Paremos as guerras!

Jorge Cadima

Aquilo que durante muitos anos era afirmado apenas pelas forças de esquerda mais consequentes, está hoje mais claro para milhões de seres humanos: o imperialismo norte-americano (que afinal, sempre existe...!) procura aproveitar as circunstâncias históricas criadas pela derrocada do sistema socialista para impor a sua hegemonia mundial. Na sua ânsia de poder e lucro, não quer reconhecer limites, nem entraves. A anunciada guerra contra o Iraque não passa de uma despudorada tentativa de controlar os enormes recursos petrolíferos daquela país e daquela região. Não apenas para obter lucros, ou para garantir à economia norte-americana energia a baixo preço num momento de grave crise (o gigante da comunicação AOL Time Warner anunciou há poucos dias prejuízos de 100 mil milhões de dólares no ano 2002 – um montante comparável ao PIB anual de Portugal!). Mas sobretudo como forma de tornar dependentes os restantes países do planeta. Começa também a tornar-se claro para muitos que os alvos desta agressividade hegemónica não são apenas os povos do mundo, ou os governos de países que procuram afirmar o seu direito a construir sistemas sociais e económicos alternativos. Mesmo aqueles que alimentaram o monstro, e lhe deram «legitimidade» política (como esquecer a conivência da Europa «socialista» nessa outra guerra criminosa, à margem da ONU e contra o Direito Internacional, que foi a agressão da NATO à Jugoslávia?) começam a perceber que as novas «regras do jogo» após a derrocada do socialismo no Leste são as velhas regras das rivalidades inter-imperialistas, que no Século XX desembocaram por duas vezes em Guerras Mundiais. Que dirão hoje os capitalistas (e seus representantes políticos) franceses ao ouvir um dos principais artífices da actual política dos EUA, o conselheiro do Pentágono Richard Perle, afirmar que a França já não é um aliado dos EUA e que a NATO «deve desenvolver uma estratégia para conter este nosso antigo aliado ou já não estaremos a falar duma aliança NATO» (UPI, 4.02.03)? Que dirão os capitalistas (e seus representantes políticos) alemães ao ouvir o Ministro da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, afirmar que quem se opõe aos planos de guerra dos EUA no Iraque são países como «a Alemanha, a Líbia e Cuba» (Deutsche Welle, 8.02.03)? Ou ambos, quando ouvem o mesmo Ministro norte-americano dizer que pertencem à «velha Europa», ultrapassada pelos Estados lacaios dos EUA que se preparam para aderir à União Europeia?

A arrogância sem limites dos dirigentes dos EUA está, como não podia deixar de ser, a criar oposição e resistência em todo o planeta. A claríssima superioridade militar dos EUA tem como contraponto uma cada vez maior fraqueza e isolamento políticos. A notícia de que o «relatório» sobre a «ameaça iraquiana» apresentado pelo Trabalhista Renovado Blair ao Parlamento Britânico como se fosse obra da mais fina e secreta actividade de espionagem britânica não passava, afinal, de uma reles colagem de três artigos velhos e plagiados, adulterados apenas para ficarem com um texto mais sinistro, foi um espectáculo degradante e revelador. Não tanto da baixeza moral e trafulhice política dos senhores da guerra imperialista – essas não são novidades – mas sobretudo do grau de desespero e fraqueza política a que chegaram.

Mas essa fraqueza não diminui os perigos. O que está em marcha é a concretização de planos estratégicos há muito delineados. São reais os perigos de acções aventureiras que levem o Mundo a uma catástrofe. Não devem ser subestimadas as cada vez mais frequentes notícias falando de planos norte-americanos para a utilização de armas nucleares no Iraque (Los Angeles Times, 25 e 26.1.03), de planos para futuras guerras contra o Irão ou a Síria (declarações do Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas dos EUA, Washington Post, 23.1.03) ou contra a Coreia do Norte (CNN, 19.1.03).

Perante estes perigos, é indispensável mobilizar a única força que pode travar os desígnios de guerra e dominação do imperialismo dos nossos dias. O dia 15 de Fevereiro será, sem margem para dúvidas, uma importantíssima jornada popular de luta pela paz em todo o mundo. Que Portugal não falte!



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