Manifestantes contestam G8

Não ao directório dos ricos

Cem mil manifestantes concentraram-se, no domingo, dia 1, perto da fronteira franco-suíça alertando para os efeitos nefastos da globalização capitalista.

Dois desfiles, de Genebra e de Annemasse, encontraram-se na fronteira franco-suíça para contestar as políticas do G8

Em Annemasse, na França, e em Genebra, Suíça, activistas de várias organizações anti-globalização, de agricultores, de sindicatos e partidos políticos abriram na quinta-feira, dia 29 de Maio, fóruns de discussão sobre as desigualdades e injustiças no planeta, questionando a legitimidade do G8, formado pelos EUA, França, Alemanha, Reino Unido, Japão, Canadá e Rússia, cujos chefes de Estado estiveram reunidos na localidade francesa de Evian, entre domingo e terça-feira.
Muitos activistas vêm no G8 uma tentativa de instituir um governo mundial, um directório formado pelos países mais ricos, que à margem das instituições internacionais, como as Nações Unidas, se reúnem para decidir sobre os destinos dos povos do mundo.
Entre as muitas iniciativas realizadas, a eurodeputada, do PCP, Ilda Figueiredo participou num debate organizado, no sábado, na Universidade de Genebra, dedicado aos problemas dos países do chamado «terceiro mundo».
Ali, como noutras sessões públicas, exigiu-se uma nova concepção de desenvolvimento, com igualdade de acesso aos serviços básicos, a redistribuição da riqueza, designadamente mediante instrumentos como uma taxa ambiental ou o imposto sobre transacções especulativas e a anulação imediata da dívida externa dos países pobres.
Sob estas e outras palavras de ordem, no domingo, dois desfiles, um vindo da cidade helvética de Genebra, em que se integrou a delegação do PCP, e outro de Annemasse, distantes de apenas oito quilómetros, encontraram-se a meio caminho junto da fronteira franco-suíça, cumprindo um minuto de silêncio pelos «25 milhões de mortos de SIDA».
Os organizadores calcularam em 100 mil o número de manifestantes que desfilaram ordeiramente, em contraste com os distúrbios e confrontos entre grupos radicais e as forças policiais registados quer em Genebra, quer em Lausane, na Suíça, dos quais resultaram vários feridos e centenas de detenções. Elevados foram também os prejuízos materiais, estimados, só em Genebra, em três milhões de francos suíços (cerca de dois milhões de euros).

O fosso
alarga-se

O encontro do G8, na localidade termal francesa de Evian, começou com «um diálogo alargado», no qual, pela primeira vez, participaram 12 países emergentes e em vias de desenvolvimento. O presidente do Brasil, Lula da Silva, aproveitou para propor a criação de um programa de erradicação da fome no mundo, financiado por uma taxa sobre as vendas de armamento e por uma percentagem dos pagamentos da dívida dos países pobres. A proposta, já se vê, não consta do comunicado final do G8, divulgado na terça-feira, mas foi bem aproveitada pelo presidente francês, Jacques Chirac, que a considerou como «de forma alguma injustificada».
Do «diálogo» entre ricos e pobres, há ainda a salientar o jantar com representantes africanos da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África, dinamizada pelo Egipto, Argélia, África do Sul e Senegal, iniciativa que para o G8 «representa uma visão clara e corajosa da maneira como a África assume as suas responsabilidades para garantir os seu próprio desenvolvimento e a sua plena integração na economia mundial».
Porém, representando apenas 1,7 por cento do comércio mundial e sendo o único continente em que a pobreza continua a crescer, África precisa muito mais do que meras declarações de apoio. Mas quando a investimentos concretos, o G8 mostraram-se mais avaros. Michel Camdessus, representante de Chirac para África, foi claro ao avisar que será preciso tempo até que as economias africanas beneficiem plenamente da injecção de capitais públicos e privados, referindo como obstáculos «a regulamentação legal, a insegurança sobre as transacções, as pessoas e os bens».
Ainda assim, a reunião com os países da Nepad terminou com uma prova de «generosidade» da União Europeia. Segundo anunciou o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, a UE irá destinar de imediato uma verba de mil milhões de dólares por ano para o Fundo Mundial de luta contra a Sida. A decisão foi tomada depois de os Estados Unidos terem recentemente desbloqueado 15 mil milhões de dólares para um período de cinco anos para aquele fundo.


O egoísmo do G8

Preocupados com o seu fraco crescimento económico, no comunicado final apresentado na terça-feira pelo presidente francês Jacques Chirac, os líderes do G8 insistem na necessidade de proceder às chamadas reformas estruturais, ou seja a flexibilização dos mercados de trabalho, de mercadorias e de capitais, sendo feita um especial à reforma dos sistemas de pensões e de assistência médica, isto num dia em que a França se encontrava paralisada por uma greve geral, exactamente em defesa dos sistemas de protecção social.
Sobre as questões do desenvolvimento mundial, as conclusões limitam-se a declarar a intenção de cooperar com a África, na luta contra a fome, na melhoria do acesso à água potável, no financiamento do combate à sida e na análise da dívida dos países pobres.
A mesma promessa de «participação activa» é feita em relação à luta contra outras doenças como a tuberculose ou a malária, mas nenhuma nova acção foi anunciada, designadamente no que toca ao fornecimento de medicamentos a preços acessíveis, que continua a ter a oposição dos Estados Unidos.
Quanto à dívida, o comunicado também não deixa dúvidas. A «nova abordagem de Evian» sustenta que será adoptado um procedimento caso a caso para evitar possíveis crises financeiras nos países emergentes. Trata-se de «uma solução mais duradoura para os problemas de sustentabilidade», porém, precisa-se, a reestruturação da dívida «deve ser o último recurso».


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