Zero, nada, nicles

Vítor Dias

Na sua clareza e simplicidade, os factos falam por si e dizem-nos que o comício comemorativo do 82º aniversário do PCP no dia 7, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, não existiu nem para o «Diário de Notícias» (nem sequer sob a clássica «solução» da foto e quatro linhas de legenda), nem para a TVI, nem para a RDP/Antena Um, (e já o «JN» despachou o assunto com 14 linhas ma sua edição de dia 8).

A avaliar por esta preconceituosa atitude, dir-se-ia que para estes órgãos de informação é todos os meses que um partido nacional faz 82 anos de vida, é semana sim semana não que há um comício partidário com três mil participantes na capital do país e que é todos os dias que o Secretário-geral de um partido faz uma intervenção de fundo sobre a situação nacional e internacional. E que, em consequência, o comício do PCP no Pavilhão Carlos Lopes só podia ser considerado, de todos os ângulos, uma pura banalidade desprovida de qualquer interesse informativo ou jornalístico.

É certo que na edição do «DN» de dia 9 (a que, em principio, deveria ter trazido a reportagem do comício), e no topo de uma das duas desoladas páginas dedicadas à «política nacional», se assinalava simpaticamente que o «PCP faz 82 anos» e que «o líder do PCP, Carlos Carvalhas tem-se desdobrado este fim-de-semana em iniciativas para festejar os 82 anos do partido».

Mas onde não houve mesmo desdobramento foi no espaço concedido à política nacional e assim o comício do PCP lá foi sacrificado em favor de uma crucial e palpitante entrevista com o Presidente do PSD/Açores, de uma notícia ao que parece inadiável sobre a Convenção Europeia, de outra dando conta de um terramoto político, perdão, da oposição de Narciso Miranda à «limitação cirúrgica» dos mandatos e outra ainda sobre afirmações de Mário Soares em entrevista à Antena Um.

Mas estejemos descansados: como é costume, em breve o «DN», o «JN» e a RDP compensarão estas suas distracções com mais umas carradas de notícias, tipo refogado de sobras, com os protagonistas do costume e sobre o folhetim do costume.

E, apesar de exemplos destes, o director do «Público», jornal que também tem larga crónica neste domínio, continuará certamente a falar da «incapacidade» do PCP «para ocupar o espaço público e mediático» (suprema ironia desta estória: «espaço público» é como se chama no «Público» a área dos comentadores e artigos de opinião).

Sem se dar conta de que, se nos «media» há coisa por de mais feia e cínica, é o recorrente truque de amordaçar alguém e depois vir acusar o amordaçado de não se conseguir fazer ouvir, de estar calado ou de ser mudo.



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