O peru do Natal
Antes de arrefecer, já o peru gelava, na bandeja que Bush carregou, em cerimónia natalícia, entre os soldados que mandara para o Iraque - alguns já de lá não saem, mesmo que os seus restos venham a ser sepultados nas cidadezinhas dos Estados Unidos, saudados pelo pranto dos familiares, atónitos por lhes terem mentido, transformado o passeio em guerra e a guerra relâmpago num prolongado calvário.
Perdoem-me os leitores o falar-vos deste peru, mas a coisa veio com o espírito natalício - este alarido de alegria artificial, cheio de rabanadas e filhós, de embrulhos dourados, de hipermercados cheios de azáfama e sininhos a repicar por entre anúncios de promoção, «veja o nosso artigo de folheto».
O peru, sintomaticamente, é ave americana e, antes de entrar na capoeira dos europeus ou de passear nos montes em rebanho, andava livre por entre as moitas dos vastos territórios que vieram a ser os Estados Unidos. Hoje, antes da águia que dá agressividade à política imperial, é o peru a ave popular dos americanos, refeição de Dia de Acção de Graças. Um passinho de pardal adiante e transformou-se em refeição de Natal europeia. Já não é a mesma, a carne desinfectada pelos nitrofuranos e amaciada pelas hormonas. E, a condizer com a alma caridosa do Natal, não será descabido relembrar que, apesar de tantas «alegrias familiares», há muita gente que não chega à rabanada ou à filhó, quanto mais ao peru. Para já não falar do bacalhau, esse raro peixe que, de popular, se transformou em luxo, por obra e graça da PAC e da Europa onde nos forçaram a entrar.
O peru, ataviado a preceito, ave eleita para uma fraude presidencial, é bem escolhido símbolo da mentira, nestes tempos de lágrima impostora, de fraternidade aldrabada, de alegria falsa, de paz enganosa.
Tal como desconfiamos do júbilo falaz daquele repórter que, de sorriso laroca, nos deseja um santo Natal volteando entre os preparativos de uma consoada rica, com a gente a saber o preço a que as coisas estão e o número de trabalhadores no desemprego, já não acreditamos em boas intenções. Como aquela dos deputados do PSD que mandaram um cheque aos soldados da GNR que, no Iraque, vão passar um Natal de medo. A intenção era certamente a que movia as doces «madrinhas» do Movimento Nacional Feminino que cobriam, com o manto diáfano da caridade, a nudez crua da guerra colonial.
Perdoem-me os leitores o falar-vos deste peru, mas a coisa veio com o espírito natalício - este alarido de alegria artificial, cheio de rabanadas e filhós, de embrulhos dourados, de hipermercados cheios de azáfama e sininhos a repicar por entre anúncios de promoção, «veja o nosso artigo de folheto».
O peru, sintomaticamente, é ave americana e, antes de entrar na capoeira dos europeus ou de passear nos montes em rebanho, andava livre por entre as moitas dos vastos territórios que vieram a ser os Estados Unidos. Hoje, antes da águia que dá agressividade à política imperial, é o peru a ave popular dos americanos, refeição de Dia de Acção de Graças. Um passinho de pardal adiante e transformou-se em refeição de Natal europeia. Já não é a mesma, a carne desinfectada pelos nitrofuranos e amaciada pelas hormonas. E, a condizer com a alma caridosa do Natal, não será descabido relembrar que, apesar de tantas «alegrias familiares», há muita gente que não chega à rabanada ou à filhó, quanto mais ao peru. Para já não falar do bacalhau, esse raro peixe que, de popular, se transformou em luxo, por obra e graça da PAC e da Europa onde nos forçaram a entrar.
O peru, ataviado a preceito, ave eleita para uma fraude presidencial, é bem escolhido símbolo da mentira, nestes tempos de lágrima impostora, de fraternidade aldrabada, de alegria falsa, de paz enganosa.
Tal como desconfiamos do júbilo falaz daquele repórter que, de sorriso laroca, nos deseja um santo Natal volteando entre os preparativos de uma consoada rica, com a gente a saber o preço a que as coisas estão e o número de trabalhadores no desemprego, já não acreditamos em boas intenções. Como aquela dos deputados do PSD que mandaram um cheque aos soldados da GNR que, no Iraque, vão passar um Natal de medo. A intenção era certamente a que movia as doces «madrinhas» do Movimento Nacional Feminino que cobriam, com o manto diáfano da caridade, a nudez crua da guerra colonial.