Bush, falcões e súbditos
Dizem-me que «sinais do tempo», rubrica da RTP 2, vai ser extinta a partir de Setembro no âmbito da Nova Ordem televisiva em implementação na TV do Estado, e eu, naturalmente, acredito, habituado como estou a que nesta área as más notícias se confirmem e as boas notícias sejam boatos. Não é que as reportagens que a têm preenchido sejam sempre de qualidade antecipadamente garantida: bem pelo contrário, também por lá tem andado muito lixo e muito veneno, como aliás é inevitável sendo as coisas o que são. Contudo, não foram raras as vezes em que as emissões do «Sinais do Tempo» se destacaram pela positiva, merecendo o nosso tempo e dando alguma contribuição para que se dissipem nevoeiros e se varram patranhices. Por isso, ao constar agora que lhe vai ser aplicada a «solução final», toca-me o sinal de alguma futura saudade. Decerto por via dele, fiz questão de não perder a emissão da passada sexta-feira, prometedoramente intitulada «A Guerra Privada», que se anunciava dedicada à política de guerra da Administração Bush.
Ao contrário da minha expectativa afinal optimista, o telefilme estava longe de ser condenatório, mesmo apenas tendencialmente, da política Bush. Ainda assim, porém, fornecia elementos interessantes acerca do actual clan dirigente da política norte-americana (entenda-se: dos que estão no tablado ou dele próximo, não dos que estão nos bastidores longínquos mas detêm as verdadeiras alavancas de comando). Assim, soubemos que sujeitos como Dick Cheney, Donald Rumated e Paul Wolfovitz, aninhados no Pentágono graças à vitória republicana nas últimas eleições e com um currículo pessoal que claramente os coloca à direita da própria direita norte-americana, foram determinantes para a decisão pela guerra, pelas guerras, tomada na sequência do 11 de Setembro. E soubemos mais: embora não explicitamente, foi-nos dito que sem o 11 de Setembro esses inestimáveis falcões não teriam tido a sua oportunidade, pelo menos tão cedo. Perante isto, a gente lembra-se dos especialistas que em livros (traduzidos entre nós, de resto) sustentaram a tese de que o 11 de Setembro pode ter sido da vontade da extrema-direita dos Estados Unidos, que com a tragédia ganhou a sua grande oportunidade.
O outro objectivo
Porém, o telefilme de «Sinais do Tempo» disse-nos mais qualquer coisa, talvez apenas no-lo tenha lembrado: que no início do mandato Bush se falava muito de uma nova política externa norte-americana, de tendência isolacionista, e que o 11 de Setembro a alterou radicalmente tornando-a «intervencionista» e indo assim ao encontro dos desejos dos falcões. Qual o cariz do intervencionismo norte-americano no mundo está bem à vista com os nomes do Afeganistão e do Iraque, mais os dos alvos seguintes que são regularmente anunciados, entre os quais está Cuba. A julgar pelo que já se viu, é óbvio que esse «intervencionismo» bem podia tomar a designação mais clara de «expansão imperialista armada». Não acreditemos, porém, que o imperialismo norte-americano se concretiza apenas pela via mais brutal e espectacular dos bombardeamentos cirúrgicos e métodos correlativos. Não é preciso ver nenhuma emissão de «Sinais do Tempo» para saber que o rolo avassalador do poder ianque tem dois objectivos centrais: a pilhagem do planeta e, simultaneamente e à cautela, a eliminação do comunismo «e de todas as doutrinas subversivas», como o outro mandava escrever. E, enquanto o petróleo do Iraque «já lá canta», como diria a elegantíssima doutora Manuela, e a rota do combustível pelo Afeganistão está garantida, prosseguem os esforços dos USA, por intermédio de agentes e consignatários devidamente credenciados, para que do comunismo, essa praga teimosa, seja extirpado o último vestígio nos quatro cantos do mundo.
