Os novos escravos
No Brasil há hoje cinco milhões de crianças obrigadas a trabalhar. O flagelo - que só por si retrata o que foi a «política social» do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tão louvado por alguns, a começar pelo caríssimo amigo Mário Soares -, comporta ainda uma outra realidade não menos abjecta: a discriminação sexual e o racismo.
Segundo dados vindos recentemente a público, dos cinco milhões de trabalhadores infantis cerca de meio milhão realiza trabalhos domésticos, sendo que 93 por cento são do sexo feminino e 61 por cento de cor negra. Este fenómeno escondido ganhou alguma notoriedade num debate promovido este mês pela Agência de Notícias dos Direitos da Criança (ANDI), que reuniu jornalistas e organizações que lutam pela defesa dos direitos das crianças e adolescentes.
O encontro mostrou que não é apenas a escassez de informação a suscitar motivos de preocupação - em 2002 o tema foi abordado em 652 artigos publicados em 62 jornais e revistas do país -, mas o próprio conteúdo da informação. De acordo a ANDI, a maioria dos artigos centraram-se em dados estatísticos (23 por cento), no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (21,5), num único tipo de trabalho (14,6) e no combate ao trabalho infantil (13,7). Em contrapartida, as matérias sobre soluções não foram além dos 2,1 por cento, a denúncia do trabalho escravo ficou-se pelos 2 por cento e a análise das causas do trabalho infantil não ocupou mais de 1,7 por cento dos textos publicados.
A consciencialização da sociedade para o problema constitui de resto uma das grandes batalhas a travar, tanto mais que no Brasil, como em muitos outros países, incluindo Portugal, vigora a convicção de que vale mais a criança trabalhar e ter de comer do que estar na rua ou em casa pobre sem alimentação garantida. Este falso dilema dá origem a círculos viciosos difíceis de romper, perpetuando as situações de exploração. Porque é de exploração que se trata. Só no respeitante ao trabalho doméstico infantil no Brasil verifica-se, por exemplo, que mais de metade não tem direito a férias e 64 por cento recebe menos do que um salário mínimo e trabalha mais de 40 horas semanais.
Os trabalhadores meninos fazem parte da legião dos novos escravos do capital que hoje proliferam por todo o mundo. Já não se chamam escravos nem usam grilhetas. O vocabulário evoluiu. São os «descartáveis» do mundo livre.
Segundo dados vindos recentemente a público, dos cinco milhões de trabalhadores infantis cerca de meio milhão realiza trabalhos domésticos, sendo que 93 por cento são do sexo feminino e 61 por cento de cor negra. Este fenómeno escondido ganhou alguma notoriedade num debate promovido este mês pela Agência de Notícias dos Direitos da Criança (ANDI), que reuniu jornalistas e organizações que lutam pela defesa dos direitos das crianças e adolescentes.
O encontro mostrou que não é apenas a escassez de informação a suscitar motivos de preocupação - em 2002 o tema foi abordado em 652 artigos publicados em 62 jornais e revistas do país -, mas o próprio conteúdo da informação. De acordo a ANDI, a maioria dos artigos centraram-se em dados estatísticos (23 por cento), no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (21,5), num único tipo de trabalho (14,6) e no combate ao trabalho infantil (13,7). Em contrapartida, as matérias sobre soluções não foram além dos 2,1 por cento, a denúncia do trabalho escravo ficou-se pelos 2 por cento e a análise das causas do trabalho infantil não ocupou mais de 1,7 por cento dos textos publicados.
A consciencialização da sociedade para o problema constitui de resto uma das grandes batalhas a travar, tanto mais que no Brasil, como em muitos outros países, incluindo Portugal, vigora a convicção de que vale mais a criança trabalhar e ter de comer do que estar na rua ou em casa pobre sem alimentação garantida. Este falso dilema dá origem a círculos viciosos difíceis de romper, perpetuando as situações de exploração. Porque é de exploração que se trata. Só no respeitante ao trabalho doméstico infantil no Brasil verifica-se, por exemplo, que mais de metade não tem direito a férias e 64 por cento recebe menos do que um salário mínimo e trabalha mais de 40 horas semanais.
Os trabalhadores meninos fazem parte da legião dos novos escravos do capital que hoje proliferam por todo o mundo. Já não se chamam escravos nem usam grilhetas. O vocabulário evoluiu. São os «descartáveis» do mundo livre.