Debate mensal evidencia os resultados da «retoma» anunciada pelo Governo

Portugal na cauda da Europa

Redundou em completo falhanço a tentativa do Governo para fazer passar, faz amanhã oito dias, uma mensagem de optimismo quanto ao futuro da economia portuguesa.

O Go­verno é o prin­cipal res­pon­sável pela re­cessão

O pretexto fora a retoma e a competitividade, tema escolhido pelo Primeiro-Ministro para o debate mensal com o Parlamento.
Durão Barroso surgiu assim apostado em valorizar alegados sinais de recuperação económica, pondo o acento tónico de todo o seu discurso no que disse serem as «consequências positivas» para o País pelo facto de se ter registado, em 2003, um défice de 2,8 por cento, valor inferior ao limite de três por cento imposto pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento para os países da zona euro.

Piada de Car­naval

Sucede, porém, que as contas do chefe do Governo, à excepção da sua maioria parlamentar, não convenceram os partidos da oposição, ressaltando ao longo do debate os testemunhos que atestam o afastamento de Portugal da média europeia.
Esta foi, aliás, uma das acusações mais ouvidas, tendo motivado um rol de críticas a Durão Barroso pela falta de rigor por si revelada nos números que apresentou no hemiciclo.
Foi considerado mesmo que o Governo pratica uma «contabilidade inventiva e fantasiosa». «Trouxe-nos algumas piadas no seu discurso, mas já não estamos no
Carnaval», ironizou, na sua intervenção inicial, o Secretário-Geral do PCP, Carlos Carvalhas, para quem o resultado da «retoma de ficção» do Governo poder ser aferido no facto de «Portugal estar na cauda da Europa» e de aí continuar até 2006.
«Portugal está no último lugar da União Europeia em termos de desenvolvimento económico, com umas finanças públicas não consolidadas», acusou o líder comunista, lembrando que o nosso País «tem a mais elevada taxa de crescimento de desemprego de toda a UE e países aderentes e a mais alta taxa de desemprego qualificado».

Mo­delo sem fu­turo

Inversamente, recordou Carvalhas, Portugal tem os mais baixos salários e reformas da UE, assistindo-se à contínua redução dos salários reais, bem como à perda pelo terceiro ano consecutivo do poder de compra dos trabalhadores da administração pública.
Daí que, para o dirigente comunista, a política do Governo seja a principal «responsável pela recessão, pelo desemprego, pelo atraso e debilidade da retoma».
«As políticas de direita com o seu modelo de mão-de-obra barata, com uma especialização produtiva desqualificada, de baixa tecnologia e valor acrescentado, com as privatizações e uma política de educação, de investigação e formação de exclusão são as responsáveis pela baixa produtividade média portuguesa», sustentou o Secretário-Geral do PCP, que lamentou igualmente o facto de «o nosso mercado» não estar a ser defendido.
Fundamentando, citou um inquérito junto dos empresários mais activos em todo o mercado europeu, segundo o qual os mercados de mais difícil acesso por ordem crescente são o Reino Unido, a Itália e a França, destacando-se, «entre os mais fáceis», observou Carvalhas com humor, a «poderosíssima economia portuguesa».

Sub­ser­vi­ência aos po­de­rosos

Esta é, aliás, uma das razões que explica a crescente submissão da produção nacional pela estrangeira.
«Mas o que há que esperar de um Primeiro-Ministro que vai a Espanha e num comício do PP afirma num feérico e resplandecente "portunhol" que Portugal está com o PP», perguntou Carlos Carvalhas, que se questionou ainda quanto à legitimidade de um Primeiro Ministro declarar o apoio a um partido e a um político estrangeiro.
«Não é com subserviência a Aznar, a Bush e a Berlusconi que se defende a produtividade e a competitividade da economia portuguesa. A produtividade e a competitividade defendem-se com políticas que estimulem e valorizem a produção nacional, o mercado interno, o investimento produtivo, uma especialização mais qualificada e valorizada», sublinhou o dirigente do PCP.

Com­pe­ti­ti­vi­dade da eco­nomia
O que falta ao País

A produtitividade e competitividade da nossa economia, questão que tem servido de pretexto e justificação para a política de baixos salários e para o ataque aos direitos laborais, foi uma das matérias que serviu de mote à intervenção do Secretário-Geral do PCP.
«Não haverá uma economia com elevada produtividade e competitividade quando, por exemplo, uma trabalhadora têxtil ao fim de 35/40 anos de carreira profissional na mesma empresa levar para casa ao fim do mês um valor líquido de salário inferior ao salário mínimo», sublinhou o dirigente comunista, considerando que a mesma premissa se aplica «enquanto milhares de trabalhadores tiverem de prolongar a jornada de trabalho de sete e oito horas diárias, em mais umas horas, de biscates ou segundo emprego para completar um salário de miséria».
«Não haverá em Portugal uma economia de elevada produtividade e competitividade quando se oferece à maioria dos jovens um trabalho precário, um baixo salário ou a emigração», acrescentou, concluindo: «Não haverá em Portugal uma economia com elevada produtividade e competitividade quando o governo cruza as mãos perante as deslocalizações e o encerramento de empresas e mantém no desemprego dezenas de milhares de licenciados e meio milhão de desempregados e quando os investigadores não têm lugar em Portugal».



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