui para desvalorizar ou sequer não perceber o que se propõe. Ali, naquele jornal, e na cobertura da campanha da CDU está presente bem mais que isso. Ali mora a assumida discriminação e a mais descarada manipulação, o recurso á mentira para justificar o que se decidiu insinuar, o uso dos argumentos mais imbecis para fazer passar o que lhe encomendaram, a ausência mais completa de critérios jornalísticos e deontológicos, a mercenarização da noticia ao serviço do interesse de outras candidaturas. Dir-se-á que não há aqui novidade, que depois de em tempo ido uma jornalista do citado matutino ter conseguido, para tentar desvalorizar a Festa do Avante, escrever que o palco da mesma tinha sido chegado á frente (!), não haverá que ficar surpreso pelo facto de quem cobre a campanha da CDU nos atribuir, mentindo sem ponta de decoro, a maioria numa dada autarquia para assim poder sustentar o comentário negativo que havia decidido ter de fazer. Dir-se-á que não há que estranhar, num jornal onde parece reinar a mais férrea e assumida censura sobre o que ali se escreve (de que o caso recente e curiosamente silenciado sobre o corte pelo director de uma noticia que punha em causa a ministra da Finanças que levou á demissão do conselho de redacção é exemplo), por maioria de razão pudesse haver lugar para se escrever com um mínimo de verdade sobre o PCP e a CDU. Dir-se-á que sendo aquele jornal o exemplo mais acabado do que com verdade se conhece sobre a dependência dos principais órgãos de comunicação social dos interesses económicos que os suportam e alimentam, esperanças não haveria de um tratamento justo e igual da nossa actividade. Mas ainda que assim seja, bastaria registar, sem pouca curiosidade, a candura e bonomia dedicadas a outras candidaturas afirmadas de esquerda, para se poder dizer que o Público, mais que um jornal, é um caso de polícia.