«Paz sim, guerra não»
Centenas de pessoas manifestaram-se, sábado, no Largo do Camões, em Lisboa, contra a ocupação e o envio de militares da GNR para o Iraque. Os protestos estenderam-se ao Pacote Laboral e às propinas do Ensino Superior.
É no Iraque que se resiste e luta contra a ocupação
Nem mesmo a chuva, nem o já normal aparato policial, conseguiu demover as pessoas que, através da sua presença, exigiram, mais uma vez, a devolução da soberania ao povo iraquiano e o cancelamento do envio do contingente da GNR para o Iraque.
O vermelho predominava por entre a multidão que aos poucos enchia o Largo do Camões. Empunhando bandeiras, muitas das quais do PCP e da JCP, centenas de pessoas, crianças, jovens e menos jovens, erguiam cartazes onde se podia ler «Todos juntos contra a ocupação do Iraque», «A paz conquista-se com a luta dos povos dizendo não à guerra!» e «GNR para o Iraque não!». Entre os manifestantes encontravam-se vários dirigentes comunistas entre os quais Carlos Carvalhas, Albano Nunes, Bernardino Soares, Jorge Pires, José Casanova e Manuela Bernardino.
«A invasão e posterior ocupação do Iraque pelos EUA e os seus mais fieis aliados, à revelia do Conselho de Segurança das Nações Unidas, apesar do clamoroso repúdio da opinião pública, teve como pretexto a posse pelo Iraque de armas de e ligação do regime iraquiano à Àl-Qaeda. Seis meses volvidos nenhuma dessas alegações se confirmaram, a ocupação mantém-se e não obstante os EUA terem declarado oficialmente o fim da guerra no dia 1 de Maio todos os dias se verificam confrontos militares», denunciou, no início do protesto, o apelo das organizações promotoras da concentração, lido por Fátima Messias e Sandra Benfica.
Durante o encontro, foi ainda dada a informação, para além das manifestações que se realizaram um pouco por todo o mundo, de duas concentrações, que se estavam a realizar no mesmo dia, em Portugal, uma no Porto e outra em Beja.
Curiosamente, ao contrário do que muitos possam ou queiram levar a pensar, as lutas portuguesas são conhecidas além fronteiras. Foi o caso da ANSWER, que organizou manifestações nas ruas de Washington e São Francisco pela retirada das tropas norte-americanas do Iraque, que saudou, em carta enviada, os trabalhadores portugueses e as suas lutas, nomeadamente contra a privatização dos serviços públicos. Também a Associação de Paz da Turquia, manifestou a sua solidariedade para com o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) - uma das 58 entidades organizadoras da concentração em Lisboa -, e a todos os activistas da paz portugueses.
Privatização no horizonte
Entre os protestos contra a guerra e pela paz, houve ainda espaço para contestar a política do Governo, particularmente o aumento das propinas, pela voz da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa.
«O Governo PSD/CDS-PP mantém a sua política contrária aos interesses nacionais, prejudicando o povo português no que toca às questões do trabalho, da Segurança Social e da Saúde, contrariando os direitos constitucionais justamente alcançados na Revolução de Abril», realçou Paula Santos.
«O desejo de privatização de todos os graus de ensino já se avista no horizonte», afirmou a estudante, sublinhando que este «é um momento de brutal ataque ao Ensino Superior, com o aumento das propinas em cerca de 140 por cento, o que torna o ensino cada vez mais elitista».
«Não podemos pactuar com estas medidas seguidistas dos interesses norte-americanos, em que o Governo português se dispõe a gastar dinheiro com forças policiais e não invista na qualificação dos portugueses», continuou Paula Santos realçando que a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa considera que a «luta pela paz no mundo é determinante para a construção de um mundo melhor e mais justo, onde a solidariedade entre os povos se perspectiva».
Igualmente crítico foi José Guilherme da Associação para a Taxação das Transacções Financeiras Para o Apoio ao Cidadão que considerou «ilegítima e criminosa» a presença dos norte-americanos no Iraque.
Lutar contra a ocupação
«A razão mesmo vencida não deixa de ser razão». Foi com esta citação, de António Aleixo, que Carlos Carvalho, da CGTP-IN, iniciou a sua intervenção, fortemente aplaudida, também pelos turistas que passeavam naquela zona. Criticando os órgãos de comunicação, que omitiram por completa a iniciativa, Carlos Carvalho falou na luta «heróica, corajosa e determinada» do povo iraquiano. «É no Iraque que se resiste e luta contra a ocupação», afirmou o sindicalista, ressalvando que «terroristas» são aqueles que invadiram o território dos iraquianos.