Para que um dia não descubramos que fomos distraídos, convém perceber que é neste quadro que deve ser decifrado o significado da eliminação dos comunistas e do seu Partido no contexto dos telenoticiários correntes, excepto se se tratar de os bombardear com calúnia grossa ou insinuação infame. Um marciano que por cá viesse em visita não adivinharia que o PCP é um dos quatro maiores partidos políticos portugueses, julgaria que os comunistas passam o tempo num qualquer dolce far niente, desligados das gentes, sem iniciativas, apenas a carpir saudades vagas. Porque, para a generalidade dos que levam as notícias do País a casa de cada qual, «este partido não existe», como escreveu há décadas um iluminado censor de jornais. E «não existe» porque os Estados Unidos e seus associados não querem que exista, chateiam-se se existir. Mais ainda agora, que são «intervencionistas», e não apenas de armas na mão.
Ao contrário da minha expectativa afinal optimista, o telefilme estava longe de ser condenatório, mesmo apenas tendencialmente, da política Bush. Ainda assim, porém, fornecia elementos interessantes acerca do actual clan dirigente da política norte-americana (entenda-se: dos que estão no tablado ou dele próximo, não dos que estão nos bastidores longínquos mas detêm as verdadeiras alavancas de comando). Assim, soubemos que sujeitos como Dick Cheney, Donald Rumated e Paul Wolfovitz, aninhados no Pentágono graças à vitória republicana nas últimas eleições e com um currículo pessoal que claramente os coloca à direita da própria direita norte-americana, foram determinantes para a decisão pela guerra, pelas guerras, tomada na sequência do 11 de Setembro. E soubemos mais: embora não explicitamente, foi-nos dito que sem o 11 de Setembro esses inestimáveis falcões não teriam tido a sua oportunidade, pelo menos tão cedo. Perante isto, a gente lembra-se dos especialistas que em livros (traduzidos entre nós, de resto) sustentaram a tese de que o 11 de Setembro pode ter sido da vontade da extrema-direita dos Estados Unidos, que com a tragédia ganhou a sua grande oportunidade.
O outro objectivo
Porém, o telefilme de «Sinais do Tempo» disse-nos mais qualquer coisa, talvez apenas no-lo tenha lembrado: que no início do mandato Bush se falava muito de uma nova política externa norte-americana, de tendência isolacionista, e que o 11 de Setembro a alterou radicalmente tornando-a «intervencionista» e indo assim ao encontro dos desejos dos falcões. Qual o cariz do intervencionismo norte-americano no mundo está bem à vista com os nomes do Afeganistão e do Iraque, mais os dos alvos seguintes que são regularmente anunciados, entre os quais está Cuba. A julgar pelo que já se viu, é óbvio que esse «intervencionismo» bem podia tomar a designação mais clara de «expansão imperialista armada». Não acreditemos, porém, que o imperialismo norte-americano se concretiza apenas pela via mais brutal e espectacular dos bombardeamentos cirúrgicos e métodos correlativos. Não é preciso ver nenhuma emissão de «Sinais do Tempo» para saber que o rolo avassalador do poder ianque tem dois objectivos centrais: a pilhagem do planeta e, simultaneamente e à cautela, a eliminação do comunismo «e de todas as doutrinas subversivas», como o outro mandava escrever. E, enquanto o petróleo do Iraque «já lá canta», como diria a elegantíssima doutora Manuela, e a rota do combustível pelo Afeganistão está garantida, prosseguem os esforços dos USA, por intermédio de agentes e consignatários devidamente credenciados, para que do comunismo, essa praga teimosa, seja extirpado o último vestígio nos quatro cantos do mundo.
Para que um dia não descubramos que fomos distraídos, convém perceber que é neste quadro que deve ser decifrado o significado da eliminação dos comunistas e do seu Partido no contexto dos telenoticiários correntes, excepto se se tratar de os bombardear com calúnia grossa ou insinuação infame. Um marciano que por cá viesse em visita não adivinharia que o PCP é um dos quatro maiores partidos políticos portugueses, julgaria que os comunistas passam o tempo num qualquer dolce far niente, desligados das gentes, sem iniciativas, apenas a carpir saudades vagas. Porque, para a generalidade dos que levam as notícias do País a casa de cada qual, «este partido não existe», como escreveu há décadas um iluminado censor de jornais. E «não existe» porque os Estados Unidos e seus associados não querem que exista, chateiam-se se existir. Mais ainda agora, que são «intervencionistas», e não apenas de armas na mão.