Crimes contra a humanidade

José Casanova
A Comissão Iraquiana dos Direitos Humanos (CIDH) apresentou um balanço das violações de direitos humanos praticadas pelas tropas que ocupam o país. Trata-se de um balanço parcial, muito incompleto e que, parece, apenas se reporta a situações posteriores à entrada das tropas ocupantes em Bagdad. No entanto, dá para se ficar com uma ideia das preocupações humanitárias do Império, do seu apego à liberdade e à democracia, do seu desempenho enquanto supremo representante dos forças do bem. O relatório da CIDH relata alguns casos concretos ocorridos. A matança de Samarra é um deles: no dia 30 de Novembro, as tropas norte-americanas, bombardearam um bairro populacional da cidade de Samarra, assassinando 52 pessoas, entre elas 10 mulheres e 29 crianças com menos de quinze anos. Outro caso: a CIDH acusa as tropas de ocupação de, no dia 28 de Novembro, terem detido e assassinado 14 cidadãos iraquianos, sem qualquer outro motivo que não fosse o de, «com esta acção vingativa contra cidadãos inocentes, pretender ocultar as perdas das tropas norte-americanas e britânicas causadas pela legítima resistência iraquiana» - e talvez, também, por necessidade de distracção, de divertimento, de alimentação da auto estima das tropas de ocupação... (são muitos, como se sabe, os caminhos que conduzem à elevação da auto estima dos tiranos e dos seus servos, mas o mais utilizado desses caminhos é o que desemboca na selvajaria, na brutalidade, na barbárie).
O balanço das violações de direitos humanos praticadas pelas tropas ocupantes, revela bem o humanismo que sustenta a ocupação do Iraque – ocupação apoiada por habituais lacaios e serventuários do Império: os governos da Grâ-Bretanha, da Itália, da Espanha, de Portugal... que, assim, com as mãos manchadas de sangue, se tornam cúmplices dos crimes praticados. Eis alguns dos números e exemplos apresentados pela CIDH: detenção de 17488 cidadãos e cidadãs; 412 execuções sem julgamento; aplicação indiscriminada da tortura provocando, entre outras consequências, a invalidez de 620 pessoas; 6100 pessoas desaparecidas; 179 casos conhecidos de assassinatos de pessoas que nada tinham a ver com a resistência. É claro que a CIDH não sabe nem da missa metade mas o que sabe é indiciador da dimensão e da gravidade dos crimes contra a humanidade que, às ordens do Governo dos EUA, estão a ser cometidos no Iraque.



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