Fascínios

Vítor Dias

Deixando expresso o desabafo de que um mínimo de pudor e dignidade deveria levar o Conselho de Segurança a reunir, como terá pedido a Rússia, para se pronunciar sobre a agressão dos EUA ao Iraque, alinhemos por hoje duas simples anotações sobre os «media» e a guerra.

A primeira destina-se a informar todos quantos, mergulhados no «zapping», pensaram primeiro estar a ver uma sessão da «TV Shop» por conta de uma empresa de brinquedos e só depois repararam que era o Nuno Rogeiro a exibir na SIC uns modelitos das aeronaves norte-americanas que, em http://acrimed.samizdat.net, podem encontrar um oportuno texto de Henri Maler intitulado «Guerra contra o Iraque- a televisão subjugada pela guerra e pelo poder», onde se desenvolvem breves mas interessantes reflexões sobre elementos como «o fascínio da guerra através do seu relato», «o fascínio pelo poder militar» e «o fascínio da televisão pelo seu próprio poder».

Uma segunda nota destina-se a salientar que se, por absurdo, alguém tivesse desembarcado em Portugal e apenas tivesse assistido aos vários debates especialmente organizados em vários canais de televisão por causa da guerra nos seus primeiros cinco dias, ficaria inevitavelmente com a ideia de que o Bloco de Esquerda seria, no plano partidário nacional, o protagonista solitário da luta contra a guerra.

De facto ,o que acontece é que, sendo no plano das personalidades quase infindáveis as possibilidades de diversificação e sendo no plano partidário evidente que o PCP, o PS e «os Verdes» são importantes componentes da oposição à guerra, têm sido aos dirigentes e deputados do Bloco que as televisões, em regra, nesses dias entregaram essa representação.

Sendo de precisar que, nos primeiros cinco dias da guerra, nem um só dirigente ou deputado do PCP foi convidado para qualquer um daqueles debates especiais, apesar da clareza das suas posições e da magnitude dos seus esforços e intervenção se meterem pelos olhos adentro.

Verá pouco quem vir nesta referência uma questão de ciumeira. O que acontece é que, por um lado, não nos resignamos perante inadmissíveis discriminações e, por outro, temos as maiores dúvidas que tal «monopólio» atribuído ao BE traga vantagens para a causa da luta contra a guerra, só faltando saber se estamos perante certos outros «fascínios» ou se é precisamente por causa das desvantagens que tal escolha é feita. E como, de igual modo, não traria vantagens se, em quase todos os debates, a representação da oposição à guerra fosse sempre e só confiada a dirigentes ou deputados do PCP ou só a figuras do PS. Porque todos os afunilamentos viciam a realidade plural do campo contra a guerra e enfraquecem a sua real força e expressão.



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