Sementes de searas vermelhas

Limitado pelas bacias hidrográficas do Sado, Mira e Guadiana expande-se o Baixo Alentejo, na solidão das planuras de trigais onde outrora dominava a charneca e o esteval cerrado, roçado e queimado pelo homem em busca de terras de pão.
Uma população pouco densa e desigualmente distribuída, foram e são característica secular dos campos tomados de presúria à moirama. O latifúndio vem dos tempo da conquista da paisagem transtagana, trabalhado pelo braço moçárabe ou do sesmeiro, até ao século XV. Tentativas de colonização interna, foram contrariadas pelo êxodo rural, rumo à aventura das navegações quinhentistas e, para colmatar a escassez de servos e jornaleiros livres, os senhores da terra recorreram à escravaria africana, até ao século XVIII.
Face à decadência do contingente negro, a partir das restrições pombalinas, os agrários voltaram-se para a mão-de-obra indígena, recrutando camponeses pobres das Beiras, assalariados em malta de ratinhos que, aumentando a oferta de braços, reduziam a capacidade reivindicativa dos ganhões alentejanos.
Desde o século XIX, o processo de desenvolvimento capitalista aumentou a pauperização dos trabalhadores da terra, aprofundando antagonismos e, chegada a República, eclodem as primeiras grandes greves rurais alentejanas, exigindo aumento de salário, melhoria da alimentação e horário de trabalho. O movimento operário e sindical progredira nos campos e, a resposta política da burguesia democrática e republicana não tardou, castigando com cargas da GNR e masmorra, os proletários agrícolas acusados de agitação social.
É neste húmus de experiência e luta que, a partir de 1921, se constituem os primeiros Centros Comunistas no Alentejo, sendo fundadores em Beja - Manuel Ambrósio Pierre, António Jacinto Pires, José Maria dos Santos Chicharro. Em 1922, as Juventudes Comunistas constituem um núcleo de Beja e, um ano depois, aí é criada a Comuna «Rosa Luxemburgo». No 1.º Congresso do PCP, os delegados de Beja e do Sobral da Adiça, animam a discussão da tese «A Questão Agrária» onde o tema principal era a posse e repartição da terra, as formas de exploração, o reordenamento rural, e o horário de trabalho nos campos. Em Janeiro de 1924, estava constituída a Federação Comunal de Beja que integrava as Comunas de Beja, Sobral da Adiça, Aldeia Nova de São Bento, Vale de Vargo e Vila Verde de Ficalho. A expansão da organização do Partido no proletariado agrícola fora rápida, emergindo os seus quadros pioneiros das direcções das associações de trabalhadores rurais. E, dada a dificuldade de circulação da informação, em 5 de Abril de 1925, inicia-se a publicação de «O Trabalhador Rural», órgão das células comunistas do distrito de Beja.
O operariado agrícola comunista já participava na luta política e sindical, protestando contra as deportações para a Guiné, intervindo na Conferência Camponesa, e no debate das teses do Congresso Rural de Santarém. Em Novembro, nas eleições legislativas de 1925, apresenta-se a sufrágio o primeiro candidato comunista pelo circulo de Beja (Manuel Ferreira Quartel), e nesse ano, são eleitos os primeiros autarcas do PCP, em Vale de Vargo e Sobral da Adiça.
Quando o fascismo levantou cabeça em Maio de 1926, novas «searas vermelhas» germinavam em Moura, Amareleja, Castro Verde, Serpa, Baleizão, Vale de Mortos, Minas de São Domingos e Santana de Cambas, alimentando um projecto:
A TERRA A QUEM A TRABALHA!


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