O livro
Assinalando o seu primeiro aniversário, o Governo de Durão Barroso fez publicar um livro de auto-elogio onde nada falta, no que de mais vazio, demagógico e supérfluo é uso fazer em casos que tais.
A figura do chefe é tratada como estrela do espectáculo, onde nem sequer se poupa o presumível leitor a aturar a «pose de Estado» que Durão afivela - firme e hirto como diz o Alexandrino -, muito sentado num salão do palácio a olhar para a câmara fotográfica com o que supõe ser um «sorriso de proximidade».
Devidamente secundarizados em relação ao chefe – mas, mesmo assim, com destaques adequados e numa hierarquia rigorosa – seguem-se os membros do Governo também todos a cores e nas fatais poses «de Estado» - que, no caso, também pretendem ilustrar a actividade de cada governante com uma alusão supostamente presente em cada composição fotográfica. Um mimo.
É claro que todos debitam doutas sentenças sobre si próprios e os cargos que tão briosamente ocupam há um ano, ficando-se com a impressão que gastaram todo esse tempo em aplicada adoração a eles mesmos, tantos são os encómios feitos à causa própria e respectivos desempenhos.
Entretanto, o panorama que traçam do país anda próximo do paraíso – um paraíso inteiramente saído do talento indescritível deste Governo e que contrasta, curiosamente, com a situação generalizada de caos e miséria que também dizem haver encontrado apenas um ano antes.
Quanto a factos, nada. A publicação, como se dizia no século XIX, é um glorioso festival «do elogio mútuo», profuso e prolixo no panegírico mas penosamente vazio de realizações concretas ou estratégias razoavelmente estruturadas.
Outra coisa, aliás, não seria de esperar de um Governo que gastou os primeiros seis meses a gritar que «herdara» um país «de tanga» e usou os seis meses seguintes a procurar demonstrá-lo, quer cortando radicalmente no investimento público, quer reduzindo brutalmente serviços, funções, competências e postos de trabalho na generalidade da administração pública.
Todavia, não foi um investimento «de tanga» que o Governo aplicou na produção deste livro de auto-elogio.
Utilizando o melhor papel, a mais cuidada selecção de cores, uma primorosa impressão, tecnicamente o livro é um luxo. Fotografado, redigido, composto e organizado por profissionais qualificados, forçosamente o livro é um enorme investimento.
Editado numa vasta edição que ninguém vai comprar, o livro é sobretudo uma gigantesca despesa que, além do mais, é absolutamente inútil mesmo do ponto de vista estritamente propagandístico, pois nem uma única alma o vai compulsar voluntariamente, quanto mais adquirir.
O seu destino é o de tantas edições do género, inteiramente pagas pelo erário público. Será oferecido, aos milhares, pelo círculo governante que o protagoniza, aceite com educada cerimónia por multidões de amigos, correligionários e convidados em geral e esquecido, em peso, pelas mais desatentas bibliotecas sem merecer, ao menos, um folhear displicente de algumas das suas caras e luxuosas páginas, entretanto já mergulhadas no esquecimento, mesmo sem terem conhecido a mais breve luz do dia.
Convenhamos que tal despesa configura um descarado abuso, num tempo que não apenas se afirma da mais severa austeridade, como se confirma que o é pelos brutais cortes que o Governo vem aplicando a coisas tão fundamentais como, por exemplo, os subsídios aos transportes de doentes.
Um abuso, ainda por cima, tão inútil como ridiculamente imbecil.
A figura do chefe é tratada como estrela do espectáculo, onde nem sequer se poupa o presumível leitor a aturar a «pose de Estado» que Durão afivela - firme e hirto como diz o Alexandrino -, muito sentado num salão do palácio a olhar para a câmara fotográfica com o que supõe ser um «sorriso de proximidade».
Devidamente secundarizados em relação ao chefe – mas, mesmo assim, com destaques adequados e numa hierarquia rigorosa – seguem-se os membros do Governo também todos a cores e nas fatais poses «de Estado» - que, no caso, também pretendem ilustrar a actividade de cada governante com uma alusão supostamente presente em cada composição fotográfica. Um mimo.
É claro que todos debitam doutas sentenças sobre si próprios e os cargos que tão briosamente ocupam há um ano, ficando-se com a impressão que gastaram todo esse tempo em aplicada adoração a eles mesmos, tantos são os encómios feitos à causa própria e respectivos desempenhos.
Entretanto, o panorama que traçam do país anda próximo do paraíso – um paraíso inteiramente saído do talento indescritível deste Governo e que contrasta, curiosamente, com a situação generalizada de caos e miséria que também dizem haver encontrado apenas um ano antes.
Quanto a factos, nada. A publicação, como se dizia no século XIX, é um glorioso festival «do elogio mútuo», profuso e prolixo no panegírico mas penosamente vazio de realizações concretas ou estratégias razoavelmente estruturadas.
Outra coisa, aliás, não seria de esperar de um Governo que gastou os primeiros seis meses a gritar que «herdara» um país «de tanga» e usou os seis meses seguintes a procurar demonstrá-lo, quer cortando radicalmente no investimento público, quer reduzindo brutalmente serviços, funções, competências e postos de trabalho na generalidade da administração pública.
Todavia, não foi um investimento «de tanga» que o Governo aplicou na produção deste livro de auto-elogio.
Utilizando o melhor papel, a mais cuidada selecção de cores, uma primorosa impressão, tecnicamente o livro é um luxo. Fotografado, redigido, composto e organizado por profissionais qualificados, forçosamente o livro é um enorme investimento.
Editado numa vasta edição que ninguém vai comprar, o livro é sobretudo uma gigantesca despesa que, além do mais, é absolutamente inútil mesmo do ponto de vista estritamente propagandístico, pois nem uma única alma o vai compulsar voluntariamente, quanto mais adquirir.
O seu destino é o de tantas edições do género, inteiramente pagas pelo erário público. Será oferecido, aos milhares, pelo círculo governante que o protagoniza, aceite com educada cerimónia por multidões de amigos, correligionários e convidados em geral e esquecido, em peso, pelas mais desatentas bibliotecas sem merecer, ao menos, um folhear displicente de algumas das suas caras e luxuosas páginas, entretanto já mergulhadas no esquecimento, mesmo sem terem conhecido a mais breve luz do dia.
Convenhamos que tal despesa configura um descarado abuso, num tempo que não apenas se afirma da mais severa austeridade, como se confirma que o é pelos brutais cortes que o Governo vem aplicando a coisas tão fundamentais como, por exemplo, os subsídios aos transportes de doentes.
Um abuso, ainda por cima, tão inútil como ridiculamente imbecil.