No posto de trabalho

Francisco Silva
Aqui estou eu para mais uma reunião com pessoas de diversos pontos da Europa. Outra vez longe do quase usual habitat! Desta vez estou numa outra capital europeia. Já escolhi um lugar à volta da mesa grande onde me sentar e apresto-me, como os outros do pequeno grupo, para o começo do trabalho que nos trouxe aqui. Já só faltam poucas dezenas de segundos. Depois de pagar a dormida no Hotel, viemos com mala e computador até ao local de reunião, ambos próximos do aeroporto. Todos menos os que aqui habitam, é certo. Vamos almoçar por aqui e, para o fim da tarde, táxi e zás, aeroporto, com o fito de voltarmos hoje a casa. Como já se vê, convém ser assim para não perder(?) tempo nem gastar dinheiro talvez escusado. Há mesmo quem - os de locais pior servidos de ligações de transporte - vá saindo ainda as reuniões não acabaram. Estas reuniões não terminam; é assim: vão terminando. Mas sempre as mesmas compreensíveis mas obsessivas preocupações!
O «meu» computador, o laptop que anda sempre comigo, ou quase - será um exagero afirmá-lo? -, pôde ser ligado à tomada de corrente mais próxima do poiso que escolhi. Tomada que está a funcionar. Portanto, já está operacional o computador. Deste ponto de vista. Ou seja, sem problemas de alimentação. O mesmo não está a acontecer com parte dos meus colegas. Os que escolheram lugares à minha direita para se sentarem. E, por mais que os serviços técnicos da empresa que acolhe a nossa reunião procurem resolver o problema, não o estão a conseguir. E - já o percebi - não o vão conseguir resolver. Pois é, aí está outra vez um espeto de pau. Na casa deste ferreiro. Eles - os meus colegas - vão vendo a bateria do seu computador a descarregar e devem estar a pensar, com algum mitigado desespero, que não vão poder dispor do seu instrumento de trabalho até ao fim da reunião. A não ser que vamos trocando - compartilhando - a ligação à tomada que funciona à medida que cada um consiga carga suficiente na bateria do seu computador para algum tempo de autonomia! Aliás, uma prática que vai acontecendo aqui e acolá neste tipo de reuniões.
Também a ligação rádio - sem fios - para acesso à Internet através da WLAN1 á sinal de estar a funcionar - pois é, disponho mesmo de uma dessas placas que encaixadas numa tomada lateral do computador permite tal tipo de acesso. E como ontem e anteontem estive noutra reunião, noutra sala, noutra terra e noutro país, onde também podia ter acesso WLAN, e ao sair à pressa de lá para o aeroporto, para voar até aqui, nem cheguei a desencaixar a tal placa - o que deveria ter feito, mas (lá vem a desculpa do preguiçoso) foi tudo tão rápido -, aqui, onde estou hoje, ao colocar o computador em cima da mesa, ele já lá vinha com a tal placa no sítio devido. Bom, e como dizia, a ligação à Internet dá sinal de estar a funcionar. Com efeito, aqui, se bem que a intensidade do sinal captado, segundo leio no ecrã do computador, não seja excelente, antes mais se inclinando para um valor mais baixo que elevado, é, no entanto, suficiente para conseguir uma condição estável de ligação para acesso à Internet.
Mas isto - a energia eléctrica e a ligação WLAN (o meio de transmissão de acesso) estarem operacionais - não é tudo [e os segundos a passarem e a reunião a ter de começar!]. Ainda falta ver o que se passa com a configuração da ligação. Falta ver se está tudo bem instalado. Isto é, se estivesse a querer ouvir rádio ou ver televisão, diria que tinha que assegurar a sintonia adequada. Se fosse para telefonar, diria que tinha que averiguar se o número chamado respondia. Com efeito, ter o meio de transmissão de acesso operacionalizado não é tudo - ainda é preciso estabelecer a ligação concreta, para «sobre ela» desenvolver a(s) sessão(ões) de comunicação pretendida(s).
Se me tivesse(m) aparecido logo a página inicial, a homepage, do(s) sítio(s) buscado(s) nem sequer me tinha preocupado com esta questão. Normalmente a configuração do computador está preparada para a detecção automática das ligações. Mas, na reunião de onde venho alteraram-mas (com minha autorização, claro) e agora não estou a conseguir ver (ligar) as páginas da Internet por cujo endereço estou a chamar. Como respostas obtenho a «célebre» informação de que o servidor não pôde ser encontrado. Desisto. Não, não vou pedir ajuda.
Vou é estar com atenção à oralidade, vou olhar para os slides projectados, mas não vou olhar para os documentos porque não tenho nem vão distribuir fotocópias. E vou intervir quando achar necessário!
Começou a reunião.

(1) WLAN – Wireless LAN (Local Access Network), também conhecido por Wi-Fi.


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