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Foi este o título dado por Rudyard Kipling a um dos seus poemas mais célebres: IF (se). Nele, com esta condicional, Kipling enumera as qualidades exigidas a seu filho para que se torne um homem. É um poema de forte pendor pedagógico que tenta inculcar valores essenciais aos jovens adolescentes. E apetece, neste sinistro carnaval de pré-guerra, cortá-lo verso por verso em pedaços de papel, obrigando-os a engolir bem mastigados por gente –como Bush ou Blair, Aznar ou Berlusconi e, mais domesticamente, Barroso ou Portas. E, parafraseando Kipling, diria:
SE Bush não fosse um fantoche dos grandes interesses imperialistas, apressados em nova partilha do Médio Oriente, começando pelo Iraque, esta guerra nunca poderia acontecer.
SE Blair não fosse um cão-de-fila de Bush (e chamam aquilo trabalhista ...) esta guerra nunca poderia acontecer.
SE dirigentes como Aznar e Berlusconi se empenhassem na defesa dos interesses dos seus próprios povos (e também nos da Europa) esta guerra não poderia acontecer.
SE Barroso não procedesse como voz do dono; SE não quisesse crescer na altura em bicos de pés a pedinchar atenção por parte dos grandes de quem se julga parceiro (como quando se orgulha de «ser recebido por Bush» ou se faz armadilhar por Aznar assinando um documento de descarada subserviência); SE não ridicularizasse a imagem digna que o povo português deu na sua luta contra o fascismo e na sua vitória revolucionária de Abril; SE não inventasse (com a demagogia farfalhante dos seus tempos de MRPP que se lhe colou até à idade adulta) falsos interesses para subir na sua auto-estima em vez de pensar na desconsideração por parte do povo português que decididamente está contra esta guerra; SE assim fosse, então Barroso pediria desculpa, como o Papa, quando se vê confrontado com culpas da Igreja.
SE Paulo Portas não proferisse o seu já longo currículo de barbaridades, talvez as Forças Armadas se pudessem sentir mais dignamente representadas no seu papel de defesa do país; e SE ele estudasse um pouco mais de História em vez de dislatar contra ela, talvez não disparatasse como em Viseu contra os «pacifistas» (sem aspas); SE tivesse cumprido serviço militar e sido obrigado a combater na guerra colonial, talvez não fosse hoje um soldadinho de chumbo – ainda por cima daqueles com defeito, que não conseguem manter-se de pé na formatura.
O padre Américo, promotor de uma obra de recuperação de jovens delinquentes, costumava dizer: «não há rapazes maus». Mas um grande pedagogo, Makarenko, que conquistou muitos deles para uma vida digna, reconhecia que nunca conseguiu a recuperação de alguns.
Kipling termina animadamente o seu poema dizendo, no último verso: «Então serás um Homem, meu filho.»
Homens, aqueles? Não no sentido humano.
Alinham nos incorrigíveis.