Sobre o contributo de 17,5 milhões de euros, o sindicalista foi claro: «Gastar um euro que fosse para construir o que eles (norte-americanos e britânicos) destruíram é, no mínimo, imoral, uma vergonha e um insulto aos trabalhadores e ao povo português».
O conclusão das intervenções esteve a cargo de Domingos Lopes, vice-presidente do CPPC. O dirigente explicou que «a guerra foi feita em nome das armas de destruição maciça, que não existem, em nome do terrorismo, que se agravou, e em nome da democracia, que é o caos».
Sobre o Governo português, Domingos Lopes afirmou: «o xerife Durão Barroso mentiu ao povo português. Mentiu a todos nós», disse, referindo-se às provas de armas de destruição maciça que o primeiro-ministro disse ter visto. Por isso, continuou, «é nossa obrigação mostrar a todos que a resolução 1511 não apaga as mentiras e as mortes», insistiu o vice-presidente do CPPC. «É preciso lutar para que o mundo não ande a reboque do xerife, para que o império não mande em nós», concluiu.
O protesto, para além dos habituais discursos, contou com a participação da música de Felipe Narciso e de um momento de poesia do actor Álvaro Faria. Durante o encontro, foi ainda pintado a grafite uma enorme parede, de papel, contra o envio do contigente da GNR para o Iraque.
Porto
Uma pirâmide de protesto
A concentração de paz no Porto levou muitas dezenas de pessoas à Praça da Batalha, onde se ergueu uma pirâmide de protesto contra a escalada de violência no Médio Oriente, a ocupação do Iraque, e a febre belicista alimentada pelo governo norte-americano.
A uma só voz, os manifestantes voltaram a exigir a paz, condição necessária à convivência equilibrada entre os povos e a um futuro de justiça e progresso social, condenando todos os que, em nome do lucro, de interesses económicos particulares, subjugam povos inteiros, condenando-os à opressão e à miséria.
Uma palavra de repúdio foi também dirigida ao Grupo Trilateral, composto pela elite capitalista, administradores políticos tecnocratas, entre outras figuras convidadas, que reunira no Porto nesse mesmo dia, quase em absoluto segredo, discutindo à porta fechada, e à medida dos seus interesses de classe, o futuro da humanidade.
O vermelho predominava por entre a multidão que aos poucos enchia o Largo do Camões. Empunhando bandeiras, muitas das quais do PCP e da JCP, centenas de pessoas, crianças, jovens e menos jovens, erguiam cartazes onde se podia ler «Todos juntos contra a ocupação do Iraque», «A paz conquista-se com a luta dos povos dizendo não à guerra!» e «GNR para o Iraque não!». Entre os manifestantes encontravam-se vários dirigentes comunistas entre os quais Carlos Carvalhas, Albano Nunes, Bernardino Soares, Jorge Pires, José Casanova e Manuela Bernardino.
«A invasão e posterior ocupação do Iraque pelos EUA e os seus mais fieis aliados, à revelia do Conselho de Segurança das Nações Unidas, apesar do clamoroso repúdio da opinião pública, teve como pretexto a posse pelo Iraque de armas de e ligação do regime iraquiano à Àl-Qaeda. Seis meses volvidos nenhuma dessas alegações se confirmaram, a ocupação mantém-se e não obstante os EUA terem declarado oficialmente o fim da guerra no dia 1 de Maio todos os dias se verificam confrontos militares», denunciou, no início do protesto, o apelo das organizações promotoras da concentração, lido por Fátima Messias e Sandra Benfica.
Durante o encontro, foi ainda dada a informação, para além das manifestações que se realizaram um pouco por todo o mundo, de duas concentrações, que se estavam a realizar no mesmo dia, em Portugal, uma no Porto e outra em Beja.
Curiosamente, ao contrário do que muitos possam ou queiram levar a pensar, as lutas portuguesas são conhecidas além fronteiras. Foi o caso da ANSWER, que organizou manifestações nas ruas de Washington e São Francisco pela retirada das tropas norte-americanas do Iraque, que saudou, em carta enviada, os trabalhadores portugueses e as suas lutas, nomeadamente contra a privatização dos serviços públicos. Também a Associação de Paz da Turquia, manifestou a sua solidariedade para com o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) - uma das 58 entidades organizadoras da concentração em Lisboa -, e a todos os activistas da paz portugueses.
