Mais ou menos...

Leandro Martins
Enquanto, neste tempo de campanha, se vai fortalecendo nos media a mensagem da direita, dividida por uma longa série de partidos que se reclamam de um vasto mas enganador espectro político-ideológico, a divulgação das ideias do passado, hoje tão presentes na comunicação dominante, continua a fazer o seu caminho, aparentemente à margem da batalha eleitoral.
De facto, se espremermos (com luvas, para não manchar irremediavelmente as mãos) os diferentes discursos dos partidos e formações à direita do PCP e da CDU, ali incluindo o BE que tanto se esforça por apresentar-se como de «extrema-esquerda», se lhes extirparmos o pequeno insulto, a alfinetada traiçoeira ou o slogan de encher o olho, o parentesco acaba por aparecer, arredada a rivalidade de clãs, de famílias ou de personalidades.
A entrevista, por exemplo, que Hernâni Lopes deu na TV2, esse antro da «sociedade civil» onde pontifica o Público de José Manuel Fernandes e a Rádio Renascença de Graça Franco, é um bom exemplo da convivência de ideias que no fundamental une esses partidos e personalidades. Como diria Hernâni Lopes, é tudo uma questão de ritmo, há os que preferem ir mais depressa, e os que pensam que devagar se vai ao longe. Hernâni, que se apresenta como mandatário da lista PSD/CDS, vai ao ponto de afirmar que o essencial é que haja «convergência entre os deputados portugueses» no Parlamento Europeu – certamente não está a incluir nesse guisado a CDU - para avançar numa reforma do «modelo social europeu» que o aproximasse do «modelo social americano».
Em matéria de convergência, Hernâni sabe do que fala. Saiu do PSD nos anos setenta, para vir mais tarde a ser o ministro das Finanças de Mário Soares no Governo PS/PSD. É hoje um apoiante de Durão Barroso. Sousa Franco, por seu lado, também tem experiência destas coisas. Saiu do PSD com Hernâni Lopes e, depois de uma passagem pela rápida ASDI, veio mais tarde a integrar o elenco ministerial de Guterres, donde saiu a dizer mal para tornar, pela mão de Ferro Rodrigues, ao seio dos «socialistas», encabeçando a lista PS.
Com défice ou sem ele, o caminho de ambos é convergente e aponta para uma Europa americana. Rejuvenescida, como diria J. M. Fernandes, que a acha, como Hernâni, «rica mas gorda e envelhecida». O director do Público vai mais longe. Quer preservar o «Ocidente» e, socorrendo-se da revista The Economist, aponta o caminho. O da unidade: «Quando actuam de forma unida», lembra, «as democracias ricas são capazes de mobilizar uma força política, moral e também militar esmagadora». Para esmagar quem?


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