Haiti

«Combatentes pela liberdade»… outra vez!

Pedro Campos
Gerard Latortue, primeiro-ministro prêt-à-porter do Haiti, acaba de referir-se aos sediciosos que se levantaram contra Jean Bertrand-Aristide como «combatentes pela liberdade», o mesmo título que mereceram os talibã de Afeganistão, e que, alguns anos depois de terem feito o frete ao imperialismo contra a ex União Soviética, foram implacavelmente bombardeados pelo tio Sam.
Latortue, para que não ficassem dúvidas, foi muito claro: «Nos Estados Unidos
pensavam que o povo de Gonaives era de assassinos e bandidos (…) mas eles eram
combatentes pela liberdade». Vejamos quem são alguns deles.
1. Butteur Metayer, líder do «Exército Canibal» - Com os seus 33 anos de idade já deu muitas voltas. Inicialmente era partidário do partido Família Lavallás (do ex presidente Aristide) mas depois passou-se, com armas e bagagens, para o outro extremo, alegadamente porque este teria ordenado a morte do seu irmão, Amyot Metayer. Actualmente é o líder de uma das pandilhas mais ferozes da oposição, integrada por ex soldados do regime de general Raoul Cedras, que se exilou depois de um golpe de estado contra Aristide, que levou a fasquia dos mortos até aos 4 mil.
2. Jodel Chamblain, especialista em atrocidades - Outro dos «combatentes pela liberdade» é este ex sargento de 50 anos, que fugiu para a República Dominicana em 1994. Com o apoio de Bush pai, chefiou os famosos «esquadrões da morte» e viveu durante algum tempo nos Estados Unidos. É considerado responsável de vários assassinatos, entre eles o de Antoine Izmery (11 de Setembro de 1993) e do ministro da Justiça, Guy Malary (14 de Outubro de 1993), assim como do massacre de Raboteau (24 de Abril de 1994).
É um dos fundadores da FRAPH, organização apontada por Amnistia Internacional como autora de alegados abusos dos direitos humanos, especialmente contra milhares de seguidores de Aristide. É suspeito de ter participado no massacre eleitoral de 1987, do qual resultou a morte de 34 votantes.
3. Guy Philippe, golpista contra Preval - Inimigo acérrimo de Chamblain mas agora aliado deste na luta contra Aristide, é um golpista ao jeito de Washington, na medida em que recebeu treino militar nos Estados Unidos e no Equador. Foi igualmente funcionário de segurança em meados de 95 e conspirador contra o governo de então, o de René Preval. Por esta razão fugiu de Haiti em 2000. É um dos fundadores da Frente Revolucionária para o Avanço e o Progresso do Haiti, esquadrões da morte, criados e financiados pela CIA.
De origem mulata – o que é importante num país profundamente dividido por razões de tipo racial – Philippe recebeu asilo diplomático na embaixada dos EUA aquando do golpe contra Preval.
4. André Apaid e Jacques Kétant, os senhores do dinheiro - Este quadro, ainda que breve, ficaria definitivamente coxo se não retratasse estas duas personagens num par de pinceladas.
Apaid, de nacionalidade norte-americana e financiador do governo de Duvalier, é o chefe do Grupo dos 184, uma coligação de magnatas locais, sindicalistas traidores e alegadas associações civis, com apoio financeiro da Fundação Nacional para a Democracia, uma sucursal da CIA.
Foi o organizador de uma provocação em Cité Soleil. Com a presença de Stéphane Grumberg, secretário da embaixada francesa, organizou um comício num bairro
maioritariamente partidário de Aristide, o que levou a um sério incidente com o saldo de 5 mortos e 40 feridos de bala. Suspeita-se que foram guardas franceses os autores do disparos.
Kétant também é homem de muito dinheiro. Por tráfico de drogas foi extraditado para os EUA pelo próprio Aristide e julgado em Miami. Originalmente condenado a 27 anos de prisão, optou por um acordo judicial que lhe permitiu reduzir a pena, ao confessar ter introduzido 30 toneladas de cocaína nos Estados Unidos... e acusar Aristide de ser «um barão da droga, que controla o tráfico de estupefacientes» e de ter transformado o Haiti num centro de distribuição de drogas. Pouco depois destas declarações, um contingente militar dos EUA voltava a invadir o Haiti.
O resto é história: sob a ameaça de vários fuzis M-16, e na presença de James B. Foley, embaixador dos EUA, e de Thierry Burkard, embaixador da França, Aristide era apeado do governo, «empacotado» e metido num avião com destino ao exílio.
Apesar de todas as limitações e de relativamente domesticado, Aristide continuava a ser um «indesejável» e, por outro lado, o Haiti é um bom ponto de apoio para provocações contra Cuba e um ensaio para um assalto a Caracas.


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