Privatização no horizonte
Entre os protestos contra a guerra e pela paz, houve ainda espaço para contestar a política do Governo, particularmente o aumento das propinas, pela voz da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa.
«O Governo PSD/CDS-PP mantém a sua política contrária aos interesses nacionais, prejudicando o povo português no que toca às questões do trabalho, da Segurança Social e da Saúde, contrariando os direitos constitucionais justamente alcançados na Revolução de Abril», realçou Paula Santos.
«O desejo de privatização de todos os graus de ensino já se avista no horizonte», afirmou a estudante, sublinhando que este «é um momento de brutal ataque ao Ensino Superior, com o aumento das propinas em cerca de 140 por cento, o que torna o ensino cada vez mais elitista».
«Não podemos pactuar com estas medidas seguidistas dos interesses norte-americanos, em que o Governo português se dispõe a gastar dinheiro com forças policiais e não invista na qualificação dos portugueses», continuou Paula Santos realçando que a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa considera que a «luta pela paz no mundo é determinante para a construção de um mundo melhor e mais justo, onde a solidariedade entre os povos se perspectiva».
Igualmente crítico foi José Guilherme da Associação para a Taxação das Transacções Financeiras Para o Apoio ao Cidadão que considerou «ilegítima e criminosa» a presença dos norte-americanos no Iraque.
Lutar contra a ocupação
«A razão mesmo vencida não deixa de ser razão». Foi com esta citação, de António Aleixo, que Carlos Carvalho, da CGTP-IN, iniciou a sua intervenção, fortemente aplaudida, também pelos turistas que passeavam naquela zona. Criticando os órgãos de comunicação, que omitiram por completa a iniciativa, Carlos Carvalho falou na luta «heróica, corajosa e determinada» do povo iraquiano. «É no Iraque que se resiste e luta contra a ocupação», afirmou o sindicalista, ressalvando que «terroristas» são aqueles que invadiram o território dos iraquianos.
Sobre o contributo de 17,5 milhões de euros, o sindicalista foi claro: «Gastar um euro que fosse para construir o que eles (norte-americanos e britânicos) destruíram é, no mínimo, imoral, uma vergonha e um insulto aos trabalhadores e ao povo português».
O conclusão das intervenções esteve a cargo de Domingos Lopes, vice-presidente do CPPC. O dirigente explicou que «a guerra foi feita em nome das armas de destruição maciça, que não existem, em nome do terrorismo, que se agravou, e em nome da democracia, que é o caos».
Sobre o Governo português, Domingos Lopes afirmou: «o xerife Durão Barroso mentiu ao povo português. Mentiu a todos nós», disse, referindo-se às provas de armas de destruição maciça que o primeiro-ministro disse ter visto. Por isso, continuou, «é nossa obrigação mostrar a todos que a resolução 1511 não apaga as mentiras e as mortes», insistiu o vice-presidente do CPPC. «É preciso lutar para que o mundo não ande a reboque do xerife, para que o império não mande em nós», concluiu.
O protesto, para além dos habituais discursos, contou com a participação da música de Felipe Narciso e de um momento de poesia do actor Álvaro Faria. Durante o encontro, foi ainda pintado a grafite uma enorme parede, de papel, contra o envio do contigente da GNR para o Iraque.
Porto
Uma pirâmide de protesto
A concentração de paz no Porto levou muitas dezenas de pessoas à Praça da Batalha, onde se ergueu uma pirâmide de protesto contra a escalada de violência no Médio Oriente, a ocupação do Iraque, e a febre belicista alimentada pelo governo norte-americano.
A uma só voz, os manifestantes voltaram a exigir a paz, condição necessária à convivência equilibrada entre os povos e a um futuro de justiça e progresso social, condenando todos os que, em nome do lucro, de interesses económicos particulares, subjugam povos inteiros, condenando-os à opressão e à miséria.
Uma palavra de repúdio foi também dirigida ao Grupo Trilateral, composto pela elite capitalista, administradores políticos tecnocratas, entre outras figuras convidadas, que reunira no Porto nesse mesmo dia, quase em absoluto segredo, discutindo à porta fechada, e à medida dos seus interesses de classe, o futuro da humanidade.