FMI ameaça Argentina

A bolsa ou a vida

As negociações entre o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Argentina para a revisão do plano de pagamento da dívida externa daquele país chegaram a um impasse. O FMI exige mais dinheiro. O governo argentino recusa hipotecar o futuro.

Estão em causa «compromissos de gente que desonrou a Argentina»

No final da semana passada, o ministro da Economia argentino, Robert Lavagna, encontrou-se, em Miami, com representantes do FMI e do Banco Mundial (BM) para tentar resolver o diferendo com as instituições de crédito internacionais.
Lavagna reafirmou que a Argentina não têm condições para saldar a dívida contraída junto do BM se não chegar a acordo em relação ao alargamento do prazo de pagamento do débito com o FMI, que reclama, até ao próximo dia 9 de Março, o vencimento de uma letra de 3,1 mil milhões de dólares.
Em resposta, David Ferranti, vice-presidente do BM e responsável pela área da América Latina naquela organização, anunciou que não serão concedidos mais empréstimos aquele país, apesar do executivo de Buenos Aires ter transferido o montante referente aos juros dos 800 milhões de dólares em dívida.
Quanto ao FMI, Horst Köhler e Anne Krueger, presidente e vice-presidente, respectivamente, insistiram na fórmula «a bolsa ou a vida» que levou a Argentina à maior crise económica da sua história, enquanto preparam a deslocação de um directório financeiro a Buenos Aires para avaliar o cumprimento do plano de pagamentos e a «boa fé» do governo junto das multinacionais e das instituições de crédito.

Kirchener reclama justiça e soberania

Depois de ter criticado duramente, na Cimeira de Chefes de Estado da América Latina, em Monterrey, no México, a política dos EUA para a região e o projecto norte-americano de Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA), o presidente da Argentina, Nestor Kirchener, exigiu respeito pela soberania e credibilidade do seu governo.
Kirchener afirmou que estão em causa reembolsos de «compromissos de gente que desonrou a Argentina», pelo que « pagar mais do que o que propomos significa avançar com novos ajustes sobre a sociedade argentina» e esta «deve estar atenta».
No fim-de-semana, num comício na capital, Kirchener reiterou ainda o que tem vindo a afirmar nos últimos dez meses, altura do início das negociações com o FMI. A Argentina está disposta a pagar uma parte da dívida aos credores privados, tendo para tal estabelecido já uma plataforma com um consócio bancário, mas o FMI tem que aceitar o segundo projecto de revisão do plano de pagamentos e rever os prazos de endividamento do país junto da instituição. Caso contrário, continuou o presidente, a Argentina não irá usar as suas reservas para saldar a dívida, uma vez que tal implicaria a aplicação de medidas contrárias à recuperação económica e à elevação das condições de vida do povo para responder a interesses particulares, razões centrais do descalabro daquela que já foi considerado uma das dez nações mais desenvolvidas do mundo.


EUA pressionam com embargo

Um juiz norte-americano embargou pelo menos dez propriedades do Estado argentino em solo americano, supostamente como garantias contra créditos reclamados por entidades privadas.
Em causa está a queixa de um fundo de investimentos, a NML Capital, cuja sede está registada nas ilhas Cayman, conhecidas por funcionarem como «máquina de lavar» dinheiro, onde lucros de proveniência duvidosa são depositados sem mácula e ainda gozam do «milagre da multiplicação dos pães».
O governo de Kirchener já apresentou recurso da decisão, invocando que os imóveis gozam do estatuto de imunidade diplomática previsto na Convenção de Viena e, a par de manifestações de repúdio nas ruas de Buenos Aires, a resposta popular não tardou.
Na quinta-feira, depois de ter sido tornada pública a decisão do tribunal dos EUA, a organização argentina de desempregados «Bairros de pé» lançou um boicote às cadeias comerciais norte-americanas estabelecidas no país, afectando o volume de negócios de empresas como a McDonald’s, os hotéis Sheraton ou as sucursais do Citibank.


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